Feliz 2022

Chegamos ao final de 2021. Apesar dos desafios, que enfrentamos no ano, renovamos nossas esperanças. Por meio de novas amizades, novas promessas, boas realizações. Ou seja, evoluçao sempre. Fora, não foi bem assim. 2021 foi um ano difícil em diversas esferas. Econômica, política e humana. Na nossa vizinhança, no nosso município, estado, país… e no mundo. Para lidar com tudo isso, mais importante é termos boa forma, manter o prumo, a base e a nossa energia. Para nós, praticantes de Aikido, temos uma forma eficaz de lidar com esse mundo. Precisamos mais do que nunca manter nossos treinos. Dentro do possível. No dia a dia, no tatame, conseguimos energia, base, atenção para enfrentar tudo isso. Que 2022 seja melhor do que o ano que passa. O que não é difícil. Que sejamos fortes e embasados pelo aikido para lidar pessoalmente com todo esse cenário; e se possível ajudar com nossa força tantos que precisam nestes tempos de batalhas e guerras sem fim. Sejamos guerreiros que auxiliam e servem. Como o samurai.

Akai ito

Já ouviu falar sobre Akai ito (赤い糸)? Trata-se de uma lenda de origem chinesa que fala sobre um fio vermelho invisível que une as pessoas que estão predestinadas a ficar juntas, independentemente do tempo, lugar ou circunstância. O fio pode esticar ou emaranhar-se, mas nunca irá partir.” Ou seja, em algum momento da vida, essas almas gêmeas vão se encontrar.
Enquanto que na cultura chinesa, os deuses amarram o fio ao redor dos tornozelos daqueles que estão predestinados, no Japão a história é um pouco diferente: o fio está amarrado em torno do dedo mindinho dos casais que são almas gêmeas. A lenda também é chamada de Unmei no akai ito (運命の赤い糸), que significa “corda vermelha do destino”.
Uma curiosidade sobre a sabedoria e intuição japonesa sobre o akai ito: o dedo mindinho representa o coração, nele está conectada a artéria ulnar que o liga ao órgão.
Ou seja, o dedo mindinho é uma extensão de seu coração. Por isso o fio vermelho é preso nele, conectando os corações.
O que torna o akai ito tão magnífico é o romance que o envolve, e mais que isso, o akai ito não se limita a casais afetivos. Ele nos liga a pessoas importantes que passam/ram em nossas vidas.

(Adaptado de https://coisasdojapao.com e https://www.japaoemfoco.com)

Servindo a O-sensei – um samurai moderno!

Morihiro Saito Sensei

Morihiro Saito Shihan (Aikidai 9º dan) começou a praticar Aikidô em 1946 com o Fundador do Aikidô, Morihei Ueshiba, no Dojo de Iwama. Este ano marca o 50º aniversário de sua dedicação à prática da arte do Aikidô. Ele publicou muitos livros, incluindo os 5 da série clássica Traditional Aikido, e ele aparece em vários vídeos.

Entrevista com Morihiro Saito Sensei por ocasiao de seminario realizado no dojo de Gaku Homma sensei, em Denver, Colorado. 

Gaku Homma praticou Aikidô por mais de 30 anos e é o Fundador do Nippon Kan Culture Center em Denver, Colorado. Ele é o autor do Aikido for Life e outros livros sobre Aikidô e cultura japonesa.

Parece que em toda etapa importante da minha vida, Saito Sensei estava lá. Ele estava em Iwama durante os anos em que eu fui um uchi deshi com o Fundador, Morihei Ueshiba. Seis anos após a morte do Fundador, Saito Sensei Atendeu ao meu convite, para uma demonstração em um clube de Aikidô na Base da Força Aérea de Misawa, onde eu organizava uma demonstração que me deu a oportunidade de vir aos Estados Unidos pela primeira vez. Agora, 20 anos mais tarde, em outubro de 1995, eu tive a oportunidade de convidar o Saito Sensei para lecionar no Aikido Nippon Dan em Denver, Colorado.

Parece um piscar de olhos o tempo passou tão rapidamente. Eu me lembro de experiências do passado com se tivessem acontecido ontem. Eu tenho 45 anos agora, e o Saito Sensei 67. Conforme o tempo passa e nós envelhecemos, eu acho que o nosso temperamento e nossos valores mudam, tornando-nos mais tolerantes e no geral mais aceitáveis. Durante o nosso seminário, enquanto eu tomava conta do Saito Sensei e observava-o ensinando, eu claramente percebi o quanto o tempo passou, e quantas lembranças eu tenho.

Como Saito Sensei ensinou, eu nunca o ouvi falando sobre forças universais, Deus, auras, paz ou Ki . E eu nunca o ouvi fazer quaisquer outras referências cósmicas. Em cada um de seus  movimentos, seu corpo mostrava os sentimentos que essas palavras lutam para capturar. Essa força de tocar o coração das pessoas através da eloquência de seus movimentos é o que o

diferencia dos outros. Sua técnica física e a sua filosofia são simples e plantadas firmemente no solo. Quem ele é e o que ele ensina são baseados no realismo, não em conceitos ilusórios que podem ludibriar e confundir.

Conforme eu entrevistava Saito Sensei, não pude conter o sentimento de estar ouvindo um pai envelhecendo, passando a sabedoria de sua experiência para as futuras gerações.

Saito Shihan, você é muito saudável. Qual você acha que é o segredo da sua boa saúde?

Agora eu tenho 67 anos. No Japão isto me torna elegível a participar de atividades em grupo de cidadãos seniors. Eu recebo muitos folhetos e convites para participar de atividades de cidadãos seniors da cidade de Iwama. Eu não me sinto pronto para isso, entretanto. Qual é o segredo da minha saúde? Não há segredo realmente. Eu não como muita carne e comidas gordurosas. Eu como alimentos com muita fibra. Ir às turnês de seminários é uma boa chance para perder um pouco de peso; eu geralmente não como muito quando estou viajando. Denver foi uma exceção, entretanto. Comer as refeições que Honma-kun preparava para mim estimulava meu apetite. (Kun é um sufixo que indica familiaridade). Se eu tivesse um segredo para a boa saúde, seria manter-me ocupado.

