Superando. Evoluindo.

DSC_9886Um texto que escrevi em 2008 com alguma repaginação. E ainda super atual. Vamos a ele:

Em cima de uma ideia de um texto que li em algum lugar, eu escrevi este. Era só para complementar algumas coisas, mas mudei tanto, coloquei tanta coisa diferente, que virou  outro texto. Com o aikido é assim também depois de um tempo: A mesma receita dá outro sabor.
Espero que gostem. Espero que o paladar de vocês apreciem “o gosto deste texto”.

 No AIKIDO, regularmente, são realizados exames para que cada um de seus participantes nos  mais diversos níveis executem suas técnicas para atingirem um estágio superior, prática comum acredito eu, em todas as artes marciais modernas.
Quando são verdadeiramente dedicados, os alunos atingem um bom resultado. Eles tem a confiança baseada no trabalho duro. Em cima de metas determinadas individualmente por ele e pelo professor.
O interessante disso é que, por mais que conheçamos sobre determinado assunto, quando este é posto a prova, nós nos sentimos desafiados e aí surge o temor, o nervosismo e a ansiedade… …isto ainda com um sentido de se ter a responsabilidade de fazer bem feitos os movimentos que  determinarão o aparente sucesso ou fracasso de todo o treinamento realizado. Queremos ser bem avaliados, muitas vezes por nosso orgulho ou muito vezes pela gratidão que temos com nosso Sensei. De mostrar retorno a tudo que ele nos tentou passar. Alguns Sensei merecem, outros não, é verdade. Alguns praticantes são agradecidos outros não.
Mas será que estamos preparados para o caminho que virá? Muitos vão tomar conhecimento do problema depois que de fato ele existir. Não querem sofrer por antecipação. Eu estes dias falei a um aluno que somente até a faixa verde, eu pensei ainda no exame como uma meta a ser alcançada. Depois, (até por que este demorou por problemas profissionais), eu aguardei a azul sem mais pensar se iria chegar ou não. Apenas treinando. Fazendo o que gosto. Na hora que o professor chegava e dizia: Vamos treinar para o exame, eu pensava então: Tá bom, o que tenho dúvida? Vamos lá… O processo, não o produto. Entretanto a verdadeira dedicação é necessária..
Existe o outro lado: A pessoa encara o treino como uma ginástica laboral, aula de aeróbica, ou algo despretensioso qualquer. A arte marcial exige mais que isso pois é mais complexa e de maior resultado também em sua vida normalmente. Essa visão é muito simplista.
Outros ficam com medo de se machucar e dizem: “Eu vou mais devagar, não vê estes mestres e graduados como estão todos machucados, com problemas nos joelhos etc?” Só tem um detalhe: Nem sempre acontece, muitas vezes não. E qual a atividade física que não tem risco e deixa algum risco ou sequela possível? Me lembro da palestra do nosso Oscar, do Basquete, que disse: Só minha esposa é que sabe como acordo de manhã e que dores carrego pelo treino constante durante tantos anos… Entretanto todas adoram quando eu estou nas quadras, apareço na mídia, ganho títulos para o Brasil.. As pessoas gostam muito do glamour, mas do trabalho árduo quantas estão dispostas? Quantas pessoas sentaram para assistir aulas e quantas chegaram para treinar, super entusiasmadas, mas ao ver o quanto tem que se dedicar acabam arrefecendo? Algumas após um mês, após um ano, dois… … ou quando chegam na faixa preta.
Repito sempre: Aikido está disponível para todo mundo, mas não é para todo mundo. Aumentando a abrangência: Arte Marcial, em linhas gerais, é disponível para todo mundo, mas não é para todo mundo. Ou mais ainda: PERSEVERANÇA está ao alcance de todo mundo… Mas não é para todo o mundo! No final, o caminho de tudo, arte marcial e outros, passa pelo nível de perseverança. Isto determina vencedores e vencidos. Não falo em relação a um ou outro mas em relação a vida.

