Treino Buki Waza

Conforme planejado, foi realizado hoje nosso treino de armas na Floresta da Tijuca. O retorno do trabalho foi muito positivo, pois tivemos grande presença e estes presentes em geral manifestaram a satisfação no desenvolvimento da aula. Já pediram que seja marcado o próximo encontro. O que foi feito ainda no local.
O treinamento de Aiki Ken e Aiki Jo, outros trabalhos de Jo e Bokken, levam a um aumento da compreensão da distância de Ma-ai, posicionamento, centralização do corpo, entre muitas outras. Este modelo de treinamento desenvolve boa postura e fortalecimento dos braços e ombros que em contra-partida ajudam na execução das técnicas de mãos vazias (Tai Jutsu).

DO – O CAMINHO: DISCIPLINA , GRATIDÃO E COMPROMISSO

O do é o caminho, a senda reta que outros percorreram antes e nos transmitiram sua experiência em forma de um ensinamento.
…entendemos que é necessário afastar a mente de possíveis más interpretações; em primeiro lugar, a prática do do, o caminho, implica obviamente uma disciplina. Mas esta palavra pode despertar certas associações que não correspondem à realidade da prática. Não é a disciplina da rigidez própria de alguns costumes militares, nem reside no fato de cumprir algumas normas que a pessoa não compreende, nem se trata de uma exigência disciplinar externa. Incumbe a disciplina no sentido mais simples e essencial do termo, porque a palavra disciplina deriva claramente de discípulo , marcando a atitude que lhes é própria. A disciplina é a atitude daquele que quer aprender e o Aikido é um eterno aprender a aprender. E para aprender, assim como para desenvolver qualquer atividade proveitosa, é necessária certa ordem, do mesmo modo que se faz necessário manter um escritório ordenado para que a atividade possa fluir agilmente. No Aikido levamos à prática uma disciplina interna e isso significa uma disciplina da pessoa com ela mesma. Não se trata de exigir disciplina do outro como ocorre em algumas educações tergiversadas, nas quais o superior exige disciplina do inferior, mas ele mesmo não a tem. Trata-se de poder chegar a ser- por assim dizer- amo de si mesmo, de autodisciplinar-se mediante o desenvolvimento da prática marcial.

… O do também se fundamenta no compromisso.
O verdadeiro significado do compromisso converteu-se infelizmente em algo bastante estranho para a mentalidade reinante atual. Não obstante, sentimos que toda pessoa que conserva sua dignidade sabe, em uma parte de si mesma, que o compromisso é essencial. Na perspectiva da cultura japonesa, o compromisso está ligado ao hara , ao centro físico e espiritual da pessoa, que se situa no abdômen. Aquele que atua a partir do hara se compromete com suas entranhas em toda ação que empreende. Mas se tomamos a ação mais exemplar do compromisso, a de dar nossa palavra, observamos que a palavra verdadeiramente sentida é dita a partir do hara , não movida por um capricho do momento. Por isso, no Japão se diz que antes de dar a palavra, deve-se pensar três vezes com o hara, isto é; o compromisso não pode surgir como um fruto de um pensamento isolado, de um sentimento passageiro.
… Insistimos nesse ponto porque entendemos que é vital compreender o fundamento de uma ética prática da dignidade humana: em cada fato em que dou minha palavra, comprometo o profundo do meu ser- o meu hara- e o gravo a fogo em mim mesmo. Cada ato põe em jogo a minha integridade… se a palavra está dada, envolve a integridade da pessoa. Por isso não se deve acostumar a mente a dar uma palavra que depois não será cumprida. Assim, deve-se diferenciar a mera conveniência daquilo que significa o compromisso autêntico… Quando se empenha a palavra, deve-se agir em conseqüência. Contudo, ocorre muito habitualmente que, depois, surge alguma oportunidade de algum trabalho ou de maior prazer e deixa-se o compromisso de lado. Assim se faz o conveniente, mas se esquece o mais importante: a palavra empenhada. Com a repetição, essa modalidade produz um costume. A mente aprende a dar palavras que não cumpre e o hara se debilita, a integridade se deteriora.
Por esta razão, a conveniência individualista é contrária ao movimento do do , do caminho que conduz ao crescimento… Quem percorre o caminho do Aikido, de toda verdadeira arte marcial ou caminho espiritual, tem que pôr seu ser inteiro. Quando isto é feito, compreende-se o que é compromisso e age-se responsavelmente em conseqüência.
… Ocorre muitas vezes que uma pessoa começa a praticar e me diz emocionada: “O Aikido mudou minha vida, estou muito agradecido”, mas com o tempo, frente à primeira dificuldade, deixa de praticar. Onde ficou aquele agradecimento?! O que se fez daquele desejo inicial que parecia invencível?! Quando isso ocorre, percebe-se a falta de compromisso.
É preciso que se entenda que esse comprometer-se no do é uma obrigação que se toma para si mesmo. Quando realmente é assim, o compromisso leva à superação das próprias limitações, à evolução.
…Se não se agradece e não se mostra com ações concretas o compromisso, não se demonstra respeito por aqueles que lhe beneficiaram com o ensinamento: corta-se o teu caminho e desonra-te a ti mesmo.
A observância da disciplina, do agradecimento e do compromisso te fortalece, mantém-te no do, assim te tornas parte dele e encontras teu próprio caminho.