Eu tento criar uma situação bem ocupada para mim, mantendo todos os dias cheios de atividades positivas. Meu motto diário é, a cada passo que dou, deve ter uma outra tarefa esperando para ser realizada. No mesmo dia em que eu estiver voltando desta turnê pelos Estados Unidos, eu viajo para o norte de Honshu para fazer uma demonstração no Tohoku Regional Aikido. Durante o tempo em que morei no Aiki Shrine Dojo em Iwama, todos te chamavam de Mou-chan de Iwama (mou é uma abreviação de Morihiro, e chan é um termo carinhoso) ou Napoleão de Iwama.

Por que você tinha esses apelidos?

Desde que eu me tornei um uchi-deshi no dojo de Iwama até a morte do Fundador, eu era um jovem muito ocupado. Durante o período que eu era um uchi-deshi, eu também trabalhava para a Japan National Railroad. O único tempo que eu tinha para mim mesmo era na viagem entre o dojo e a estação de trem e a volta. Mais que isso, eu não tinha tempo para mim. Minha vida consistia em trabalhar e praticar. Eu não podia ouvir música ou seguir os esportes da moda como os garotos da minha idade.

Às vezes eu trabalhava no turno da noite nas ferrovias e então os meus dias e noites se misturavam. Se eu quisesse ter um tempo extra para fazer alguma tarefa pessoal como arrumar meu uniforme, por exemplo, eu tinha que diminuir minhas horas de sono. As pessoas da cidade costumavam dizer “Napoleão precisava apenas 3 horas de sono em seu cavalo. O mou-chan de Iwama precisa de apenas 30 minutos de sono para estar pronto para trabalhar de novo. Eventualmente, o nome Napoleão pegou e virou meu apelido. Meu corpo não esqueceu aqueles tempos e eu ainda estou ocupado!

O apelido mou-chan também traz de volta memórias. Eu não fiz isso acontecer, mas por alguma razão as pessoas da cidade de Iwama e das áreas ao redor tinham medo deste nome. Todos conheciam e isto tinha um estigma. Se algum dos Yakuza da vizinhança ou garotos da região tentassem causar algum problema em Iwama, a menção do nome mou-chan geralmente os pararia. Isso foi uma grande surpresa para mim. Um dia, antes de um festival acontecer na cidade de Iwama, os garotos da região começaram uma briga com um grupo rival de uma cidade vizinha. Aparentemente o grupo rival queria pegar o espaço de venda para o festival e os garotos pensaram que isso poderia ser oportuno para invadir o território de Iwama. Eles reuniram o grupo e se aventuraram para dentro de Iwama com a Yakuza na liderança. Um dos jovens de Iwama veio até mim e pediu minha ajuda para separá-los dos seus rivais. À princípio eu recusei, pois não queria me envolver nas brigas pessoais deles. Mas, sendo jovens e não conhecendo o significado do medo, eu concordei em ajudá-los. Vestindo botas de couro para proteger meus pés e uma jaqueta pesada de couro para me proteger de um ataque de faca, eu saí para ajudá-los. Eu fiquei surpreso quando cheguei no local. Eu não tinha idéia de quantas pessoas haviam se juntado na rua, prontas para brigar. Não sabendo o que mais fazer, eu andei diretamente entre os 2 grupos e disse “lutar em um dia de festival shrine não é bom”. O chefe rival deu um passo e perguntou: “Ei, você, jovem, quem é você?” “Eu sou Saito” – respondi. Mas isto causou pouco impacto. Depois alguém de Iwama gritou: “Ele é o Mou-chan de Iwama”. Nisso, o chefe rival ajoelhou-se, abaixou a cabeça até o chão e desculpou-se. Eu disse aos garotos de Iwama que começaram a brigar para se desculparem  também. Então eu reuni os líderes de ambos os grupos e levei-os até um bar local de sakê.

Conversando com os garotos de Iwama disse severamente: “qualquer um que começar uma briga está errado e deverá remediar a situação servindo saquê para aqueles que eles machucaram. Conserte esta situação agora!” E depois disso saí. A maioria das pessoas da cidade conhecia o meu nome, mas não o meu rosto, já que eu estava ocupado trabalhando o tempo todo. Como eu praticava Aikidô, minha reputação parecia crescer no seu próprio acorde. Eu era frequentemente chamado para resolver disputas menores, mesmo antes da polícia ser chamada. Eu ainda não tenho certeza se a minha reputação era boa ou ruim. Claro eu não tenho mais uma reputação deste tipo. Aqueles dias eram muito diferentes de hoje. Os tempos eram mais inocentes, especialmente no campo.

Parece que você ainda é o Napoleão de Iwama. Durante esta turnê de seminário, em um período de 2 semanas, você viajou dos Estados Unidos pro Japão, ensinou em ambas costas leste e oeste e então veio a Denver sem nenhum descanso intermediário. Parece uma programação extenuante para mim. Como você vê, o que faz a vida válida?

O que me deixa mais feliz é ensinar o que eu herdei do Fundador. Eu tenho uma grande realização quando visito os meus alunos por todo o mundo, podendo ficar na casa deles, ensinando e praticando juntos.

Quando eu estou em casa, em Iwama, se houver um pouco de tempo extra, eu aproveito ficando no Aiki no Ie (casa do Aiki) sentado ao redor da irori (fogueira) com outros amigos, comendo e bebendo juntos. Este é um momento feliz para mim. Num dia como estes, o que eu mais gosto de fazer é cozinhar. Eu não sou uma pessoa que fica beliscando, mas eu tenho um estilo único quando estou cozinhando. Por exemplo, eu gosto de fazer meus próprios temperos com os chillies que planto no meu jardim. Eu tenho um jeito especial de juntar os chillies com óleo de gergelim. Tem que ser assim. Eu também gosto de fazer o meu próprio udon (macarrão de farinha branca) e soba (Macarrão buckwheat). Eu gosto de secar e moer os grãos, fazer a massa e cortar o macarrão sozinho. Meu filho Hitohiro tem seu próprio restaurante de soba, então eu tenho uma fonte de trigo sarraceno fresco. Eu não gostaria de dizer a mim mesmo, mas eu acho que meu macarrão tem

uma reputação muito boa.

