Entrevista com Sensei Teruo Nakatani.

Teruo Nakatami Sensei - anos 60
Teruo Nakatami Sensei – anos 60

Texto extraído do site da associação martins de Aikido, que gentilmente autorizou a reprodução da entrevista. Para a justa divulgação da historia do aikido no Rio de janeiro dos primeiros tempos e da vida de Teruo Nakatami Sensei, introdutor do aikido em terras cariocas.

Transcrição da entrevista com Teruo Nakatani – Versão FINAL – 01-Maio-2014.
Entrevista realizada em 2009, quando Nakatani Sensei, aos 77 anos, estava em  Brasília-DF, por ocasião da entrega do 6o Dan para Martins Sensei.
Entrevistador: João Henrique Gaeschlin Rêgo // Filmagem: Giampiero Madaio // Transcrição do video: Mário Coutinho Jr.
Data e Local: ano de 2009 // QI 27 – Lago Sul – Brasília/DF
Data e Local: QI 27 – Lago Sul – Brasília/DF

1) Em que cidade o senhor nasceu?
Uryu
*NT: 雨竜町 [うりゅうちょう] Uryuuchou

2) É no interior do Japão?
Sim.

3) A quantos quilômetros de Tóquio?
Acho que mil, mil e poucos quilômetros. Fica no norte do Japão. Numa ilha. Mas, no Japão tudo é ilha, na verdade. A ilha maior é Honshu, depois ao norte é Hokkaido, a segunda ilha. A terceira, acho que é Kyushu.

4) Os moradores da ilha viviam da agricultura?
Ah, naquela época havia agricultura. Mas antes era caça.

5) Em que ano o senhor nasceu?
Em 1932.

6) Quando e como foi o seu primeiro contato com as artes marciais?
Comecei treinando Judo na época em que estava no científico. Naquele tempo, o Judo era a arte marcial mais comum. Na época do meu científico, a prática de espada estava proibida. Antes, treinava-se mais espada, Kendo. O Japão perdeu a guerra e as forças de ocupação proibiram a prática do Kendo. Por isso, o Judo era a única arte marcial popular.

7) O senhor treinou Judo e Kendo durante quantos anos?
Eu treinei Judo durante três anos. O Kendo foi por pouco tempo. Porque era proibido, né? Somente nos anos cinquenta que essa arte foi liberada, dez anos depois do fim da Segunda Guerra Mundial.3

8) Onde o senhor fez o científico?
Asahikawa. Asahikawa era base militar, do 7º Batalhão do Exército Imperial do Japão. Hoje é diferente.4

9) E como o senhor conheceu o Aikido?
Eu conheci Aikido quando entrei na faculdade.

10) O senhor fez faculdade em Tóquio?
Sim, em Tóquio. Foi no segundo ano de faculdade que comecei Aikido. Até então, eu treinava Judo. No primeiro ano de faculdade, eu ainda treinava Judo. Depois, ao praticar alpinismo em montanha, eu machuquei o ombro esquerdo. Então, não dava para treinar Judo. Eu praticava escalada, subia montanha, climbing.

11) O senhor chegou a praticar Karate também?
Eu praticava Karate, depois é que descobri o Aikido.

12) O senhor praticou Karate durante quanto tempo?
Não sei… Em um grupo de filosofia de tipo de Ioga, havia um pessoal que ensinava Karate. Dentro desse grupo, conheci Tada, que era 6º Dan de Aikido naquela época. Ele também fazia Karate. Eu conheci Aikido com ele e aí entrei.

13) Foi o Sensei Tada que lhe convidou para treinar Aikido?
Não, ele é que estava fazendo. Eu não sabia o que era Aikido. Aí fui lá, gostei e na hora entrei.

14) E como foi sua primeira aula?
Entre o Aikido de hoje e o daquela época há pouca diferença. Lembro que comecei, acho que foi no final do ano, quando é muito frio. Em Tóquio, chega a menos 2 ou 3 graus. Lembro que, em 1 hora de aula, o fundador falava do espírito por quase 30 minutos, então eu tremia de frio. Isso foi mais ou menos durante um ano e meio, depois ele não apareceu mais. Em seguida, o filho dele assumiu a turma. Aí, então, passei a dominar bem as técnicas.