Por Que Brigam os Pit Boys ?

Por Que Brigam os Pit Boys ?
Por Luiz Magãlhaes.

“É um equívoco associar os “pit boys” ao jiu-jitsu, conforme lemos com freqüência nos jornais. Os atletas são disciplinados e não procuram confusão. Além do mais, o jiu-jitsu é um “jogo de xadrez”, prevalecendo a inteligência sobre a força. Portanto, minha solidariedade aos milhares de adeptos brasileiros do jiu-jitsu que amam a prática esportiva desta modalidade.

Na base das chamadas artes marciais japonesas estão a disciplina, o bom-caráter e a gratidão. Eu diria que há mais duas qualidades essenciais: bom humor e humildade. Só a arrogância é capaz de eliminar a vontade de aprender e a procura por autoconhecimento. Com arrogância, partimos para o confronto como instrumento de compensação, transformando o medo em violência.

Será possível entender esta questão de violência sob a ótica das leis naturais ? Acho que sim, mas não é fácil entender o universo. É como a arte marcial: não precisamos entender, apenas praticar. Não é preciso decifrar o universo, basta participarmos dele. É isto, trata-se de “praticar o universo.” Se é requerido de nós esvaziarmos a mente para a prática da arte marcial, o mesmo se aplica à natureza. Em ambos os casos a condição indispensável é a paz de espírito, que acaba se expressando através da bondade no processo de integração de espírito e matéria. Quando isto acontece criador e criatura se tornam um só. A solução é simples. Apenas diferem os Caminhos: taoísmo, budismo, psicanálise e por aí afora…

Desde que comecei a praticar Aikido, ouço os professores dizerem que precisamos nos alinhar com o ataque, harmonizando-nos com a natureza. E somos estimulados a aplicar este conceito à vida diária. E que a prática inclua o ingrediente mágico: o bom humor – coadjuvante eterno da sabedoria e da inteligência. Aikido é isto: dar respostas positivas, criar vibrações positivas

O processo de harmonia começa com as nossas próprias palavras. Já perceberam que os pensamentos são feitos de palavras? Portanto, é vital colocar “uma sentinela à porta da mente” para escolhermos palavras positivas.

No caso específico do Aikido, treinamos sentimento, respostas positivas no sentido da resolução pacífica dos conflitos. Nosso objetivo é alimentar com vibrações positivas a energia universal, mantendo o corpo e o espírito livres para que se harmonize com as leis da natureza. A inteligência e a sabedoria atuam na medida em que controlamos o que está ao nosso alcance imediato: logo em seguida o bom humor entra em campo com as palavras construtivas e as conseqüentes vibrações positivas. Direcionamos isto ao universo, que sempre responde ao que estivermos produzindo. No Caminho do Aikido isto se chama “sentimento de Kokyu” – em perfeita harmonia com a energia universal.

É justamente o lado oposto da equação – a falta de harmonia – que gera violência, fragmentada pelos diversos grupos. Não somente os pit-boys da classe média, mas os “skinheads”, as gangues de subúrbios e os maus-elementos infiltrados nas torcidas organizadas. A lista é imensa. Todo dia, um grupo novo inaugura uma modalidade diferente de ódio e violência, através do espancamento de prostitutas, mendigos ou homossexuais. Nas delegacias de polícia os depoimentos são sempre os mesmos: espancaram “porque tiveram vontade.”

“Por Que Brigam os Pit Boys ?” Bem, a violência tem múltiplas causas. Logicamente, os atos de barbarismo não estão confinados aos grupos já citados. Estudos médicos indicam que o comportamento violento pode estar relacionado a disfunções do cérebro, à predisposição genética, fatores ambientais e histórico familiar. Dizem alguns especialistas que é possível intervir, quando fatores violentos são identificados na infância. Enfatizam que é necessário tratamento, porque alguns transtornos de conduta evoluem para quadros mais graves. Enquanto escrevo, escuto a apresentadora da Band News anunciar as notícias da hora: “Motorista morre em briga de trânsito em São Paulo. No Rio, pedestre é agredido por motorista com barra de ferro.” No Brasil são as barras de ferro. Nos Estados Unidos, eles usam os famosos tacos de baseball. Portanto, fica a advertência: não se briga no trânsito, ou melhor, não se discute. Vamos que do outro lado da contenda tenhamos um psicopata, um criminoso, um “serial killer.” Todo o cuidado é pouco. Evite brigar no trânsito!

Bem, perto de tudo isso que já explicamos, os pit boys são uns anjinhos mal compreendidos. Essa rapaziada tem um perfil bem claro. Buscam emoção fácil, são individualistas, preconceituosos, não suportam raças diferentes ou de outra condição social. É muito fácil, portanto, arrumar briga em casas noturnas, bares, estádios de futebol, etc. O estopim da agressividade é de fácil combustão, diante de uma demanda natural por violência, produção farta de testosterona, e falta de disciplina para manter a adrenalina em níveis toleráveis.

Certa vez ouvi de um praticante graduado de Aikido, que não houve alternativa para resolver o conflito. Uma banda de “rock” se apresentava na PUC, no Rio. Ele assistia ao show com a namorada, quando chegaram os “pit boys.” O líder do grupo começou a empurrar com violência e jogou a namorada do nosso colega ao chão. A resposta foi imediata, tipo reação medular: a técnica de defesa foi “irimi nague:” entrada rápida na direção do atacante na altura do pescoço – o “pit boy” caiu de costas e “apagou.” A resolução não foi pacífica, mas não havia alternativa e o protocolo do Aikido” permaneceu intacto.