Eu também gosto de ir ao hinoki furo (casa de banho) para relaxar. Eu não posso descrever o quanto me faz sentir bem.

Eu já sou avô: eu tenho 13 netos. Mas, eu acredito que para pessoas que possuem seus próprios dojos, não há aposentadoria. É meu destino continuar.

Eu sinto que é minha obrigação ensinar o Aikidô do Fundador para o máximo de alunos possível. Quando eu morrer, uma ligação direta com a técnica dele irá desaparecer.

Eu recebi um presente de 23 anos de experiência com o Fundador. O que eu aprendi, eu aprendi com ele, e o que eu aprendi eu me sinto na obrigação de ensinar.

Outros shihans têm liberdade, eu não tenho. Há shihans espalhados por todo o Japão e por todo o mundo, que em certo ponto, reuniram-se com o Fundador para praticar. O fundador entendeu a essência do Aikidô, e guardou na palma da sua mão. Aqueles que se juntaram rapidamente nunca realmente alcançaram o dom que o fundador manteve em sua mão, e então eles se foram.

Iwama é para os Aikidoístas o que por exemplo Meca é para os muçulmanos, ou o Vaticano é para os católicos. Metaforicamente, Iwama é um farol, e é minha obrigação manter sua luz brilhando claramente. Para outros Shihans, o farol simboliza os grandes empreendimentos e conquistas do Fundador. Eles usam essa luz para iluminar seus caminhos enquanto navegam livremente em

barcos que eles mesmos construíram.

Enquanto esta luz continuar a brilhar em Iwama, as raízes do Aikidô continuarão a existir. Eu acredito que é muito importante não esquecer este ponto. Eu comecei no Iwama Dojo em 1946. Até a sua morte, eu passei todos os dias durante 23 anos com o Fundador. Desde a sua morte, eu tenho ficado em Iwama, mesmo tendo uma posição de Shihan no Aikikai Hombu Dojo. Eu tenho dedicado todos os dias em manter a luz brilhando claramente no farol deixado pelo Fundador.

Eu tenho escutado que alguns Aikidoístas distinguem as técnicas do estilo de Iwama das do Aikidô mais moderno, chamando o estilo Iwama de tradicional e até antiquado. Na minha opinião, isto é um erro. Eu acredito que se nós negamos as origens de nossa própria prática, nós negamos sua validade..

Quando as pessoas dizem que o estilo Iwama de Aikidô é antiquado, eles me fazem lembrar de pessoas cortando o galho de uma árvore, enquanto eles estão sentados no proprio tronco sendo serrado.

Eu nunca diria que o estilo Iwama de Aikidô é o único válido. Cada instrutor tem a sua própria personalidade que é construída com base na sua própria bagagem cultural e no ambiente. É natural que estilos diferentes e organizações diferentes tenham sido desenvolvidas. Ter viajado por todo o mundo me ajudou a entender isso, já que eu estive em contato com muitas pessoas, lugares e culturas diferentes. Eu acho que é bom para os alunos aprenderem com vários instrutores e praticarem em vários dojos diferentes.

Entretando eu também acredito que é vitalmente importante praticar as técnicas da fundação do Aikidô. Nós não podemos esquecer a fonte de nossa prática.

Nas vidas das pessoas, geralmente chega um momento em que elas refletem sobre as suas próprias raízes e heranças. Eu acho que é importante para cada um de nós incluir um estudo das técnicas do Fundador conforme viajamos em nossa própria jornada do Aikidô. Nossa ligação mais próxima à fonte é o Fundador, Morihei Ueshiba, e a ligação mais próxima à ele é o Iwama Dojo. É importante para a comunidade do Aikidô que mais pessoas percebam que as raízes da nossa prática estão com o Fundador. É importante passar pelos grandes acontecimentos e conquistas do Fundador corretamente mesmo se for feito por uma pessoa de cada vez.

Por esta razão, eu mantenho a luz do farol acesa e brilhante em Iwama. É por isso que eu não tenho liberdade. Ao invés de liberdade eu tenho o meu destino e eu gosto disso. Mantendo o dojo do Fundador vivo e bem é o que faz minha vida válida.

Eu sei que faz muito tempo, mas você poderia nos contar como era sua época como uchi-deshi no Iwama dojo? Eu ingressei no Iwama Dojo em 1946. Isto foi logo após o Japão ter perdido a guerra, e não havia muitos recursos disponíveis: era uma época de muita pobreza. Nascido e criado na cidade de Iwama, eu ingressei no dojo com 18 anos.

Não muito mais tarde, alguns dos uchi deshi do Hombu Dojo vieram a Iwama.

O Sr. Gozo Shioda (fundador do Yoshinkan Aikido) mudou-se para lá com sua família de 6 pessoas (o que me deixou um pouco surpreso). Eles ficaram por aproximadamente 2 anos. O sr. Koichi Tohei (fundador do Ki Aikido) também chegou na mesma época após ser dispensado do serviço militar.

Eu me lembro de estar pensando naquela época se a guerra havia tornado ele alguém firme e forte. Ele deixou o dojo quando se casou. E havia outros dois estudantes que se tornaram uchi deshi na mesma época que eu. Um deles desde então se tornou um diretor regional de educação, e o outro é hoje um membro do parlamento. Eu sou o único que restou ainda por Iwama! (risadas) É difícil imaginar a aparência de Iwama naquela época. Onde agora você vê casas, havia acres de madeira selvagem. Nenhuma das ruas era pavimentada, e quando chovia elas ficavam com muita lama. Nós usávamos geta (sandálias de madeira) com uma das bases da sandália sobressaindo do chão, uma vez que a lama ficava presa entre as bases de um geta normal de duas bases, tornando-os muito pesados. O geta de base única era melhor para caminhar na lama, e no chão seco eles eram úteis para desenvolver equilíbrio e coordenação! Nós usávamos pouca eletricidade, especialmente nas áreas ao redor do dojo.

