Sensei Walter Amorim em reportagem

Reportagem na Revista Petrobras – ANO 17, No 169 (JUNHO 2011)

A revista Petrobras andou nos procurando para falar sobre nossas atividades ligadas ao Aikido. Uma oportunidade legal de divulgação dentro da empresa de nosso trabalho.

Não é uma matéria extensa e é mais focada nas atividades extras Petrobras dos seus empregados mas valeu muito. Afinal nossa visão é a unidade, mas criação do grupo é nossa e ele hoje não existe sem a figura de seu líder.

Lembranças de Tamura Shihan

O emocionante artigo a seguir foi escrito por Yamada Sensei e enviado a seus alunos .

Outra, talvez a última das grandes estrelas da sociedade do Aikido se foi.

O conhecimento de Aikido de Tamura Sensei fez dele a maior influência na Europa e no resto do mundo pelos últimos 45 anos. Senpai (em japonês, veterano), como eu o chamava, era bem conhecido como o Uke de O-Sensei enquanto era uchideshi e é desnecessário dizer que ele foi o assistente de O-Sensei em sua viagem ao Havaí, há aproximadamente 50 anos. Para os japoneses, naquele tempo, era um sonho ir ao Havaí. Então todos nós o invejávamos.

Os movimentos de altíssima qualidade técnica de Senpai vieram em grande parte por ter sido uke de O-Sensei. Ninguém pode copiá-lo. Se você tentar fazê-lo, será somente divertido. Contudo, eu tentei roubar dele tudo que acreditei que poderia ser útil para mim.

Em março passado, estive com ele ministrando o seminário anual em Madri, e em abril ele me informou sobre algumas mudanças em sua saúde. Em maio e junho fiz algumas visitas a ele em sua casa. Na minha segunda visita, fiquei muito impressionado com sua atitude, tão calma, serena e relaxada. Pareceu-me que ele estava se preparando para longas férias.

Senpai já era uchideshi quando eu me tornei um. Passávamos a maior parte do tempo juntos. Em 1964, eu saí do Japão para Nova York e, na primavera do mesmo ano, Senpai também deixou o Japão com sua esposa e foi para a França. Senpai costumava brincar: “Eu esperei até você ir primeiro e nos mostrar como poderia fazê-lo. Agora que você conseguiu, posso me decidir”. Aquilo não era verdade. Não houve ninguém que fosse mais confiante do que ele foi. Ele não apenas sobreviveu, mas tornou-se um grande sucesso na Europa.

Estou escrevendo este artigo durante o Curso Anual de Verão no sul da França. Fizemos este seminário juntos por quase 30 anos, portanto é muito emocionante pra mim. O que vem à tona são os ótimos momentos que tivemos juntos durante os seminários em vários países.

Nadamos em Nice cercados de beldades em topless, andamos de burro ao lado de um penhasco em Marrocos. Em Marrakesh, Marrocos, uma cobra foi enrolada em torno do meu pescoço para uma foto. Voamos perto de Angels Falls na Venezuela num pequeno avião Cessna. O cheiro em uma academia na Ioguslávia era tão ruim que Senpai foi embora dizendo: “Você termina isso!”. Viajamos pelo Japão com amigos, e durante esta viagem fomos a um karaokê e eu tive que cantar um dueto com Senpai, que não tinha nenhum senso musical.

Muito obrigado por essas memórias maravilhosas que tivemos juntos. Tenho orgulho de mim por ter sido seu parceiro.

Ele costumava dizer que conhecer várias pessoas através do Aikido era sua felicidade. Mantendo este pensamento em mente, vou fazer o meu melhor para lidar com as pessoas que eu possa conhecer em minha vida.

Eu acreditei num milagre, mas ele não aconteceu. Entretanto, fiquei muito contente de saber que ele estava nos braços de sua esposa em seus últimos momentos. Ele sempre esteve com sua amada esposa, quase 24 horas por dia, então ele merecia isso.

Deixe-me dizer mais uma vez: Estou muito feliz por ele. E o invejo da mesma maneira que o invejei quando o vi como uke de O-Sensei. Eu o invejei por tudo que ele fez com o seu Aikido.

Por favor, volte de suas férias o quanto antes. Tenho um Bordeaux 1995 nos esperando. Vamos beber juntos novamente.