No aikido não deve haver guerra de egos!

Quando praticamos o aikido não disputamos com o companheiro de treino apenas estudamos com ele. Na prática existe o Nague que aplica a técnica e o Uke que a recebe, então, hora o praticante é o Uke, hora Nague, e sempre invertendo esses papéis os praticantes tomam o máximo de cuidado uns com os outros, pois dizemos que estamos emprestando o corpo ao outro praticante quando somos Uke e quando você empresta algo, devolve da mesma forma que pegou.

Como no Aikido não existe a competição não há essa guerra de ego de um querer ser mais que o outro, todos somos iguais em um dojo de Aikido a única diferença está no tempo de treinamento, onde cada um tem seu limite e motivo para praticar e isso será respeitado por todos.

Existe uma história mais ou menos assim:

“O mestre de aikido não permitia que seus discípulos lutassem com alunos de outros dojos, mas niguém tinha coragem de perguntar ao mestre o motivo. Um dia um aluno se dirigiu ao mestre e perguntou:- Mestre, porque não podemos lutar com outros alunos de outros dojos para realmente sabermos se somos bons? O Mestre respondeu:

– Nunca queira saber isso, pois você pode se decepcionar, sempre há alguém melhor que nós! O Aikido é a arte de resolver conflitos

Continuando o caminho


Estivemos em São Paulo e visitamos alguns amigos do Aikido. Uma passagem muito proveitosa e onde podemos encontrar pessoas sérias e dedicadas a nossa arte. Acabamos por definir os próximos passos do Ganseki Dojo em termos de filiação. Estamos muito felizes e a atmosfera do Ganseki Dojo não poderia estar melhor nesse ano de 2008.

Um olhar de senso comum para o Aikido

por Yoshio Kuroiwa
Aiki News #66 (February 1985)
Traduzido por Jefferson Bastreghi

Como não há competições no Aikidô, nós devemos avaliar cuidadosamente a natureza de nossa prática. O lado espiritual da prática também é importante, mas se nós o enfatizarmos demasiadamente, o nosso treinamento se tornará idealista por natureza e o aspecto realista será negligenciado. “Kata” (forma) e “waza” (técnica) devem ser corretamente reconhecidos na prática.
De Kata para Waza

Kata deveria ser praticado seguindo certa ordem ou método pré-arranjado, o qual é baseado numa relação racional (rial). Desta forma, nós não estamos caindo porque estamos sendo arremessados, mas sim praticando um kata que foi criado para sermos arremessados. Quando nós dominamos um movimento racional (kata), ele é expresso como um movimento natural (waza). Isto é, se você se torna hábil a executar um kata espontaneamente como resultado de prática repetida, você não está mais executando um kata e sim um waza. Nós aprendemos através do kata e nos tornamos inconsciente do fato. Em outras palavras, enquanto os movimentos necessitam de nossa atenção, eles são kata, quando os kata se tornam espontâneos, eles se tornam waza.

Nós praticamos inicialmente os kata básicos (kihon waza, técnicas básicas) para aprender os movimentos do Aikidô. A base é o padrão (o modo de ver e pensar) e uma perspectiva de senso comum para corretamente observar as coisas. Nós devemos entender a essência dos kata, não a aparência exterior dos mesmos.

Por exemplo, em um quebra-cabeça envolvendo peças de madeira que se encaixam, sabemos o lugar (estabilidade) de cada peça entendendo sua forma e natureza. Do mesmo modo, nós podemos expressar kata, os quais são comuns a todas as pessoas, mostrando as partes básicas comuns da estrutura do corpo humano (por exemplo, pontos como os cotovelos só se dobram para dentro) e devemos usar estas partes básicas racionalmente. Pode parecer exagerado usar os termos “racional” ou “lógico”, mas estes conceitos são somente um assunto de senso comum e não precisam de explicação.

Enquanto persistirmos em ver kata superficialmente, nós iremos começar a pensar que eles são de importância especial. Não podemos, sistematicamente ou racionalmente, explicar qualquer kata meramente aprendendo de uma maneira repetitiva sem um entendimento do porquê certos kata são considerados básicos. O que nós adquirimos aprendendo só repetitivamente é a preservação da forma (a transmissão da forma externa) e não a habilidade de criar (compreensão da essência do kata). Em outras palavras, nós não entendemos o quê estamos fazendo.

Base não é algo a ser praticado, mas a ser entendido. O que ela demonstra é a mecânica de como desequilibrar um oponente e criar uma oportunidade para a aplicação da técnica. Se você entende isso de forma errada significando liderar e guiar, irá passar a acreditar que alguém pode liderar o seu oponente circularmente. Isto acontece porque estamos inconscientes do fato de que liderar um parceiro circularmente implica em separação e não notamos que a prática é uma expressão de yin e o uso do poder em Aiki envolve empurrar.
Kata: Uma ferramenta para o treinamento

Nos treinamentos nós praticamos muitas técnicas, mas elas são todas variações de uma posição única. Por esta razão, ikkyo, shihonage e outras técnicas são a mesma coisa. A razão pela qual elas parecem diferentes é porque somente a aparência externa delas é vista. Kata são a expressão de um número de variações através de movimentos a partir de uma única posição e são nada mais do que uma ferramenta para treinar o corpo a se mover livremente. A idéia que um é todos e todos são um não é somente uma matéria espiritual. Isso é válido para nossos corpos também.