A noite era tão escura que alguém poderia encostar em você e você não saberia quem era! O Fundador era um membro proeminente da comunidade e se diferenciava por possuir a única energia elétrica da área. O contraste entre a escuridão total e as luzes brilhantes do dojo à noite faziam o lugar parecer mágico. Mais tarde, quando minha casa foi construída, nós puxamos eletricidade da casa do Fundador para a minha casa. Naquela época, isso era considerado um luxo.

O pessoal da cidade achava que o que acontecia no dojo do Ueshiba-san era um pouco incomum. Por exemplo, a maneira que nós, os uchi deshi nos vestíamos causava muito olhares surpresos à medida que andávamos pela cidade. Nós vestíamos o keiko gi ( roupa de treino,puída e remendada no colarinho), hakama desbotado (mais curto que o de hoje, na altura do tornozelo), e haori (parte de cima do kimono porém curto) decorados com padrões batik. Usávamos jo de ferro para tornar nossos bracos mais fortes, balancando-os e girando-os fazendo barulho atrás de nós conforme andávamos. As pessoas da cidade eram conhecidas por dizerem que nunca deixariam seus filhos irem à casa do Ueshiba-san por qualquer motivo. Como uma advertência, os pais ameaçavam seus filhos preguiçosos que, se eles não entrassem em forma, eles seriam mandados para o Ueshiba-san (risadas). Eles costumavam nos chamar de bankara (um grupo de aparência forte e ameaçadora). Ouvindo a fofoca local, o Fundador nos alertaria com um sorriso para não amedrontar muito as pessoas da cidade.

Alguns anos após o final da guerra, a vida começou a voltar ao normal. O pais ainda estava em transição e havia muitas pessoas desempregadas. Muitos se associaram ao dojo de Iwama em busca de uma nova chance na vida. Embora houvesse uma horta no dojo, de repente haviam mais bocas para alimentar do que a nossa capacidade. O Fundador colocou os novos uchi deshi para trabalharem limpando os campos ao redor, para que pudessem ser plantados.

Os campos eram cobertos com uma densa plantação de bambu, cujo emaranhado de raízes tornavam o trabalho de capinar e limpar a área extremamente desgastante. Alguns dos novos aprendizes acharam que o trabalho era muito duro, juntaram-se e desapareceram na noite. O trabalho era duro para mim também, mas mesmo que eu quisesse fugir não havia outro lugar para ir uma vez que nasci e fui criado em Iwama. Na realidade, ainda não saí! (risadas) Após o incidente com a limpeza dos campos, o Fundador diminuiu as tarefas difíceis.

A área do dojo onde nós agora praticamos boken e jo é onde o Fundador e sua esposa tinham a sua horta particular. Em outros campos maiores havia plantações de batatas, amendoim, e arroz. Atualmente tenho uma pequena horta que considero um hobby. Somente alguns uchi deshi selecionados têm a permissão para trabalhar na horta. Na verdade a maioria dos uchi deshi são explicitamente proibidos de trabalharem na horta. Quando eles trabalham, apenas resulta em mais trabalho para consertar o que eles fizeram. O último uchi deshi que trabalhou nas hortas foi você, Homma-kun, e a empregada do Fundador, Kikuno-san. Eu me lembro de você com um monte de vegetais preso às suas costas quando você foi ao Hombu Dojo de Tóquio para acompanhar o Fundador e sua otomo (assistente). Após a morte do Fundador não houve nenhum outro uchi deshi que trabalhase especificamente nas hortas.

Eu me lembro também. Naquela época eu tinha apenas 17 anos. Aqueles dias foram difíceis. Depois que o Fundador terminava sua cerimônia matinal diária, eu o acompanhava até a horta para pegar os vegetais que seriam usados nas refeições do dia ou, se houvessem extra, para levar ao Hombu Dojo, em Tóquio. Falando do Hombu Dojo eu li muitos artigos e livros sobre a história do Aikidô escrita pelos uchi deshi do Hombu Dojo. Mas, quando eu acompanhei o Fundador em Tóquio, não havia nenhum uchi deshi morando no Hombu Dojo. Você poderia esclarecer isto? No final da guerra, haviam muitos uchi deshi morando no Hombu Dojo. Na sua maioria, aquelas pessoas estão muito velhas ou já morreram. Depois que a guerra acabou, o Fundador morou na maior parte em Iwama, e ia à Tóquio apenas para cerimônias especiais ou eventos Da última geração de estudantes que deveriam estudar diretamente sob a orientação do Fundador, muitos dos que diziam ser os uchi deshi do Fundador eram na verdade 2º e 3º dan Shidoin (instrutores assistentes) no Hombu Dojo. A maioria recebia o equivalente a aproximadamente 200 dólares de salário mensal, moravam em apartamentos baratos perto do dojo, e iam ao dojo somente para praticar. Estes kayoi deshi (estudantes que moravam fora do dojo) não cuidavam do Fundador. Exceto quando eles estavam ajudando-o como UKE, os kayoi deshi não poderiam ficar próximos à ele. O Fundador exigia este nível de respeito.

Muitos agora dizem que eles ficavam próximos ao Fundador, mas não era realmente o caso. Mais tarde na vida do Fundador, pouco antes dele morrer, mesmos os shihans melhor posicionados no ranking somente poderiam oferecer cumprimentos. Eles não estavam nem na posição de conversar com ele. O Fundador não queria ter muitas pessoas à sua volta, e havia realmente poucas que pessoalmente cuidavam dele.

Quando falamos daqueles que cuidaram do Fundador na sua vida particular não podemos esquecer sua esposa. Você poderia nos falar um pouco sobre ela? Em 1951, o Fundador limpou a terra onde hoje está a minha a casa. Nós construímos a casa juntos. No jardim há uma castanheira que o fundador plantou. Desde que eu era um uchi deshi, era esperado que eu serviria o Fundador. Minha mulher não era uma aluna do Fundador e então ela não tinha a mesma obrigação. Mas ela trabalhou ainda mais duro que eu para cuidar do Fundador e sua esposa. Eu ia trabalhar todos os dias, portanto não ia sempre ao dojo. Minha mulher trabalhou 24 horas por dia durante 18 anos cuidando dele. Ela cuidou tão bem deles, que se por alguma razão ela não podia estar lá, Hatsu, a esposa do Fundador teria problemas em saber onde as coisas estavam.

