Descanse em paz em seu sofá

c-foto-p11Passado o dia dos professores, pensando no que ouvi e vi estes dias, e outras coisas nos últimos tempos, resolvi escrever um texto meu. A tempos só tenho traduzido e/ou reproduzido alguns artigos (mas sempre bons )no site.

Disse Jean Piaget: “Professor não é o que ensina, mas o que desperta no aluno a vontade de aprender.” Como professor de artes marciais sei que é uma verdade. Mas outro desafio é perceber quando você executou adequadamente sua tarefa e quando não; precisando avançar mais como instrutor. Mas não se engane ou fique triste instantaneamente quando você vê seus esforços como sensei não retomando a contento. Pode não ser você. Ou pode ser. Mas não julgue precipitadamente. Aprimore onde necessário, mas separe as coisas.

Muitas vezes você consegue seu intento maior. Despertou a vontade que Piaget fala. Mas se esta não é acompanhada de perseverança do indivíduo, nada acontecerá. Em tantos anos como praticante, e boa parte deles também como instrutor, tenho visto todo o tempo. Já vi muito; e continuo vendo. O que? Muito talento sem a perseverança necessária.

Por vezes os menos talentosos seguem em frente, enquanto outros ficam, pois a perseverança e dedicação é seu combustível.

Hoje me disseram mais uma vez, que os alunos de hoje enxergam em sua maioria, a aula no dojo como serviço. Não é de hoje. Talvez tenha sido sempre assim. Talvez tenha só piorado. Ou não. Mas com certeza não serão estes “contratantes de serviço” que chegarão em algum lugar que talvez sonhem. A não ser que mudem seus hábitos.

Quando vejo esse tipo de atitude me entristeço. Primeiro tento nesta hora achar meus erros no meu “papel inspirador’. Normal. É a tarefa que posso assumir para mim. Depois, constatando as perdas que se fazem de bons alunos. Mas não são minhas perdas na verdade. São do aikido. E são mais ainda perdas pessoais deles. Que as vezes eles mesmos não percebem. E pode ocorrer em diverso momentos. Até em um yudansha.

Na tarefa de ser artista marcial conquistei algumas coisas para mim. Coisas importantes. Para mim, fique claro. O que vim procurar verdadeiramente. Mas está longe de terminar, ou de ser muito, dentro do que considero muito. Mas estou caminhando.

Lamento então aqueles que ficaram, ou ficarão, ao longo do caminho, pela falta de perseverança e visão. Perdem muitas coisas e talvez nem tenham consciência disso. Mas pode ser melhor assim. Se não tem perseverança para continuar talvez seja melhor a ignorância, pois deve ser pior quando sabem o que perdem, e não conseguem avançar.

cropped-dsc00014.jpgEntendo talvez o que um antigo mestre, que tive oportunidade de conhecer entre alguns, disse em sonhar ter as vezes um pequeno dojo, ao invés da já grande organização que tinha. Talvez custeado por ele mesmo. Talvez onde todos treinem livremente e sem despender dinheiro. Sejam apenas alunos convidados. Assim não confundirão com um serviço prestado. E sim como algo que devem desenvolver para si mesmos.

Tem sido uma constante eu repetir boas historias. Não é ser repetitivo, mas enfático rs rs. Tenho guardado um baú de boas histórias para exemplificar, pontuar coisas que considero importantes.

Outra que lembro é que uma vez um ex-aluno que não treinava a uns 3 ou 4 anos, apareceu de repente no dojo; e viu um antigo amigo seu, ainda aluno, em uma graduação bem maior, acho que um yudansha. E ele na época de treino era mais graduado que este. Sempre foi um aluno muito bom e de evolução rápida inclusive, mas parou de repente. Olhou e disse com um ar de tristeza: “eu podia estar nesta graduação hoje…”

treino-3rios-0064.jpgEu apenas disse:  “Não. Seria mais. Faltou treinar apenas.” – disse eu; acho que até com um ar paternal. (pelo menos outro aluno que testemunhou, descreveu que falei desta forma)

Ele nunca mais apareceu infelizmente. Talvez não tenha gostado do que viu e/ou ouviu. Talvez tenha dito para ele ou outros, que não pode treinar por que está com joelho ou outra coisa doendo, que não tem horário… Ou até que o aikido não é bom, ou qualquer coisa que sirva de bengala emocional, para não admitir não ter a perseverança para continuar. Que um verdadeiro artista marcial ou pessoa de sucesso em um projeto precisa ter.

Mas no fundo, pelo seu olhar naquele momento que viu seu amigo seguindo em frente, ele soube. O despertar da vontade no seu amigo se somou a perseverança. E trouxe seus frutos. Quem perdeu foi ele. Uma pena. Descanse em paz em seu sofá.