Não é que haja um método diferente dependente da técnica, por exemplo, ao dizer que ikkyo é praticado de um modo e tal e tal técnica de outro modo. Elas são todas manifestações de um único movimento. Podemos dizer que praticamos vários kata a fim de entender um único movimento original. Não é que ikkyo e shihonage têm valor como técnicas básicas. Nós as praticamos somente como meios convenientes de entender o yin e o yang de uma posição (fundamental).

A prática do Aikidô é uma prática yin. Usando Judô como um exemplo, é muito mais a prática com parceiro do que randori (prática livre). Prática yin representa primariamente uma seqüência de prática combinada. Desta forma, a mudança no treino da recepção do ataque à aplicação da técnica é somente possível onde existe uma diferença em habilidade. Quando a habilidade de um oponente é superior, isto não é possível. Este é um ponto-chave na prática.

Waza (movimento natural) são expressados de acordo com o nível da pessoa e a essência dos mesmos (técnicas) é manifestada diferentemente a cada vez. Isto se dá porque o que nós naturalmente possuímos (nossa habilidade como é posta para fora através da prática repetida) é expresso através de certas relações (formas).

A arte do auto-conhecimento

Carlos Portas, mestre de Aikido
Texto de Teresa Trindade Pereira

Porque escolheu esta modalidade de artes marciais?

Antes do Aikido, em 1974, 1975, eu comecei a fazer karaté, aqui em Aveiro. Uma vez, em Lisboa, vi o Aikido e fascinou-me. A partir daí estive sempre na mira de encontrar alguém que me pudesse ensinar o Aikido. Em 1984 quando eu vivia na Suécia encontrei o mestre japonês Takeji Tomita e passado algum tempo deixei o karaté e comecei a praticar só Aikido com ele todos os dias durante 9 anos. Em 1993 vim para Aveiro e comecei a ensinar Aikido. Primeiramente no Ginásio Avenida, depois na ACAV e, por fim, aqui neste espaço chamado “Mussubi – oficinas de artes e coisas do Oriente”. Onde na vertente das artes marciais tem o Aikido.

O que quer dizer a palavra Aikido?

Aikido é um conceito. “Ai” traduzido à letra do japonês significa união, harmonia, amor, qualquer coisa que se integra uma na outra. “Ki” é a energia vital, a energia do Universo, a energia de cada um, é tudo aquilo que mexe. “Do” é a via através da qual se encontra, se entende e se percebe essa união, essa aceitação, essa função.

São esses conceitos juntos…

… que dão a parte filosófica e a parte de conceito da própria prática. O que é utilizado são técnicas de auto-defesa que têm origem histórica no período dos Samurais. A prática do Aikido é feita tanto de formas e técnicas de imobilizações, percepções de corpo a corpo, mas também com o sabre de madeira e o pau. As técnicas são resultantes da movimentação das técnicas do sabre desenvolvidas no período em que o Japão foi proibido de usar armas. Nessa altura eles começaram a progredir mais na parte de corpo a corpo e isso deu origem a muitas modalidades como, por exemplo, o karaté e o judo.

O que diferencia esta modalidade dessas restantes?

Eu não sei se alguma coisa a diferencia. Eu acho que é mais o conceito. No Aikido não há competição. A pessoa que pratica o Aikido fá-lo com o intuito de se auto-conhecer e de propor a si próprio uma forma de se reunir consigo próprio e com o mundo que o rodeia. Sempre que se pratica Aikido nunca é, nunca poderá ser, e se assim for está errado, uma coisa contra alguma coisa. A essência científica é, na realidade, encontrar a não resistência.

Não temos então vencedores nem vencidos…

Não, não temos vencedores nem vencidos, o que temos é o aperfeiçoamento do carácter das pessoas que o praticam.

O Aikido, como artes marciais, não é para ser usado fora destas portas , pelo menos ao nível físico?

Não é… é tanto ou não como as outras. Para já uma pessoa que conheça artes marciais e que tenha bons princípios e bom carácter nunca utiliza isso em termos práticos. Pode usar, obviamente, em termos secundários a experiência adquirida, fazer com que possa tirar dela ilações ou resultantes que o permita colocar-se numa posição melhor.

Já lhe aconteceu a si ter de usar o Aikido para se defender?

É sempre muito difícil dizer que não, mas isso é como tudo. Um jornalista, por exemplo, pode usar os seus conhecimentos no dia-a-dia sem entrevistar ninguém. É claro que, como eu costumo dizer, cria-se um género de capa à volta de cada um, daquilo que faz, um género de aureola que se for esse o espírito repela. A prática em si não incentiva as pessoas a quererem experimentar se funciona ou não, porque não é esse o objectivo, mas que funciona, obviamente funciona.

Em que consiste o conceito Takemuso Aiki?

O conceito Takemuso Aiki significa criação marcial. O “take” é o guerreiro o Budo. O “muso” é junção, é a ligação, é a criação. Portanto é o expoente máximo, é a arte marcial invencível. Não é a pessoa seja invencível, o conceito é que é invencível. A forma como se aprende e como se pratica, pelo menos aqui na escola, pretende que a pessoa, posteriormente, consiga dar os seus passos sozinha.