15) O Sensei Kisshomaru substituiu o fundador nos treinos?
Não foi somente ele. Os principais alunos do fundador também davam aula. Era assim. Na segunda-feira era aula do filho, Kisshomaru. Na quarta ou quinta, aula do Tohei. Nos outros dias, quem dava aula era Tada, 6º Dan; Kobayashi, que era 3º Dan; e Tamura, 5º Dan. Cada um tinha seu horário de aula. A aula da manhã era de 6h30 e às 7h30. Era a primeira aula do dia. A segunda aula, eu acho que era das 8h às 9h. A terceira aula era às 15h ou às 14h.

16) Quanto tempo o senhor treinava por dia?
Uma hora por dia, à noite. Eu comecei à noite.

17) Aí, no último ano…
Eu treinava quase o dia todo. Como eu havia recebido o seguro-desemprego e não estava trabalhando, então eu treinava o dia todo.

18) O senhor pode nos explicar qual foi o motivo do recebimento do seguro-desemprego?
Por dois anos trabalhei para uma firma de plásticos que durante a guerra fabricava medidor de torpedo. O meu chefe era coronel, e ele controlava essa firma durante a guerra. Depois da guerra, ele entrou na firma como chefe de departamento. Aí trabalhei como subordinado dele. Na época, na minha faculdade Meiji, o meu departamento era meio de esquerda e tinha muitos professores de esquerda, gente de esquerda. E isso me influenciou bastante. Então, quando comecei a trabalhar na firma, não existia sindicato. Assim, eu e mais dois criamos um sindicato. Por ter criado o sindicato, eu não podia ficar mais na firma e não conseguia arranjar emprego por ter sido colocado em lista negra. Então, durante o tempo em que estava com o seguro-desemprego e procurando trabalho, eu treinava Aikido o dia inteiro. Sempre estavam lá o Tohei, Tamura, Kobayashi, Noro. Eu estava sempre treinando com essas pessoas.

19) Isso era no dojo central, no Hombu Dojo?
Hombu dojo, prédio antigo. Dojo antigo, eu acho que com uns 80 tatames. Dojo pequeno. Uma casa de madeira. Naquela época, essas pessoas sempre estavam lá. Havia Sugano, Chiba… Depois, mais tarde, entrou o Saotome. E Yamada também estava lá nessa época.

20) O Yamada era o seu contemporâneo?
Mais ou menos na mesma época. Ele era aluno também.

21) Durante quanto tempo o senhor treinou no Hombu Dojo?
Acho que foram cinco anos.

22) O senhor chegou a 3º Dan?
Não. Segundo.
*NT: Sensei Nakatani recebeu o 2º Dan em Tóquio e o 3º Dan no Brasil.

23) Naquela época existia exame?
Havia exame.

24) Era o Kisshomaru quem fazia o exame?
É isso aí. Era ele que fazia o exame, no dia marcado. Todo mundo ia lá e fazia demonstração. Aí ele que dava a nota.

25) O aquecimento, as práticas parecem com as de hoje?
Penso que não há muita diferença. Quase sempre havia ginástica de aquecimento, né? Acho que por cinco minutos mais ou menos, depois começava.

26) Eu queria que o senhor falasse um pouco mais sobre as aulas do Mestre Ueshiba.
Ele aparecia sempre de manhã, na primeira aula.

27) O senhor frequentou mais as aulas do período noturno?
Não. Eu iniciei à noite, mas, às vezes, eu ia à primeira aula. A primeira aula era sempre o criador que estava fazendo. Durante um ano, acho, ele que fez a primeira aula.

28) O que O-Sensei tentava transmitir para vocês?
Ele falava mais sobre filosofia.

29) Ele não praticava?
Não. Mais ou menos por meia hora, ficava falando coisas de filosofia, depois começava a treinar.