 A QUESTÃO DA REFERENCIA:
Muitas pessoas ainda não têm consciência de que, quando se gradua em uma arte marcial ou em qualquer atividade, nós nos tornamos uma referência, passamos a ser avaliados constantemente e de forma diversa, sejam por nossos pares ou por aqueles que virão posteriormente. A cobrança, principalmente para aquele que ensina é exaustivamente testada nos mais diversos níveis, sejam estes técnicos ou teóricos, o que obriga o praticante a se preparar mais e mais, fazendo dele um eterno Sensei e Sempai de si mesmo. Espero que me entendam.

 E quando este resultado não é atingido, como nos portaremos? Já vi pessoas que abandonaram tudo, outras ficaram inconformadas transferindo a culpa de seu resultado para outras
pessoas. Algumas começam a treinar de forma semi-motivada e algumas, com mais tranqüilidade, absorveram o resultado e buscam polir as arestas. É interessante que o fator “reprovação” esteja presente, nem que dentro de nós mesmos, e seja uma constante na vida do praticante. Ser melhor a cada dia e ajudar outros a se desenvolverem se faz necessário para o desenvolvimento marcial, pois polimos o nosso espírito nas dificuldades, nas agruras de um treinamento. Meu professor dizia, e sempre repito, para chegar ao paraíso é preciso passar pelo purgatório. Alguns alunos acham o treino forte, pesado, mas não tem ideia do que já passamos e como isto determina o bom praticante e o praticante não tão bom… E é interessante que também são estes muitas vezes aqueles que admiram tanto a técnica dos grandes shihan, sem ter a mínima vontade de passar pelo 1/3 do treino que eles passaram. Como os fãs do Oscar que querem ser eles sem passarem pelos dores e sacrifícios de um treino…

 SUPERAR LIMITES:
Aprendemos a superar os limites vencendo inicialmente a nos mesmos, encarando nossas fobias e desafiando as nossas preguiças e dificuldades. Por quantas vezes, quando chega a hora de ir para a academia, nos sentimos aquela preguiça, pensamos “ah, só faltarei hoje, que mal fará?”, ou, “será que vou ter que repetir aquela técnica novamente?”, (como se o praticante a domina-se perfeitamente). Outra versão é aquele que não vai a seminário pois acha, (ou diz, como forma de desculpar-se a si mesmo) que tudo é igual.
Alguns não gostam de técnicas de armas ou de determinada técnica Tai jutsu, pois acham que já sabem. Tenho, e tive, muitos alunos que acham que é só uma coreografia a ser executada com velocidade. E você que conhece um pouco mais a estrada olha por um outro do aspecto: É como se visse um jogador de sinuca profissional e um amador lado a lado em uma mesa: Os instrumentos, técnicas são as mesmas, mas a precisão e a efetividade são algo muitas vezes tão dispares como o mar e a montanha. Enfim, começamos superando em nossa mente estas pequenas dificuldades de entendimento, que se não superadas se tornarão grandes, transformando-se em um obstáculo ao crescimento. Uma das primeiras ações é acorrentar o ego.

 Os nossos limites são estabelecidos por nós mesmo. Pelo controle do ego, pela perseverança e no conhecimento interno, dosando empenho com maestria e racionalidade, superando cada obstáculo, sorvendo o conhecimento adquirido com tranquilidade e sabedoria. Acatando nossos limites, mas sem indolência. Sendo verdadeiramente sinceros com nós mesmos e com a arte. Que é difícil, mas tem muito o que nos oferecer.

 Está frio e chuvoso. Muitas faltarão por causa da chuva. Ficarão em casa vendo VIDEOS, Talvez um VIDEO de luta; ou um jogo de basquete na TV a cabo, quem sabe? “Há se luta-se assim…” “Há se joga-se como esse cara.. Como ele faz isso!?” A resposta está no dojo, na quadra ou onde quer que voce pratique de forma verdadeira para alcançar o próximo nível, mais do que faixa, mais do que medalha, de vida.

 Walter Amorim imagem

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