Tem muitas pessoas a aprender?

Já tive mais… Agora parece que estamos num período difícil para as pessoas, e depois também a maneira de estar aqui não é talvez aquilo que as pessoas possam pensar. Às vezes sonho com isto cheio.

Disse que era um período difícil para as pessoas?

Sim é um período difícil economicamente e também esteve um Inverno um bocado escuro e as pessoas um bocado deprimidas. Mas as pessoas gostam de fast-food. Isto aqui não dá para fazer dois treinos, irse embora e já saber tudo. Isto é um processo e isso é que é mais complicado. Temos que ter a consciência de que a laranja demora o seu tempo a nascer e demora o seu tempo a amadurecer, não tem o mesmo espaço de vida igual àquele que as pessoas costumam pensar: “quero uma laranja, quero uma maça vou ao supermercado, compro e pronto está o assunto resolvido”. A pessoa aqui quer aprender e tem que ter esse espaço de tempo, de prática, de experiência. Nem que compre os livros todos e que veja os vídeos todos não adianta absolutamente nada.

É o tempo o grande professor.

É o tempo o grande professor, o grande mestre. O tempo e a própria pessoa porque é um desafio à paciência, é um desafio à perseverança, um desafio a muita coisa, inclusive em relação à sua própria vida. Às vezes acontecem situações imprevistas e complica sempre todo o ritmo. As pessoas às vezes não estão preparadas nem disciplinadas para fazer a diferença do que é bom para si, do que é bom para os outros e do que é bom para ambos para poderem constituir uma sociedade melhor.

Tem alunos masculinos e femininos?

Homens e mulheres, pequenos e grandes. Tenho duas classes de 20 a 25 crianças dos 6 aos 13 anos, aos quais tento incutir esse conceito logo à partida. Há resultado se não houver quebra e se houver ajuda também dos pais e se eles continuarem e não desistirem quando querem e lhes apetece. É um processo que os ajuda muito, inclusivamente, na organização académica.

Acha que é uma modalidade que é conhecida por todos os cidadãos?

Mundialmente é muito conhecida. Em França é praticada por mais de 50 mil pessoas. Em Portugal já está a ser também conhecida sobretudo nas zonas da grande Lisboa e arredores, no Porto e em Coimbra. Em Aveiro não há tanta aderência, a procura é feita mais por pessoas de fora. O balanço que eu faço aqui na escola é que 80 por cento dos alunos são de fora.

Ficha Técnica Nome: Carlos Portas

Mussubi – Oficinas de Artes e Coisas do Oriente Eucalipto Sul – Aveiro – Portugal

Aikidô como um mero passatempo?

por Stanley Pranin
Traduzido por André Fettermann de Andrade

Tenho me referido em artigos recentes a nossas estimativas do grau de crescimento do aikidô tanto no Japão quanto no exterior. Apesar de que nossas projeções relativas ao número de praticantes são inferiores a diversas estimativas oficiais, eu acredito que elas tampouco representem sólidas evidências da penetração do aikidô nas maiores culturas mundiais. Com isso em mente, tenho alguns pensamentos sobre a forma com que o aikidô é praticado em muitas escolas hoje e suas implicações no desenvolvimento a lonog prazo da arte.

O aikidô é frequentemente referenciado como um esporte em conversas com não praticantes. Quando isso acontece por vezes nós nos opomos ao termo “esporte” e esclarecemos que o aikidô é na verdade uma “arte marcial”. Mas se olharmos cuidadosamente iremos perceber que as pessoas normalmente usam o termo “esporte” num significado mais livre da palavra, e na verdade o que querem realmente dizer é alguma coisa relacionada a passatempo ou atividade de lazer ao invés de uma atividade de competição. Se paramos e refletirmos por um instante, muitos do que estão engajados na prática do aikidô hoje realmente a tratam como um passatempo, hobby ou uma forma de exercício.

Como essa atitude é expressada no treino? Uma área que imediatamente vem à mente é essa, da forma como o aikidô é praticado em muitos dojos, o movimento do uke nada mais é que uma caricatura de um ataque. Isso se deve à ênfase na execução da técnica em oposição ao ensino no básico de como executar ataque sincero e controlado. Ataques fracos e sem comprometimento são também a maior causa das críticas sobre o aikidô por praticantes das artes marciais. Além de ser difícil ou mesmo impossível efetuar uma técnica adequadamente contra um ataque sem sinceridade, uma atitude de tamanho relaxamento contribui para o desenvolvimento de hábitos de treinamento frívolos e lânguidos da parte tanto do uke quanto do nage. Esses são, em troca, contra-produtivos ao desenvolvimento da força muscular e das juntas e do condicionamento geral necessário para a prática segura das poderosas técnicas do aikidô. Eu acredito que a principal responsabilidade por essa forma casual da prática do aikidô é dos instrutores que não foram capazes de captar a essência dos métodos e intenções do fundador ao criar a arte.

É necessário que as técnicas do aikidô sejam eficazes?