Y. Yamada

Extraído do site do senshin Aikido

Uma Breve História

A denominação oficial de Aikido data de fevereiro de 1942. antes dessa data, a arte era conhecida por vários nomes, embora a substância permanecesse sempre a mesma. Pode-se encontrar uma história detalhada do Aikido na biografia do fundador que escrevi em japonês (Aikido Kaiso, Ueshiba Morihei Den. Tóquio:Kodansha,1977). O que se segue é uma breve história que acompanha o nome à medida que este vai sofrendo alterações.

O pai de mestre Ueshiba,Yoroku, era proprietário de terras relativamente próspero e também tinha participação nos negócios de pesca e de madeira. Respeitado pelas pessoas de sua comunidade, foi membro dos conselhos da vila e das cidades de Nishinotami e de Tanabe, na prefeitura de Wakayama. O jovem Ueshiba reverenciava seu pai, e este, vendo grande potencial no filho, propiciou-lhe todo o apoio material e moral para levar adiante suas ambições além do mundo limitado de seu lugar de nascimento. O filho, entretanto, sentia que não havia correspondido às expectativas paternas e, em 1901, com 18 anos de idade, foi a Tóquio, onde realizou um curto aprendizado no mundo dos negócios. No ano seguinte, abriu a loja Ueshiba, que distribuía e vendia artigos escolares e para escritórios, mas Ueshiba adoeceu e o pequeno negócio fracassou.

Pouco depois, alistou-se no Exército Imperial Japonês e lutou na Guerra Russo – Japonesa (1904- 1905). Foi promovido a sargento e teve uma baixa honrosa. Então, em 1912, aos 29 anos, reuniu um grupo de 54 famílias, com um total de mais de 80 pessoas do seu povoado natal, e fundou uma nova colônia em Shirataki, Hokkaido. Na época essa prefeitura era uma área aberta recentemente ao desenvolvimento e acolhia de bom grado todos os que quisessem trabalhar na terra. Durante sete anos como líder dessa nova colônia, ele cultivou a terra, serviu como membro do conselho da cidade e contribuiu para o desenvolvimento da região de Shirataki. Embora mostrasse certo talento para a liderança, ainda sentia que não havia realizado as grandes esperanças que seu pai depositava nele. A morte do pai, devida à doença, em janeiro de 1920, causou-lhe um grande choque Abandonando tudo em Hokkaido, voltou para casa, mas passou por um período de profunda angústia psicológica. Procurou então a orientação de Onisaburo Deguchi, o carismático mestre religioso da seita Omoto derivada do Shinto. Sob a proteção desse grande mestre, o fundador viveu na Sede Central da Omoto em Ayabe, prefeitura de Kyoto, praticou os ritos de meditação e de purificação Shinto e contribuiu para o fortalecimento dessa nova religião.

Os oito anos em Ayabe até mudar-se para a Tóquio em 1927 foram anos de formação no desenvolvimento espiritual do fundador. Durante esse tempo,  estudou a filosofia Shinto e dominou o conceito de Koto-tama (literalmente, palavra – espírito).

Depois da morte do pai e durante sua estada em Ayabe, a dedicação do fundador ao Budo tornou-se absolutamente exclusiva, antes de mais nada, devido ao incentivo de Deguchi. Antes dessa época, ele havia praticado e dominado diversas artes marciais, incluindo a arte da espada na escola Shinkage, Jujutsu nas escolas Kito e Daito entre outras. Uma de suas realizações mais notáveis foi receber o mais alto certificado da escola Daito das mãos do mestre Sokaku Takeda, a quem havia encontrado casualmente num albergue de Hokkaido em 1915, quando estava com 32 anos de idade. Foi este estilo de Jujutsu que abriu os olhos do fundador ao significado profundo das artes marciais. Os princípios da escola Daito diferem dos do Aikido, mas muitas técnicas são comuns.

O motivo que levou Deguchi a incentivá-lo a concentrar-se nas artes marciais foi que conhecia o rico e variado embasamento do fundador no Budo e anteviu esse caminho como um dos mais adequados ao temperamento, habilidade e aspirações dele. Aconselhou o fundador a destinar uma parte de sua residência em Ayabe para abrir um Dojo. Levando este conselho a sério, o fundador abriu o modesto Ueshiba Juku, com 18 tatames.

O Ueshiba Juku era originalmente destinado aos jovens da seita Omoto mas como o nome de Morihei Ueshiba, “O Mestre de Budo de Ayabe”, passou a ser amplamente conhecido, outras pessoas também começaram a freqüentar o Dojo, sendo os mais notáveis os jovens oficiais do vizinho porto de Maizuru. Sua fama se espalhou e os estudante começaram a vir de Tóquio e de outras partes distantes do Japão.