Uma vez Hatsu adoeceu e teve problemas com a voz. Minha mulher conseguiu entender o que ela tentava falar apenas observando sua boca. Isso mostra quanto tempo eles conviveram.

Eu recebi promoções e reconhecimentos de dedicação do Hombu Dojo, mas minha mulher é a pessoa que merece a maioria dos créditos no que diz respeito aos cuidados oferecidos ao Fundador e à sua esposa. Somente minha mulher podia conversar com o Fundador diretamente, dando-lhe conselhos e oferecendo suas opiniões.

Além de cuidar do Fundador, ela também cuidava de nossa própria família e incontáveis uchi deshi por vários anos. Eu admiro muito a minha esposa.

Eu me lembro de sua esposa muito bem. Ela sempre soube quando aparecer com uma tigela de arroz cheia. Como você disse, se o Fundador estivesse bravo e sua esposa aparecesse, o humor do Fundador mudaria milagrosamente para o de uma criança feliz. Isso sempre me espantou.

Pouco antes do Fundador ir ao hospital em Tóquio, os efeitos de sua doença estavam no seu pior momento. Nós todos nos sentimos muito tristes por ele, mas era difícil nos aproximarmos dele. Foi triste ver um grande artista marcial perto do seu fim.

Foi uma época dificil para você também, Homma-kun, já que você cuidava dele pessoalmente. O temperamento do Fundador era imprevisível. Se ele estivesse mal humorado, quando você o encontrasse ele o envolveria com o seu mau humor.

Durante o último ano de sua vida, ninguém de Tóquio visitou o Fundador, porque eles não queriam se envolver. Foi uma época muito tumultuada para o Fundador. Deve ter sido muito dificil para vocês dois, Homma-kun e Kikuno-san, uma vez que vocês eram muito jovens.

Sim, foi uma época difícil. Talvez foi porque nós éramos tão jovens que o Fundador se sentia confortável e conversava conosco, mesmo próximo à sua morte. Falando de eventos recentes, Sensei, o que você achou do seminário aqui em Denver? Fiquei surpreso que mais de trezentas pessoas se registrassem para os três dias de seminário. É realmente bastante gente! Foi bom ver um seminário que não ofereceu “atrativos” tais como exames de faixa, etc. O fato de um dojo independente como o Nippon Kan conseguir atrair tantos estudantes do mundo inteiro para um seminario próprio é muito bom. Eu percebi que houve participantes de 17 organizações diferentes e de outros dojos independentes.

Eu estou muito contente de tantos estudantes comparecerem. Acho que o Fundador lá no céu deve estar contente também.

A comunidade de artistas marciais, incluindo a comunidade do Aikidô, enfrenta um futuro no qual mais e mais grupos se tornarão independentes especialmente nos Estados Unidos e Europa. A organização do Fundador, o Aikikai, precisa prestar atenção nisso. Acredito que em vez de eles se concentrarem em fazer mais regras e restrições, seria melhor se eles reconhecessem e respeitassem organizações independentes. Isso abriria o caminho para um relacionamento mais forte e um futuro mais estável.

Ir além de diferenças de organizações e estilos cria uma oportunidade maravilhosa para as pessoas se encontrarem, como demonstra esse seminário. A filosofia de harmonia e amor do Fundador se manifestou nesse seminário. Eu ficaria muito feliz de viajar para qualquer lugar para ensinar em seminários como esse. Essa é a minha missão. Você, Homma-kun, não é afiliado ao Aikikai ou com o estilo Iwama de Aikidô. Mas não há problema nisso. O fato de um dojo independente como o Nippon Kan conseguir reunir mais de 300 pessoas não pode passar despercebido. Seus alunos devem se sentir orgulhosos da estrutura própria do dojo e da reputação que ganhou através das contribuições à comunidade. Eu não acho que seja necessário transferir os seus sucessos para uma outra organização.

Pessoalmente eu espero continuar a ser um conselheiro e a dar suporte ao Nippon Kan. Como eu prevejo mais dojos independentes no futuro, eu quero que o Nippon Kan sirva como um exemplo a ser seguido. Eu tenho as mais altas expectativas no seu papel como um dojo independente e estabelecido.

Muito obrigado, Saito Sensei. Durante o seminário eu escutei as pessoas dizendo que “o estilo de Aikido Iwama é muito mais acessível que eu pensava.

Eu pensava que o estilo do Saito Sensei fosse mais estrito e severo.” A minha maneira de ensinar significa ter uma prática alegre que demonstre claramente a instrução do dia, para que os alunos possam entender inteiramente e levar o ensinamento para casa. É claro que eu sempre quero uma prática sem acidentes ou machucados. Quando eu ensino, e sinto que minhas explicações serão longas, eu peço aos alunos para se sentarem. Se há muita gente, peço para as pessoas que estão atrás para ficarem em pé para que possam ver. Eu tento me mover ao redor para que todos tenham uma chance de ver claramente. Eu procuro explicar devagar e claro. Não estou interessado apenas em jogar ukes ao ar.

Somente esse ano, eu viajei para fora do país três vezes. Somando tudo, já conduzi seminários fora do Japão mais de 50 vezes. Francamente não sei por quanto tempo ainda vou continuar ensinando pelo mundo todo. Se minha saúde continuar boa, eu sinto que preciso prosseguir minha missão de testemunha da obra do Fundador.

Eu me sinto feliz em ter estudantes maravilhosos ensinando e praticando ativamente nos Estados Unidos e em todo o mundo. Eu peço aos meus estudantes para continuar minha filosofia. Por causa dos esforços deles, as pessoas do mundo inteiro viajam para Iwama para treinar como uchi deshi.