Ás vezes também é discutido que as técnicas de aikidô seriam de uso limitado em uma situação real de luta, e mesmo que fossem, o quão eficazes seriam contra uma arma letal como uma pistola. A premissa implícita é que não seja tão importante assim que as técnicas que praticamos tenham uma aplicação marcial. Consequentemente, por extensão, dizem os defensores desse ponto de vista, não há nada de errado em praticar de uma forma relaxada e agradável.

A maior falha na minha opinião sobre essa forma de pensar é que isso negligencia as consquências danosas de tais práticas em sucessivas gerações de aikidocas. Se usarmos o aikidõ ensinado por Morihei Ueshiba em seguida ao fim da guerra como uma régua pela qual possamos medir a arte atual, nós já podemos concluir que muito menos técnicas são ensinadas hoje e que há pequena enfâse em áreas fundamentais como atemi, uso de armas, e a prática de grupos inteiros técnicas como koshiwaza e hanmi handachi os quais eram parte do curriculum original da arte. Isso sem citar a da quase total ignorância da fonte e conteúdo da mensagem espiritiual do fundador. Se isso continuar por muito tempo, temo que no futuro o que seja passado com o nome de “aikidô” em muitos dojos se torne irreconhecível como tal.

O aikidô tem uma rica herança como uma das mais importantes e dinâmicas expressões da longa tradição japonesa de artes marciais. Morihei Ueshiba, o originador do aikidô, injetou nas complexas e sofisticadas técnicas que aprendeu na sua juventude uma visão humanística das artes marciais como instrumentos de resolução pacífica dos conflitos. É essa mistura única de forma, ética e utilidade a responsável pelo impacto do aikidô nas gerações modernas. De uma certa forma, essa visão do fundador talvez tenha sido revolucionário demais. Parece ter sido demasiado esperar que o mundo fizesse o pulo conceitual considerável requerido para transformar as ferramentas da guerra em instrumentos da paz. Visto sob essa luz, o estado atual do aikidô como uma forma leve de exercício a ser buscado em um ambiente amistoso e relaxado nada mais é que um sinal dos tempos em que vivemos onde o que é mais fácil e divertido atrai mais a atenção do que as atividades que rendem recompensas somente em conseqüência de um esforço aplicado em prolongados períodos.

originalmente publicado em: Aiki News #86(1990)
fonte: aikido journal

Koshinage

No universo de técnicas do Aikido, o koshinage faz parte do grupo que mais desenvolve a questão do posicionamento corporal entre Uke (atacante) e Nage (defensor).

O objetivo maior do Nage nesta técnica é tirar o equilíbrio do Uke com a movimentação do quadril, forçando a projeção do parceiro. O koshinage não está preso a um ataque ou a uma forma específica de aproximação Uke-Nage, portanto, pode ser executado de várias maneiras de acordo com a capacidade física e maturidade técnica dos praticantes. De um simples daí iti kyo a um complexo jujinage, todos podem terminar com a projeção típica do koshinage.

Uma das grandes dificuldades na execução do koshinage está na figura do uke, que receberá a técnica. Muitas vezes o medo do uke age contra si próprio, fazendo com que ele recue, interrompendo a técnica, ou sofra uma queda ‘seca’, podendo se machucar dependendo da intensidade do movimento.
Portanto, uke deve estar confortável com a queda do koshinage antes de praticá-lo.

Dicas para o uke:

· Tente se posicionar sobre o quadril do nage – por mais que ele esteja fora de alinhamento com o seu corpo. Apoiar-se fora dessa região irá dificultar a estabilidade do nage, e com ela a sua também.
· Tente segurar em alguma parte do corpo do nage ou dogi (kimono) com uma das mãos e use a outra para amortecer a queda.
· Não feche os olhos. Lembre-se que os jogadores de futebol cabeceiam a bola com os olhos abertos para ver onde o goleiro está. O mesmo se aplica aqui no aikido. Você deve ver o chão e, se possível, o nage durante o movimento.
· Relaxe o corpo.

Em termos de treinamento, uke e nage podem treinar inicialmente sem a projeção, para que o uke ganhe confiança e perca gradativamente o medo. Depois, as quedas podem ser treinadas de forma direta, ou seja, sem aplicação de uma técnica específica. Uke se apóia no quadril do nage, que projeta o uke forçando a queda. Com o passar do tempo as técnicas poderão ser incorporadas ao movimento.

Dicas para o nage:
· Seu ‘centro’ deve estar mais baixo que o do uke. Caso você perceba que o uke está saltitando para alcançar o seu quadril, abaixe mais.
· Não deixe o uke parado sobre o seu quadril. Isso é bom para o treino do uke, não para você. O seu treino é projetar o uke o mais rapidamente possível.
· Gire o quadril. É uma característica de treino avançado para esta técnica, mas deve ser praticada sempre que possível. Muitos nages usam as mãos ora para puxar, ora para empurrar as pernas e braços do uke. A boa execução do movimento utiliza apenas o movimento do quadril e nada mais.

fonte: site aikido nova era

Conheça bem o seu inimigo!