A partir de 1920, mais ou menos, mestre Ueshiba já pensava seriamente em estabelecer sua própria forma independente de Budo, e em 1922 proclamou o Aiki-Bujutsu como uma nova forma de arte marcial.

Como o termo Bujutsu sugere, essa nova arte mantém os princípios e técnicas de artes marciais mais antigas, que apresentam certas diferenças do Aikido atual. Sua originalidade aparece no uso de Aiki como um termo específico. nas várias transmissões de Budo existem algumas referências esparsas à idéia de “união” (Ai) de Ki com o adversário em combate, mas esta foi a primeira vez que o composto em si foi utilizado. Podemos também encontrar menções a Aiki – Jutsu, mas essa expressão tinha uma conotação psicológica e não constituía parte essencial de uma arte marcial. Em livros recentes são feitas referências a uma forma moderna de Ki-Aijutsu, popular entre as pessoas comuns, mas esta era um sistema psicológico que nada tinha a ver com o Budo como tal. Embora a escolha do novo termo Aiki possa ter tido alguma influência das escolas Kito e Daito, as quais se baseiam no princípio do Yin e do Yang e no uso do Ki, sua origem principal está no próprio treinamento de Budo de mestre Ueshiba, na sua experiência de vida e na compreensão do Ki obtida durante sua estada em Ayabe. A influência mais importante foi o domínio do Koto-dama, ao qual são feitas muitas referências em palestras.

Parece que o Aiki – Bujutsu não foi aceito imediatamente. As pessoas se referiam ao novo Budo como o Ueshiba-Ryu ou Ueshiba -Ryu – AikiBujutsu. Ainda assim, a fama de mestre Ueshiba continuava a espalhar-se por todo o país. O momento decisivo aconteceu em 1924 – 1925, quando, como se observou anteriormente, participou de uma expedição ao interior da Mongólia e, logo depois de retornar, quando desafiado por um jovem oficial da marinha em Ayabe, experimentou o Sumi-kiri, a claridade da mente e do corpo que tornou possível a unidade do Ki universal com o Ki individual. Tinha então pouco mais de 40 anos, e foi este fato que definiu a fundação de sua arte marcial.

Podemos dizer, então, que o ano de 1924 – 1925 marca o início do desenvolvimento espiritual do Aikido, pois desse momento em diante mestre Ueshiba propugnaria constantemente que “o verdadeiro Budo é o caminho da grande harmonia e do grande amor por todos os seres” e que cada movimento consiste no funcionamento da unidade Ki – Mente – Corpo.

No outono de 1925, depois de insistentes pedidos de seu admirador e protetor, Almirante Isamu Takeshita, o fundador foi a Tóquio para realizar uma demonstração diante de uma distinta platéia, entre a qual se encontrava o ex-primeiro-ministro, Conde Gonnohyoe Yamamoto. O Conde Yamamoto ficou profundamente impressionado pela demonstração do fundador e solicitou-lhe que digisse um seminário especial de 21 dias, no palácio anexo de Aoyama, para especialistas de alto nível de judô e Kendô do pessoal da casa imperial. Na primavera de 1926, foi novamente convidado pelo Almirante Takeshita a ir para a Tóquio, onde ministrou aulas de Aiki Bujutsu a integrantes do pessoal da casa Imperial, a oficiais do Exército e da Marinha e também a figuras de destaque do mundo da política e dos negócios. Em 1927, a pedido do Almirante Takeshita e de Onisaburo Deguchi, deixou Ayabe para sempre e mudou-se para a Tóquio. Durante os três anos seguintes, instalou diversos Dojo no distrito de Chiba, em Tóquio,  e treinou muitas pessoas em Aiki Bujutsu incluindo especialistas de alto nível de outras artes marciais. Houve sinais de reconhecimento do Budo do fundador como algo mais do que as artes marciais tradicionais, e algumas pessoas começaram a usar o termo Aikido para descrevê-lo. Em outubro de 1930, Jigoro Kano, fundador do judô Kodokan, teve a oportunidade de ver a arte magnífica de mestre Ueshiba, aclamou-a como o Budo ideal e, até mesmo, enviou-lhe alguns de seus alunos.

Apesar das tentativas de seleção, o número de alunos continuou a crescer, e o fundador teve de enfrentar a necessidade de um Dojo maior. Em 1930, estabeleceu um novo Dojo em Wakamatsu-cho, Tóquio, inicialmente alugando e mais tarde adquirindo a propriedade da família Ogasawara. O novo centro de treinamento, chamado Kobukan Dojo, ficou terminado em abril de 1931. Como se observou anteriormente, o Dojo da Sede Central do Aikido que ocupa atualmente o mesmo lugar.