“Recebi uma benção de 23 anos de experiência com o Fundador. O que eu aprendi, eu aprendi com ele, e o que eu aprendi me sinto na obrigação de ensinar.” Em certas ocasiões, eu soube de estudantes que praticaram em Iwama e retornaram aos seus países só para causarem problemas com outros grupos de Aikidô. Isso me preocupa, porque essas pessoas obviamente não compreenderam totalmente o treinamento que receberam em Iwama. Eles transmitiram essa falta de compreensão à medida que representaram erroneamente o estilo Iwama do Aikidô para outras pessoas. Isso nunca foi minha intenção. É importante que trabalhemos bem e de uma maneira amigável dentro da comunidade do Aikidô.

Hoje em dia eu viajo com o meu otomo, mas houve épocas em que viajei sozinho. Uma vez, quando cheguei em um aeroporto nos Estados Unidos, não havia ninguém lá para me receber. Como não sei falar inglês, foi um problema! Por minha sorte, um grupo de turistas japoneses passou por mim, e eu os segui para sair do aeroporto. (risadas). Eu não esqueço as vezes em que carreguei minha panela de arroz na mala, cozinhando para mim mesmo nas viagens. Eu nunca imaginei que eu estaria aqui, sentado na casa de Homma-kun comendo comida japonesa em Denver, Colorado.

Foi uma honra e um prazer, Sensei. Muito obrigado.

Após sua chegada em Denver, a primeira pergunta que Saito Shihan me fez foi “Que técnica eu devo ensinar essa noite?”. Depois de cada aula, ele perguntava se a aula havia sido adequada, e se uma certa série de técnicas seria apropriada para a próxima classe. Eu fiquei impressionado pela atitude dedicada e profissional dele.

Depois do treinamento, na sala de espera, Saito Sensei agradecia a todos pelo comparecimento, e oferecia frutas e refrigerantes. Foi um prazer ver tanto calor e gentileza demonstrado por um homem da posição dele. Um sentimento de generosidade permaneceu em sua volta durante o seminário inteiro.

Durante a festa de encerramento, nós acompanhamos Saito Sensei ao lavatório e esperamos ao lado da pia para lhe dar uma toalha para secar suas mãos. Eu me emocionei ao vê-lo cuidadosamente limpar a pia que havia sido molhada por outros, como uma cortesia ao próximo.

Original: Site Nippon Kan org – Gaku Homma Sensei

Seiza no Aikido

Um tópico muito importante e muito negligenciado na prática diária é como um aikidoca deve sentar-se em seiza. Embora cada escola, linha e tradição tenham seus próprios costumes e maneirismos, a maneira correta de praticar seiza no Aikidô é a mesma que a forma correta de praticar em pé: Seguindo os princípios de hanmi, hitoemi, kankagoshi… roppo.

Ao sentarmos em seiza não devemos cruzar os pés um por cima do outro; isso criaria uma grande vulnerabilidade perante ataques de qualquer tipo. Em ushiro-waza, bastaria o uke pisar com um dos seus pés em ambos os nossos pés. Todo o resto seria enfeite. Em mae-waza (suwari-waza, hanmi-handachi-waza…) qualquer movimento seria extremamente lento, e qualquer ataque do uke seria imediatamente efetivo. Não devemos nem cruzar os polegares, como é feito em diferentes linhas ou tradições. E pela mesma razão.

Quando sentamos em seiza devemos ter os polegares se tocando, mas sem se sobrepor. Os calcanhares separados, criando um buraco onde colocamos nosso o-shiri (nossas nádegas), de maneira que os calcanhares fique ao redor de nosso apoio. Desta maneira nosso centro está o mais perto possível do solo, criando estabilidade sem comprometer a mobilidade. Isto é muito importante.

Nossos joelhos não devem se encostar. Isto, de novo, limitaria nossa estabilidade e mobilidade. Os joelhos devem estar separados de maneira que formem um triângulo equilátero com elas. Separá-los ainda mais, mesmo que isso nos desse mais estabilidade, seria um problema sério para nossa mobilidade. Embora cada corpo seja diferente, a regra geral seria a do triângulo equilátero.

Se analisarmos geometricamente, um triângulo equilátero possui uma abertura de 60º. Isto nos dá a capacidade de sair na diagonal (e imediatamente) a 30º da linha de ataque, ou diretamente contra ele (se anteciparmos), ou nos harmonizando com ele (se estivermos atrasados). Isto é o princípio do roppo, as seis direções. Além disso, nos permite mover em seiza, não em shikko (embora, é claro, exista esta possibilidade e esta posição não a negue – com relação a isso podemos falar em outro momento)

Publicado originalmente em espanhol por Alejandro Villaneuva em Aikido en linea – Tradução de Rodrigo Sousa e Xmena Saad Olivera.

Camisa Ganseki Dojo

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Camisa Ganseki
Camisa Ganseki 2011

Encontro Nacional de Aikido FEPAI em São Paulo

No dia 14 de Novembro, acontecerá o Encontro Nacional de Aikido da FEPAI com participação de mestres dos estados do Pará, Ceará, Minas Gerais, Rio de Janeiro, São Paulo, Paraná e Santa Catarina.

O seminário será realizado na Faculdade Ítalo Brasileiro (Avenida João Dias, 2046 – Santo Amaro, São Paulo / SP).

Inscrições e informações nos dojos afiliados.

Seminário de Aikido com Yoshimitsu Yamada Shihan em São Paulo


Acontecerá nos dias 13 e 14 de Novembro de 2010, em São Paulo, o Seminário Internacional de Aikido com Yoshimitsu Yamada Shihan (8º Dan Aikikai).

O evento será realizado na Arena Olímpica do Ginásio do Ibirapuera.

Valor da Inscrição: R$130,00 * Não serão aceitas inscrições no dia do evento.

Inscrições pelo site: http://senshin.com.br/yamada2010/

Lembranças de Tamura Shihan

O emocionante artigo a seguir foi escrito por Yamada Sensei e enviado a seus alunos .

Outra, talvez a última das grandes estrelas da sociedade do Aikido se foi.

O conhecimento de Aikido de Tamura Sensei fez dele a maior influência na Europa e no resto do mundo pelos últimos 45 anos. Senpai (em japonês, veterano), como eu o chamava, era bem conhecido como o Uke de O-Sensei enquanto era uchideshi e é desnecessário dizer que ele foi o assistente de O-Sensei em sua viagem ao Havaí, há aproximadamente 50 anos. Para os japoneses, naquele tempo, era um sonho ir ao Havaí. Então todos nós o invejávamos.