Aspectos Técnicos da Arte

Existe muita controvérsia no meio do Aikido sobre como enfrentar a velocidade de ataque de um karateka. Como você prepara os seus estudantes para enfrentarem estes ataques? Entrevistando Karl Geis – por David Russell- (Esta entrevista foi conduzida por e-mail, durante um período de 2 semanas. O texto foi escrito por Karl Geis. As perguntas elaboradas por David Russell. O artigo foi revisado por Nicholas Lowry e apareceu, originalmente, no Aikido Journal on Line). RUSSELL: Existe muita controvérsia no meio do Aikido sobre como enfrentar a velocidade de ataque de um karateka. Como você prepara os seus estudantes para enfrentarem estes ataques? KARL GEIS: Eu creio que um bom começo está em definir o que é um artista marcial. Existem basicamente 3 formas de nos defendermos de um ataque e todas três são eficientes se forem individualmente usadas como originalmente concebidas. Temos a possibilidade de força contra força, como no Karate, no boxe, no Taekwondo e em outras artes traumáticas. Uma Segunda forma está nas artes corpo-a-corpo, como o Judo, a Luta Livre, etc…Por último, temos as artes de esquiva, como o Aikido e algumas formas de Jujutsu, etc…Percebemos que as três artes são mutuamente excludentes. Por exemplo, é dificil se agarrar e bater ao mesmo tempo. É difícil se esquivar e se agarrar ao mesmo tempo, assim como é difícil bater e se esquivar ao mesmo tempo. Com base nos princípios acima, a minha definição de um artista marcial é a de uma pessoa que estuda exclusivamente uma destas três idéias. Ao estudarmos uma arte desta forma, o nosso subsconsciente aprende rapidamente como reagir a praticamente todas as formas possíveis de ataque. Se misturarmos estas artes, contudo, coisas estranhas acontecem. Por exemplo, se o nosso subsconsciente aprendeu a bloquear com a mão esquerda e bater com a direita ao defender um soco de direita, a nossa resposta será instantânea. Contudo, se tivermos estudado como evitar o soco, o nosso subconsciente se confunde e retorna a decisão para a mente consciente. A diferença está em que o subconsciente toma uma decisão em 1/25 de segundo, enquanto que a mente consciente toma a mesma decisão em ¾ de segundo, ou seja, aproximadamente 18 vezes mais rápida. Todo e qualquer artista marcial que verdadeiramente internalizou a sua arte não cometerá o erro de ser seduzido pelo jogo do adversário. Isto é, se lidarmos com um soco de acordo com um artista marcial, estamos perdidos. Se, contudo, lidarmos com o mesmo soco, sendo inconveniente com o nosso atacante…Na minha opinião, a melhor forma de conseguir isto é não nos colocando onde os artistas marciais costumam se colocar. O atacante, desta forma, se verá forçado a enfrentar uma situação desconhecida para ele e terá que ajustar apropriadamente a sua estratégia. De qualquer jeito, a pessoa que está usando o movimento como uma parte da sua defesa não se fere e, em geral, tem bastante tempo para mudar o seu posicionamento. É um fato notório que qualquer um que ataque um karateka, um boxeador, um lutador de Taekwondo ou de qualquer outra arte traumática está assumindo um risco e pode se dar mal. Contudo, quando examinamos as fraquezas, assim como as forças, de qualquer arte traumática, descobrimos muitos furos na armadura. Se usarmos a nossa arte sobre estes “buracos” de fraqueza, descobriremos que podemos controlar a situação com uma grande facilidade. Quais são as fraquezas das artes traumáticas e como podemos utilizar estas fraquezas contra elas? As lutas traumáticas treinam sob certas regras. Uma vez que o modo sob o qual treinamos ensina ao nosso subsconsciente como reagir em uma “luta real”, tais regras programam os seus lutadores de uma maneira que nos permite explorar as suas fraquezas. Em primeiro lugar, evite lutar próximo – faça com que ele venha à sua procura! As regras das artes traumáticas exigem que os oponentes se enfrentem. Esta é uma regra necessária ou não haverá luta porque um adversário evasivo é difícil, se não impossível, de atingir sem um enorme esforço da parte do atacante. É por isto que um árbitro é necessário ou não haverá luta. Devemos ficar atentos a este esforço extraordinário e contra-atacar quando o oponente estiver concentrado em um ataque. Em segundo lugar, cubra as suas mãos! As regras de uma luta traumática não permitem que se segure as maõs do adversário ou qualquer parte do seu corpo, porque, quando assim fazemos, o boxe acaba e a luta livre começa. De um modo geral, lutadores traumáticos, como uma modalidade, não lutam agarrados. Também se exige um árbitro para que os lutadores não fiquem em “clinch”. Qualquer lutador traumático de valor lhe dirá que é virtualmente impossível evitar que um oponente hábil consiga um “clinch”. Em terceiro lugar, mantenha-se em movimento em direção a zonas seguras. Aprendemos, na década de 60, que os artistas traumáticos não se saiam bem contra os boxeadores e as regras do Karate Profissional e do Kickboxing foram mudadas, exigindo que um lutador chutasse um determinado número de vezes por round. Esta foi uma regra necessária para manter o valor do esporte e da sua imagem. Em quarto lugar, faça com que ele se mova! Se você observar um artista traumático executando um kata, você ficará impressionado com a sua velocidade. No entanto, ao assistirmos uma luta, fica dificil saber qual o estilo ou modalidade do lutador porque, adivinhe!, você não vê a posição do cavalo, etc…Todos acabam se