30) Ele comandava o treino sozinho?
Não. Naquela época, o assistente dele sempre era Tamura.

31) Como foi o começo do Aikido no Brasil?
Comecei o Aikido no Brasil por causa de Ogino, um professor de Judo. A academia dele era no Hospital dos Servidores. Era grande, acho que tinha quase cem tatames. Era muito grande.
Eu conheci Ogino, e ele me convidou para o seu dojo dizendo que eu saíra do Japão há quase um ano e que devia continuar a treinar para não esquecer o que aprendi. Então
comecei a dar aula na academia dele. Isso foi no final de 1961. Fiquei com Ogino nos anos de 1962 e 1963.
Depois, durante a revolução de 1964, eu acho que já estava com George Mehdi, não tenho certeza. Acho que fiquei dois ou três anos com Ogino. Depois, uma pessoa me apresentou a Geroge Mehdi do Judo na academia de Ipanema. Então ele me convidou para a academia dele e comecei a dar aulas. George Mehdi fazia muita propaganda para mim. Daí o Aikido se expandiu.6

32) No começo, lá no Hospital dos Servidores, quem eram os seus alunos?
Não me recordo de todos os nomes. havia poucas pessoas, uns sete ou oito alunos. Um deles vinha do Judo, apontado pelo Ogino para que fosse também o meu uke. Era um português de nome Lopes.

33) Seu primeiro aluno?
Havia várias pessoas, mas não lembro todos os nomes. O meu primeiro aluno foi Lopes, que era faixa preta de Judo. Ele era também o meu assistente (uke) quando eu mostrava a técnica.

34) Quando o senhor começou na academia do Mehdi, os alunos aumentaram?
Aumentaram. Várias pessoas.

35) O senhor lembra-se de alguns alunos que entraram naquela época?
A primeira lista se perdeu. Não sei onde está. A segunda lista eu deixei com Shikanai. Ele é que a tem.

36) Lembra-se do Guru?
É, havia Guru, George Prietman… Havia lista de presença que eu não estou achando. Não sei onde está. O problema são as cartas, várias cartas de Kisshomaru. Eu lembro que devem ser 20 ou 25 cartas de Kishomaru para mim.

37) Entre o senhor e Kisshomaru?
Ele sempre escreveu para mim, perguntando como eu estava etc., etc. E essas cartas e documentos acho que Adélio jogou fora depois que saí da academia da Barata Ribeiro, em Copacabana.

38) Todas as cartas? O senhor as deixou com ele?
Mais ou menos metade delas eu tinha em casa. Essas o Shikanai ainda tem. As mais antigas foram as que deixei na academia de Copacabana.

39) O senhor não tem mais essas cartas?
Não. Eu as perdi. E eu estou triste porque perdi.

40) O senhor as deixou com Adélio e Sensei Shikanai?
Não, não. Na academia de Copacabana, quando estava funcionando, todos os documentos do Japão estavam juntos lá. Também, durante dois ou três anos eu não conseguia encontrar o Adélio por causa do meu trabalho. Eu quase não ia lá à academia de Copacabana.

41) Depois da academia do Mehdi o senhor foi para onde?
Barata Ribeiro, em Copacabana. Na academia de George Mehdi acho que fiquei quatro ou cinco anos.

42) E na Praça da Bandeira?
Praça da Bandeira foi depois da Barata Ribeiro. Essa aula era mais tarde.
*NT: Fala do período, e não da localização geográfica.

43) A última academia que o senhor ensinou foi na Barata Ribeiro?
Na Barata Ribeiro. Na Praça da Bandeira, eu acho que eu ia lá uma vez por semana, por causa do trabalho. Naquela época meu trabalho era muito complicado, então eu não podia ir ao Aikido.

44) E quem o ajudava nas aulas?
Naquela época era Adélio. E outro era Pompílio, que também aJudou um pouquinho. O Adélio tinha uma loja na frente da academia. Por isso que ajudava. Porque outra pessoa não havia. E por isso chamei Shikanai, pedindo ao Kobayashi para mandar alguém.