Os movimentos de altíssima qualidade técnica de Senpai vieram em grande parte por ter sido uke de O-Sensei. Ninguém pode copiá-lo. Se você tentar fazê-lo, será somente divertido. Contudo, eu tentei roubar dele tudo que acreditei que poderia ser útil para mim.

Em março passado, estive com ele ministrando o seminário anual em Madri, e em abril ele me informou sobre algumas mudanças em sua saúde. Em maio e junho fiz algumas visitas a ele em sua casa. Na minha segunda visita, fiquei muito impressionado com sua atitude, tão calma, serena e relaxada. Pareceu-me que ele estava se preparando para longas férias.

Senpai já era uchideshi quando eu me tornei um. Passávamos a maior parte do tempo juntos. Em 1964, eu saí do Japão para Nova York e, na primavera do mesmo ano, Senpai também deixou o Japão com sua esposa e foi para a França. Senpai costumava brincar: “Eu esperei até você ir primeiro e nos mostrar como poderia fazê-lo. Agora que você conseguiu, posso me decidir”. Aquilo não era verdade. Não houve ninguém que fosse mais confiante do que ele foi. Ele não apenas sobreviveu, mas tornou-se um grande sucesso na Europa.

Estou escrevendo este artigo durante o Curso Anual de Verão no sul da França. Fizemos este seminário juntos por quase 30 anos, portanto é muito emocionante pra mim. O que vem à tona são os ótimos momentos que tivemos juntos durante os seminários em vários países.

Nadamos em Nice cercados de beldades em topless, andamos de burro ao lado de um penhasco em Marrocos. Em Marrakesh, Marrocos, uma cobra foi enrolada em torno do meu pescoço para uma foto. Voamos perto de Angels Falls na Venezuela num pequeno avião Cessna. O cheiro em uma academia na Ioguslávia era tão ruim que Senpai foi embora dizendo: “Você termina isso!”. Viajamos pelo Japão com amigos, e durante esta viagem fomos a um karaokê e eu tive que cantar um dueto com Senpai, que não tinha nenhum senso musical.

Muito obrigado por essas memórias maravilhosas que tivemos juntos. Tenho orgulho de mim por ter sido seu parceiro.

Ele costumava dizer que conhecer várias pessoas através do Aikido era sua felicidade. Mantendo este pensamento em mente, vou fazer o meu melhor para lidar com as pessoas que eu possa conhecer em minha vida.

Eu acreditei num milagre, mas ele não aconteceu. Entretanto, fiquei muito contente de saber que ele estava nos braços de sua esposa em seus últimos momentos. Ele sempre esteve com sua amada esposa, quase 24 horas por dia, então ele merecia isso.

Deixe-me dizer mais uma vez: Estou muito feliz por ele. E o invejo da mesma maneira que o invejei quando o vi como uke de O-Sensei. Eu o invejei por tudo que ele fez com o seu Aikido.

Por favor, volte de suas férias o quanto antes. Tenho um Bordeaux 1995 nos esperando. Vamos beber juntos novamente.

Y. Yamada

Extraído do site do senshin Aikido

Aikido e os aikidos ou Aikido e flores verdadeiras

Tamura Sensei - * 1933 / + 2010Artigo de Nobuyoshi TAMURA Sensei, 1979. Publicado originalmente na Revista da Federação Europeia de Aikido com o título “O Aikido e os Aikidos”
O Mestre Nobuyoshi TAMURA foi delegado da Aikikai de Tóquio para a Europa. Nasceu em 1933 em Osaka, em 1953 entra no AIKIKAI HOMBU DOJO como uchideshi do fundador Morihei Ueshiba. Em 1964 é enviado para França pelo fundador onde permaneceu até hoje.  Em 1999 é condecorado pelo governo Francês com a ordem “Chevalier de l’ordre National du mérite”. Faleceu em 2010.

Aikido e flores verdadeiras

Hoje em dia qualquer de nós pode ver no supermercado, no restaurante ou sobre uma tumba, e até nas igrejas, flores artificiais. Estas flores são fabricadas tão delicadamente que às vezes podemos confundi-las com as verdadeiras flores; são práticas, não necessitam nem de sol nem de água, são eternas e por muito tempo uma alegria para os olhos.
No entanto não suporto tais flores perto de mim. Não têm verdadeira vida. São todas parecidas, nenhuma difere da outra, nenhum botão com vida, sem rebentos, sem perfume e, quando chega ao Outono, não há sementes, nem folhas amarelas ou avermelhadas. Nem sequer caiem. É a imobilidade, e apesar da beleza das cores e das formas, a impressão que se experimenta é a de um mundo morto.
Em contrapartida, acerca das flores verdadeiras, frágeis, efémeras, mutáveis, nunca estáveis, sentimos o fluxo de uma vida eterna. Flores desaparecidas, folhas caídas no solo húmido do Outono, o silêncio imóvel do Inverno, sabemos que há aí uma promessa de vida, o retorno da Primavera.