tornando um kickboxing normal. Porque ? Porque todas as artes traumáticas eficientes no ringue devem operar sob os mesmos princípios e regras e se manterem usando as mesmas técnicas, não importa como se chamem. Socos e pontapés extremamente rápidos são possíveis a partir de uma base estacionária, mas esta velocidade cai drasticamente quando o atacante precisa se mover, ao mesmo tempo em que tenta chutar ou socar um alvo móvel. Tudo se torna muito difícil e muito, muito, arriscado. Em quinto lugar, nunca se agarre com um especialista nesta área. Há um grande número de grandes lutadores traumáticos que não tem o menor interesse em se envolver com um especialista em luta agarrada no solo. Este é um ponto que, realmente, foi estabelecido pelos irmãos Gracie. Em sexto lugar, empurre o rosto do oponente com a sua palma da mão! Em geral, os lutadores traumáticos não estão acostumados com ataques com a palma da mão. É bem entendido que não costumamos empurrar coisas com os nós dos nossos dedos. E os boxeadores provavelmente deixariam de usar tanto os socos, se pudessem bater com a palma das suas mãos. O ser humano gera muito mais força, batendo com a palma da mão, sempre que possível, que usando os punhos ou os nós dos dedos. Em sétimo lugar, aprenda instintivamente a distância necessária para evitar um soco ! Um soco ou um pontapé são instrumentos muito delicados, os quais tem, normalmente, pouca penetração e exigem distâncias curtas. Isto, é claro, é a base para eficiência das artes traumáticas. O uso dos punhos limita, necessariamente, a distância de penetração efetiva de um soco. Em oitavo lugar, aprenda a atacar sempre em movimento! O uso de pontapés contra um oponente que não inicia o primeiro ataque é muito difícil. Quem quer usar um pontapé, não pode se movimentar muito ao mesmo tempo e, portanto, precisa parar a cada instante em que chuta e um alvo continuamente em movimento frustará a maior parte das suas tentativas de chutar. Por outro lado, se você está se movendo, enquanto ele soca ou chuta, você terá muitas oportunidades para atacar. Em nono lugar, mesmo o aikidoka com pouca prática, além de treinar constantemente movimentos de esquiva, tem também a opção de chutar (embora muita gente ignore isto). No judo, nós temos o ATEMIWAZA (técnicas traumáticas), embora estas técnicas não sejam executadas em um contexto de Força contra Força. Elas são mantidas como uma reserva, para serem usadas quando o adversário ataca com um chute e se encontra em um momento rápido de desequilíbrio, às vezes em um pé só
. O Atemiwaza de Judo é uma forma “suave” de chutar ou socar, compatível com os princípios elementares do Aikido, isto é, com a nossa ênfase em precisão e oportunidade, em oposição à força e deve ser usada apenas em caso de fraqueza técnica profunda. Estas técnicas suaves são muito eficientes quando usadas contra partes do tornozelo, joelho, canela ou coxa. Usadas contra um atacante, em momentos específicos do ataque, podem provocar consequências catastróficas, de imediato ou a longo prazo. Em geral, as regras da maior parte das lutas traumáticas não permitem ataques abaixo da linha da cintura. Desta forma, o seu treinamento de defesas contra este tipo de ataque é, geralmente, deficiente. Todos os meus mestres sempre me ensinaram que o que você pratica é o que você fará durante uma competição. Existem outras armas que você pode empregar e que o tornarão um alvo muito improvável de ser escolhido. Prefiro não divulgar estas idéias por razões éticas. Em outras palavras, não é que não tenhamos algumas armas de longa distância. Apenas as usamos de uma forma diferente e em oportunidades diferentes dos lutadores traumático; quando estamos em uma zona de segurança; e quando podemos usá-las em conjunto com a movimentação de esquiva compatível com o nosso estudo do Aikido. Todos percebem que uma arte traumática não pode ser desenvolvida sem as restrições acima citadas. Todas aquelas proibições devem ser obedecidas na prática ou no treinamento ou a competição se transformaria em uma luta-livre ou num vale-tudo, etc…Infelizmente, praticar continuamente sob tais condições, evitando as técnicas perigosas de uma determinada arte, leva invariavelmente o praticante a se sentir seguro quando o caso é bem outro. DAVID RUSSELL : qual o contexto filosófico que você sente como importante quando você lida com outras artes? KARL GEIS: ÉTICA: Ser sincero consigo mesmo. Nunca devemos subestimar a arte do outro. Nunca me esqueço que, ao descobrir uma fraqueza em outra arte, eu descubro, ao mesmo tempo, uma força. As pessoas tem uma tendência a desvalorizar a outra arte, sem uma análise mais criteriosa. Proceder desta forma em um combate real é uma falha imperdoável. Todos os grandes generais da História sempre alertaram para o mesmo princípio básico: CONHEÇA BEM O SEU INIMIGO! Nunca presuma, sem antes testar a sua teoria. Existem muitas técnicas que, teoricamente, são muito poderosas mas, na maioria das vezes, elas são inúteis. Lutadores de Jiu-jitsu nem sempre se saem bem contra lutadores de judo. No entanto, lutadores de Jiu-Jitsu praticam muitas técnicas perigosas, enquanto que os judoka só treinam as técnicas seguras. Uma técnica perigosa tem que ser treinada com extrema precaução. Por outro lado, uma técnica segura pode ser treinada até que a sua execução se torne super-rápida e muito mais eficiente, com a vantagem adicional de, teoricamente, não machucar ninguém permanentemente.