45) Em que ano parou de dar aula?
Acho que no meio do ano 73. Já estava afastado das aulas.

46) O Adélio não era faixa preta?
Sim. Já era faixa preta.

47) O senhor foi para o Japão para procurar um substituto?
Sim. Pedi para Kobayashi. Kobayashi era da minha mesma faculdade.

48) Quem o Sensei Kobayashi mandou?
Kobayashi escolheu Shikanai. Aí quando ele, Shikanai, chegou, entreguei a academia na hora, daí quase não fui mais à academia.7

49) E os seus alunos continuaram treinando também?
Sim. Continuaram treinando.

50) E por que o senhor não escolheu um aluno para ser seu substituto?
Não havia pessoa disponível para ensinar. Todo mundo tinha trabalho, cada um tinha seu negócio. Pessoa livre, possível, era muito pouca gente. O único acho que era Adélio. Outro era Pompílio, que acho que estava aposentado. Só esses. O restante não tinha condição para ensinar. Não era falta de capacidade para ensinar, não. As pessoas trabalhavam, cada um tinha seu negócio. Então não tinham condições de assumir uma academia.

51) Fale um pouquinho do filme que o senhor foi convidado para fazer. Quem eram os seus alunos que lhe convidaram para fazer o filme?
Naquela época, o diretor do filme era Roberto Farias. O irmão dele é Reginaldo Farias. Reginaldo Farias acho que era 1º Kyu. Então, devia fazer mais ou menos dois anos que ele estava treinando.

52) Foram eles que o convidaram para fazer o filme?
Não. No filme era, como se diz, para eu ensinar espada, primeiro, para o artista. Depois eles me colocaram no lugar dele. O coitado do ator foi mandado embora. Eu nunca fiz teatro.8

53) Como é que foram as filmagens? O senhor viajou para filmar?
Eu fui a Israel. A vantagem é que por dois meses eu viajei pela Europa, só.

54) O senhor gostou de filmar?
Sim. É outro tipo de trabalho.

55) Como é que o senhor conheceu o Sensei Martins?
Ele entrou na turma da Praça da Bandeira quando várias pessoas do Banco do Brasil se matricularam. Havia algumas delas na Barata Ribeiro (Copacabana), mas a maioria estava na Praça da Bandeira. Montei outra turma por sugestão de Pompílio. Mas eu não podia ir. Então perguntei aos alunos quem poderia ir. Guru disse que podia. Então deixei com ele. Naquela época eu já tinha firma e não tinha condições para ensinar Aikido.9

56) O seu primeiro aluno que se tornou faixa preta foi o Guru?
Sim. Depois de Guru acho que foi o Carlos Infante. Depois, acho que Eduardo, e depois entraram Marcus e Paraguassu. Depois vários outros entraram.

57) Os exames eram na academia?
Sim.

58) Por que o exame do Sensei Martins foi realizado em Campos do Jordão?
Foi um Gasshuku. Vários fizeram exame ali.

59) Era um Gasshuku conjunto com sensei Kawai?
Sim.

60) Foi o Sensei Kawai quem organizou esse Gasshuku?
Sim. Ele quem convidou, porque era em São Paulo.

61) Por que o senhor parou de treinar Aikido?
O motivo foi meu trabalho. O trabalho não dava condição, porque até sábado e domingo eu tinha trabalho. Era obra em construção civil. Então, às vezes trabalhava sábado e domingo. E às vezes até de noite. Esse foi um motivo. Outro motivo foi que começou o reumatismo a voltar, no joelho direito. Então, com dor no joelho não dá para dobrar, para sentar, não dá para ficar de seizá. Esses dois motivos eu lembro.

62) O senhor sentiu falta dos treinos?
Ah, eu senti falta! Eu tinha 40 anos de idade. Agora já faz quase 40 anos desde que parei o Aikido.

63) Quais os conselhos que o senhor daria para os alunos de hoje?
Hoje, tem que ser um tipo de esporte para a saúde. Saúde para, quando ficar velho, poder continuar. Não é para forçar. Suave. Quando ficar velho tem que ser suave para continuar. Isso aí é bom.