Em 1936, o fundador decidiu que era hora de tornar clara a diferença entre as antigas artes marciais e a sua arte, dada a ênfase filosófica e espiritual que havia incorporado a esta última. Sentindo que a essência de sua nova arte era diferente da antiga tradição das artes marciais, abandonou o termo Bujutsu e deu a sua arte o nome de Aiki Budo. Esse passo necessário e inevitável lançou os fundamentos do futuro da sua escola. Como fundador de um novo sistema de arte marcial, sentiu profundamente a responsabilidade de subordinar a sua busca pessoal à expansão do caminho entre todos os que poderiam interessar-se por ele.

Em 1939 apresentou um pedido formal para que sua organização fosse reconhecida como instituição de personalidade jurídica com o nome de Kobukai. A aprovação do pedido no ano seguinte oficializou o Aikido e marcou o início de sua idade de Ouro. O número de membros aumentou e o nome de mestre Ueshiba tornou-se mais conhecido do que nunca.

A erupção da Guerra do Pacífico, em dezembro de 1941, e a virada crescente na direção do militarismo na sociedade japonesa só podiam dificultar o desenvolvimento do Aikido. Com o recrutamento da maioria dos jovens para as Forças Armadas, o número de alunos ficou visivelmente reduzido. Na tentativa de mobilizar o país para o esforço de Guerra, o governo, entre outros movimentos, ordenou a unificação dos diversos grupos de artes marciais num corpo único sob o seu controle. Assim, em 1942, várias tradições de judô, de Kendô e de outras artes marciais juntaram-se para formar a Grande Associação Japonesa da Virtude e das Artes Marciais.

Embora o fundador não expressasse suas objeções a essa ordem governamental, parece que estava definitivamente descontente com o fato de que o Budo que havia desenvolvido, diferente das outras formas marciais, fosse obrigado a tornar-se parte de uma organização dessas.

Firmemente disposto a não se misturar com outros grupos como apenas mais uma forma de arte marcial, chegou a sentir que o nome Kobukan Aiki – Budo sugeria que se tratava meramente do ramo ou estilo Kobukan de alguma arte mais ampla. Decidiu então proclamar o novo nome Aikido para identificar sua arte como uma forma original e distinta de Budo, entrando para a associação com o novo nome. Em fevereiro de 1942, o Aikido foi reconhecido oficialmente como o nome da escola do fundador. Eram decorridos 22 anos desde o nascimento do Ueshiba Juku em Ayabe.

Texto extraído do livro: O Espírito do Aikido

Autor: Kisshomaru Ueshiba

Editora Cultrix

Jardim Japonês em Belo Horizonte

Jardim Japonês em Belo Horizonte Locais Interessantes Ligados ao Japão no Brasil: Jardim Japonês em Belo Horizonte 0 Jardim Japonês de Belo Horizonte, na Fundação Zoo-Botânica, situa-se em uma área de 5.000 m2 a foi construído em 2008, em homenagem ao Centenário da Imigração japonesa no Brasil. Possui árvores típicas, pontes a lanternas, um lago com peixes, cascatas artificiais e a reprodução de uma típica casa de chá japonesa. Recebe aproximadamente 100 mil visitantes ¡mês a já teve a honra de receber a visita de Sua Alteza o Príncipe Herdeiro do Japão. Fonte: Revista Japão Atual

Textos de Morihei Ueshiba – A voz interior

Seu coração guarda muitas sementes férteis, que estão esperando apenas a luz para que possam desabrochar. Permita que esta luz entre em sua alma: deixe-se guiar pelo fluir das coisas a sua volta, procure seguir a qualidade de alguns vegetais. Seja sempre verde como o pinheiro, flexível como o bambu, belo como o lótus, e elegante como o lírio.

Reportagem Revista Made in Japan

A revista Made in Japan na edição que fala de Ono Sensei relaciona academias nos estados brasileiros representantes da União Sul Americana. Entre elas o Ganseki Dojo. Representante de Kawai Sensei no Rio de Janeiro.

