Estação do ano, número de caracteres e situação do nascimento são fatores avaliados na hora da escolha
(Reportagem: Yoko Fujino/NB)
Akiko, Michiko, Hiroshi, Kenji… mesmo depois de gerações vivendo no Brasil, os nikkeis ainda gostam de dar nomes japoneses a seus filhos. A maioria já não domina a língua dos ancestrais, porém se preocupa em perpetuar sua origem. Com tantas gerações e miscigenações entre brasileiros, muitos nikkeis, que não carregam mais um sobrenome japonês, optam por colocar uma “marca” japonesa no prenome.
O sansei Mario Nakajima não tem prenome japonês, mas o deu aos três filhos: Hitomi, Kenji e Kenzo. “Escolhemos os nomes por meio de pesquisa com parentes e amigos. O nome da minha filha, Hitomi, foi escolhido pelo significado: menina dos olhos”, explica o sansei. Recentemente, Mario recebeu uma boa notícia: a chegada da sua neta. Seu filho e a nora resolveram dar uma “estampa” japonesa para esse futuro bebê também. “Gostei muito quando me contaram que a minha neta vai se chamar Manuela Harumi. Penso que de alguma forma temos que manter um elo com nossas origens”. O filho, Marcelo Kenzo, explica que gosta de seu nome japonês desde criança, e isso influenciou na decisão. Outro fator foi a vontade de passar à sua filha o legado japonês: “Tenho o desejo de transmitir um pouco da cultura japonesa adiante, já que aqui no Brasil, devido à mistura de raças, as características físicas vão se perdendo de geração em geração”.
A escolha
A forma de escolher um nome no Japão é bastante variada. O mais comum é associar um ideograma que seu filho vai carregar pelo resto de sua vida com eventos da natureza ou acontecimentos no momento do nascimento, como nome de flores, estação do ano. Outros já preferem “imprimir” no nome qualidades que eles desejam para seu filho. Há também nomes inspirados em religião ou personalidades. Assim, uma criança que nasceu num dia de neve (yuki, em japonês) pode receber o nome de Yukiko, se menina, e Yukio, se menino. Para saber o significado, basta ver com que ideograma ele é escrito.
Modismo
Os pais não podem criar nomes só a partir de sua vontade: a legislação japonesa determina que prenomes só podem usar hiragana, katakana, alguns sinais linguísticos e de uma lista de 2.928 ideogramas. Essa lista passou por revisão recentemente, e ideogramas como “ichigo” (morango) hoje podem ser usados para compor prenomes.
Os nomes japoneses também passam por modismos. Anualmente, é divulgada pela seguradora japonesa Meiji Yasuda, a lista dos 100 nomes mais populares de meninos e meninas que nasceram naquele ano. O levantamento é feito com base nas novas inscrições de apólices feitas pelos segurados. A lista traz os nomes mais populares desde 1912, possibilitando notar os modismos ao longo de quase 100 anos: nomes como Isamu (coragem) e Masaru (vencer) eram mais populares na primeira metade da década de 1940, quando o Japão estava em meio à Segunda Guerra Mundial. Já em épocas de paz, nomes que fazem alusão a características mais sociáveis como Yuu (carinho) e Makoto (verdade, sinceridade) são mais populares, tanto para meninos como para meninas.
Acontecimentos históricos também marcam os nomes: em 1927, ano seguinte à ascensão do imperador Showa, três dos dez mais populares nomes entre meninos continham o ideograma “sho”. No ano seguinte, o mesmo ideograma só aparece em um nome entre os dez mais populares, no mesmo ranking.
Outro modismo recente é a ausência do ideograma “ko” (criança, filha) no nome das meninas como Yui, Nanami, Hina, Yuka, Misaki, Sakura.
Número
Um fator que muitos japoneses levam em consideração na escolha do nome é a quantidade de traços usados na sua escrita. A soma dos números de traços dos ideogramas do nome e do sobrenome pode caracterizar um futuro bom ou ruim para aquela pessoa. É comum pais e avôs consultarem numerólogos e especialistas em nomeação. Existem também softwares e sites que ajudam os pais a compor nomes de acordo com o número de traços desejados. Quando o nome desejado, combinado com o sobrenome, não dá um número bom, troca-se o ideograma por um outro com sonoridade semelhante, até chegar a um número desejado.
Nomes japoneses podem também conter ideogramas de números como 1, 2 e 3, para reforçar a ordem de nascimento dos filhos. O primogênito seria Ichiro ou Kazuo, e o segundo filho homem seria Jiro ou terminações em ji (dois), como kenji. O terceiro, Saburo, e o quarto, Shiro. Mas essa forma de nomear caiu em desuso porque os casais já não têm filhos em número suficiente para enumerar. Esses mesmos nomes podem ser grafados com ideogramas de outro significado.