64) Qual a importância de se treinar o suwari-waza?
Isso aí. É importante o suwari-waza para fortalecer o quadril, que é o principal. Várias pessoas não gostam, mas o principal é o quadril. Para fortalecer isso aí, é boa ginástica o suwari-waza.

65) Quais as técnicas que devem ser mais praticadas?
Tá tudo na forma, mas importante é continuar. No meu caso, o joelho não dava para sentar. Então, para a pessoa que ensina, se não pode sentar, não dá.

66) Qual o conselho que o senhor nos daria para nós transmitirmos para os nossos alunos?
Isso aí eu não sei como é. Penso que hoje a gente tem que fazer pela saúde. Saúde é importante para a ginástica ou alguma coisa. Então, às vezes fazer ginástica sozinho não é interessante. Então, com os dois parceiros combinando, um joga, depois o outro joga. Isso aí é boa ginástica.

67) O senhor acredita nos ensinamentos do mestre Ueshiba? Essa ligação do lado material com o lado espiritual que o Aikido proporciona?
Ele falava mais do corpo humano, como é ligado com Deus. Por isso é sempre o pensamento mais importante, o pensamento de como se usa o corpo. Isso ele falava muito.

68) O senhor acredita nisso?
Acredita em quê? Tem que acreditar, né? Porque ele, o Fundador, naquela época, como artista marcial, era muito forte também. E isso aí não é só o pessoal do Aikido que fala. Outros, lutadores de Kendo, lutadores de Karate, várias pessoas o respeitavam. Por isso, algumas pessoas falam que a única pessoa que conheceu Aikido foi somente ele. O corpo dele era completamente fora do comum.

69) Existiam práticas complementares aos treinos? Vocês treinavam no mar, nas cachoeiras?
O treino na cachoeira descende de Buda. Buda treinava no frio para o espírito ficar mais forte. Com isso, embaixo de cachoeira, treinamos o espírito também. Veio daí.
O treino no mar, acho que o primeiro que iniciou isso foi o Karate. O Karate que chuta dentro do mar. O mar é muito forte, não dá para… Esse treinamento começou, acho que foi o sul do Japão que começou isso. Aí aumentou, e várias lutas começaram também.

70) O senhor treinava exercícios de respiração e de ki?
Sim. Ki e respiração. Falava-se muito isso também. O criador sempre falava isso aí.
 
71) Da outra vez que esteve aqui, o senhor me contou que, naquela época, na sua cidade, vocês não tinham médico e que, se alguém se machucasse, vocês sabiam fazer massagens?
O lugar em que nasci é uma cidade de seis mil habitantes, mais ou menos. Não tinha médico. Este dedo [mostra o dedo indicador que perdeu uma falange] também daria para salvar, mas não havia médico. Se houvesse médico, salvaria o dedo. Isso foi na época de criança, quando o acidente ocorreu.

72) E se alguém se machucava no treino, como é que vocês faziam?
Isso aí o pessoal do Judo sabe mais ou menos.

73) Era o Shiatsu que vocês faziam?
Não, não. Curar osso, consertar osso. Às vezes é este osso que sai [mostra a articulação do cotovelo]. O pessoal do Judo sabe colocar no lugar.

74) Há mais alguma coisa que o senhor queira dizer?
Sim. Só das datas que não estou bem certo. Porque cheguei em 1960, né? Foi em 6 de novembro de 1960, isso aí é certeza. Depois do primeiro carnaval, vim para o Rio, por causa de mudança. Depois, acho que no fim do ano ou início do outro ano, por aí… Estava quente naquela época em que comecei a ensinar Aikido na academia.