As flores artificiais, tão belas, tão parecidas com as verdadeiras, que requereram para o seu fabrico tanta imaginação e talento, não serão nunca flores verdadeiras. Essas flores levam consigo tristeza eterna, o pesar de uma vida que não conhecemos, que não soubemos dar-lhes.
O Mestre Ueshiba faleceu em 1969, faz dez anos. Mas a sua imagem está sempre presente diante dos meus olhos. Vejo-o, sorridente, indo e vindo, ensinando.
Dez anos é pouco tempo, mas o que é que vemos? O que é que ouvimos? Quantos dizem: “O meu aikido é o verdadeiro Aikido”, “o meu Aikido é a evolução moderna do Aikido”, “eu ensino Aikido”. Surgem escolas… de onde vêm?
Confesso que não compreendo, este fenómeno não me entra na cabeça.
Mas o Aikido, todos os Aikidos, provêm de uma semente plantada por O’Sensei. Se são tão diferentes é, sem dúvida, porque nem todos cresceram na mesma terra, porque não receberam o mesmo sol, isso é o que explicaria a sua diferente cor, o seu aroma mais ou menos intenso, mas de qualquer modo são todos Aikido nascidos da mesma espécie, da mesma família.
No entanto, às vezes, chamamos Aikido a uma flor que não surgiu da mesma família de flores. Por exemplo, em França e Bélgica chama-se “achicoria” a duas plantas totalmente diferentes. Isto é aceitável e explica-se pelo facto dos homens poderem confundir as palavras e dar, assim, uma falsa denominação sem graves consequências.
Mas se alguém diz que uma túlipa artificial é da mesma família que uma túlipa verdadeira e que por isso devemos catalogá-la ao lado desta, isso é inaceitável.
Um falsificador que imita o quadro de um grande mestre comete uma falta que, no entanto, não é igual à de quem quer fazer crer que a flor artificial é uma flor verdadeira.
Na flor real há vida, na outra, pelo contrário não há vida.
Este tipo de falsificação é um ataque à divindade, uma blasfémia.
Aquele que pretende aprender Aikido por livros e filmes, ou ainda pior, a partir da sua imaginação que o leva a inventar movimentos, e que de seguida recebe dinheiro pelo seu ensino, este deveria saber que no seu Aikido não há rasto da herança de O’sensei, não existe a vida que o Mestre transmitiu. É um Aikido artificial. Acho que receber dinheiro e enganar as pessoas deste modo, é um crime.

AIKIDO YOSHINKAN

O Yoshinkan Aikido foi fundado por Gozo Shioda Sensei (1915-1994), um dos primeiros alunos de Morihei Ueshiba Sensei. O estilo se mantém bem próximo do Aikido tradicional criado por Ueshiba Sensei, com ênfase nas técnicas ensinadas pelo O Sensei durante o período anterior à II Guerra Mundial.

A palavra YOSHINKAN significa “local para o cultivo do espírito”, onde

YO: treino, cultivo

SHIN: espírito

KAN: casa, lugar

O estilo segue o principio de que Aikido é Harmonia, que pode ser alcançada por meio de treino e dedicação, produzindo resultados positivos para o praticante e para todos a sua volta.

O nome Yoshinkan foi adotado por Gozo Shioda Sensei por ter sido o nome de um antigo dojo particular de seu pai, um influente médico que apreciava as artes marciais e incentivava seus alunos a praticarem o Judo como forma de se manterem saudáveis.

Este estilo de Aikido foi muito difundido no Japão após a II Guerra Mundial graças aos esforços de Shioda Sensei e logo foi conhecido como o estilo oficial usado pelas Polícias de Choque, Metropolitana e Feminina de Tóquio, atraindo com o tempo muitos estrangeiros para os estudos e práticas da arte.

Com o aumento do número de estrangeiros e ocidentais a praticarem a arte, Shioda Sensei freqüentemente recebia questionamentos como: “qual a angulação correta da perna”, “qual a porcentagem do peso do corpo que deve ser destinada à frente”. Esses detalhes analíticos ocidentais não eram visados no estilo ortodoxo japonês dos ensinamentos do Budo e provavelmente causaram estranheza por parte dos instrutores. Para atender os anseios dessas perguntas e para manter uma padronização, os Sensei introduziram um sistema educacional utilizando ângulos aproximados e o desenvolvimento do aprendizado das técnicas utilizando uma contagem.

Esse método facilita o aprendizado dos passos intermediários que em conjunto formarão a técnica básica. Por outro lado, faz com que os movimentos percam muito de sua flexibilidade e fluidez, chegando a causar estranheza à primeira vista. Por esse motivo o estilo ficou conhecido como Aikido ”duro”.

Portanto, “duro” não se refere à truculência e não tem a ver com o fato de ser um estilo anterior à Guerra ou por ser utilizado pela polícia de Tóquio e sim ao método de aprendizagem.

O fundamento do treinamento do Yoshinkan Aikido baseia-se em uma série de movimentações básicas. O movimento do corpo, equilíbrio, foco e uma atitude mental são criados pela repetição do treinamento dos movimentos básicos que são ensinados até o todo possa ser visualizado. Cada técnica pode ser vista como uma série de movimentos agrupados.

O Aikido Yoshinkan se utiliza do atemi como forma de distração para aplicação das técnicas. No Budo, O-Sensei enfatiza a força no atemi como um pré-requisito para técnica tradicional e Shioda Sensei manteve estas características. A variação do significado do atemi é muito efetiva e permite a uma pessoa menor ou fisicamente mais fraca efetuar técnicas sobre pessoas maiores e fortes. O atemi também permite ao shite controlar a movimentação de acordo com o tempo e intensidade da técnica, além também de auxiliar no direcionamento do movimento.

Em 1990 Gozo Shioda Soke e seu filho Yasuhisa Shioda Sensei estabeleceram a International Yoshinkan Aikido Federation (IYAF), que em 2008 foi transformada em Aikido Yoshinkai Foundation (AYF), que visa divulgar o Aikido Yoshinkan pelo mundo com respeito e harmonia.

Segundo AYF, Yoshinkan não é um esporte. É um desenvolvimento e fortalecimento do corpo e da mente, que aliados à pratica do Aikido nunca devem ser esquecidos. Portanto, Aikido é para todas as pessoas, não importando a idade, sexo, raça e cultura.

A filosofia da arte é a mesma proposta por O-Sensei: eficácia em defesa pessoal com muito amor e controle da agressividade. A Yoshinkan só difere, portanto, na forma do ensinamento básico. É um estado de espírito, um sentimento, que para ser percebido, deve ser praticado.

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Conforme você envelhece, seus músculos perdem a força,

E você não consegue mais erguer e puxar.

No final há um limite para a força física, não importa o quanto você a desenvolva.

É por isso que Ueshiba Sensei diz que força ilimitada

Vem do poder da respiração

Em fato, é baseado em princípios naturais.

Se a outra pessoa vem impetuosamente contra você,

E você reage simplesmente usando esse poder,

Não há necessidade para esforço algum.

Gozo Shioda Soke

Extraído do site: aikido Ikeda