75) Então o senhor começou a ensinar em 1961? Final de 1961?
Em 1961 ou início de 1962. Depois de um ano, eu comecei.10

76) Está muito bom, Sensei. Muito obrigado pela entrevista. As suas palavras são muito importantes para a memória do Aikido.

entrevista_nakatani1 João Henrique Gaeschlin Rêgo é brasileiro, carioca de nascimento e brasiliense de coração. Formado em direito pela UnB (1994), é atualmente servidor público. Pratica Aikido desde 1992. Seu professor de Aikido sempre foi Martins Sensei. Atualmente é 4º Dan de Aikido Aikikai.
 
2 A transcrição original passou por algumas adaptações de linguagem – grande parte delas já sugerida desde a primeira versão, como notas de interpretação à transcrição literal – a fim de que a leitura ficasse mais fluida, com o cuidado de não incorrer em perda ou distorção das falas e informações constantes da entrevista. Além disso, mantivemos nesta versão várias notas referentes a dados históricos criteriosamente pesquisados pelo Sr. Mário Coutinho.

3 – O Japão, quase dois anos antes do início da 2ª Guerra Mundial já estava na sua 2ª Guerra Sino-Japonesa, que começou oficialmente em 7 de Julho de 1937, com o Incidente da Ponte Marco Polo. A 2ª Guerra Mundial começou oficialmente em 1º de Setembro de 1939, quando a Alemanha Nazista invadiu a Polônia.

– Na tarde do dia 15 de Agosto de 1945 (horário japonês), o Imperador Hirohito anunciou a rendição incondicional do Japão pelo rádio. Esta data é conhecida como o Dia da Vitória sobre o Japão e marca o fim da 2ª Guerra Mundial.
– Em 8 de setembro de 1951 foi assinado o Tratado de Paz de São Francisco, que marcou o fim da ocupação pelos Aliados, e após sua ratificação, em 28 de abril de 1952, o Japão voltou a ser um Estado independente.
– A 2ª Guerra Mundial durou quase 6 anos. Mas para alguns japoneses pode parecer mais longa, pois o país já estava em conflito com a China bem antes.
– O período no qual houve a proibição da prática de várias artes marciais durou quase 7 anos. A prática de Kendo foi liberada oficialmente em 1952, quando sensei Nakatani estava com 20 anos de idade. A 2ª Guerra Mundial terminou em 15 de Agosto de 1945 (quando sensei Nakatani tinha 13 anos de idade, aproximadamente).

4 O 7º Batalhão ficou em Asahikawa 旭川市(あさひかわし) até Março de 1944. Localiza-se ao norte de Asahikawa, em Hokkaido, o aeródromo militar do exército japonês, denominado Asahikawa Air Field (ICAO: RJCA).

5 Tada Sensei começou Aikido na Aikikai em 4 de Março de 1950 (aos 20 anos de idade), quase 5 anos após anúncio da rendição incondicional do Japão às Forças Aliadas das 2ª Guerra Mundial. Dois anos depois que as forças de ocupação deixaram o Japão, Tada Sensei tornou-se instrutor na Aikikai em 1954 (aos 25 anos de idade). Em 1957 ele foi promovido para 6o. Dan (aos 28 anos de idade). Com 40 anos de idade, em 1969, Tada Sensei foi promovido para 8º Dan.

6 Notícia: George Mehdi lança Aikido no Brasil (Jornal do    Brasil, em 26/02/1965).

7 Passou a academia, imediatamente, ao sensei Shikanai, no instante que ele chegou ao Brasil, em junho de 1975.
 
8 O filme é Roberto Carlos e o Diamante Cor de Rosa, de 1970. Sensei Nakatani tinha aproximadamente 38 anos de idade.

9 Nakatani, num curto período, tinha duas turmas contemporaneamente: uma na Barata Ribeiro e outra na Praça da Bandeira, mas nesta era Guru o encarregado. Nessa nova turma, sensei Nakatani ia, às vezes, uma vez por semana.

10 Nakatani Sensei recorda bem a data de sua chegada no Brasil, 6 de novembro de 1960. Essa data é confirmada pela lista de passageiros do Vapor Holandês BOISSEVAIN, que aportou em Santos trazendo-o do Japão/Yokohama. Mudou-se para o Rio após o carnaval de 1961.