Entrevista com Hitohiro Saito

por Sonoko Tanaka
Aikido Journal #113 (1998)
Traduzido por Christiaan Oyens
Este artigo foi preparado graças a assistência deVolker Hochwald da Alemanha.
“Não devemos romper com a tradição do fundador apenas porque pessoas chegam do exterior.”
Hitohiro Saito (40) nasceu em Iwama, onde iniciou sua prática de Aikido aos sete anos. Ainda criança estudou com Morihei Ueshiba e depois continuou aprendendo com seu pai, Morihiro Saito Shihan. Dedicado a preservar a tradição espiritual e técnica do aikido de O-Sensei, Hitohiro criou sua reputação pela excelência de sua técnica e seu método de ensino no Japão, Estados Unidos, Europa e Austrália. Pudemos sentir seu amor intenso e profundo respeito pelos seus dois mestres (o fundador e seu pai) durante esta entrevista exclusiva.

Hitohiro Sensei, quais são as suas primeiras memórias do dojo?
Eu dividia as refeições com O-Sensei e me davam o que sobrava do seu prato. Eu também me lembro que chorava de manhã durante a minha infância porque não encontrava a minha mãe do meu lado ao acordar. Ela estava sempre no dojo ajudando O-Sensei.

Dizem que O-Sensei era muito severo?
O-Sensei em geral só demonstrava suas técnicas nos outros lugares, mas ele instruía de verdade em Iwama e era muito rigoroso. Ele gritava, “Que tipo de kiai é esse! Vá lá fora e veja se consegue derrubar um pardal com o seu kiai”. Ou a alguém aplicando um yonkyo fraco, “Vá lá fora e experimente aplicá-lo numa arvore! Mantenha a chave até descascá-la!”.
Mesmo quando criança, eu percebi pela atmosfera que o rodeava que se tratava de um grande homem. Nós curvávamos nossas cabeças em reverência desde o momento que Saito Sensei, meu pai, ia buscar O-Sensei, e permanecíamos prostrados até a chegada de O-Sensei com o Saito Sensei vindo logo atrás. Finalmente, levantávamos nossos rostos para junto com O-Sensei fazer a reverência frente ao santuário do dojo. Aí, iniciávamos a pratica com tai no henko.
Se eu sentava ao lado de Saito Sensei enquanto O-Sensei explicava uma técnica como shomenuchi, me mandavam executar o shomenuchi em O-Sensei. Um dia, a minha irmã mais velha foi instruída a ir atacar O-Sensei, mas ela começou a chorar e saiu do dojo já que não era fácil para uma criança ir e interromper O-Sensei desta maneira. Mandaram que eu fosse em seu lugar e ataquei com um grito de kiai, aí O-Sensei comentou, “então você veio?” Ele me arremessou, mas usou sua mão para me proteger e evitar que a minha cabeça batesse no tatame, e disse, “tenha cuidado.” O-Sensei era uma pessoa muito boa.
Me lembro de um dia ir para o jardim e observa-lo escovar os dentes, quando de repente ele os removeu, como eram falsos, e disse, “isto foi engraçado, não?” (risos)
Quantos anos tinha na época
Na época freqüentava o segundo grau. O-Sensei era vigoroso na época. Durante os seus últimos anos fazia longos aquecimentos, mas na época que iniciei o Aikido ele ensinava um numero maior de técnicas.
Quando decidiu se dedicar completamente ao Aikido?
Não tive muita escolha, já que eu era o único filho, mesmo que eu fosse muito preguiçoso quando o assunto era treinar. (risos) Tinha planos de abrir um restaurante para ganhar a vida enquanto fazia Aikido. Depois do secundário, fui para Sendai durante um ano onde estudei cozinha. Depois fui para Osaka por mais dois anos de estudo. Sempre que tinha folga, eu visitava o dojo de Seiseki Abe para estudar caligrafia com ele. Também visitava o aiki dojo de Bansen Tanaka.
Abe Sensei pratica o misogi ao se derramar com água fria todo manhã para purificar sua alma. Ele parecia expressar uma mente ascética através de sua caligrafia. Originalmente ele conheceu O-Sensei no dojo de Bansen Tanaka em Takahama. O-Sensei criou afinidade com ele no caminho do misogi e começou a estudar caligrafia com ele.
Visitamos Abe Sensei alguns anos atrás e vimos alguns manuscritos incríveis de O-Sensei. Você sente uma atmosfera espiritual assim que entra no dojo.
Esses manuscritos são iluminados, não são? Para aprender mais sobre O-Sensei devemos ler seus dokas (poemas) e estudar sua caligrafia. Fotos e vídeos nos criam um senso de ligação com O-Sensei, mas seus poemas e caligrafia nos comunicam aspectos mais sutis. São realmente profundos e maravilhosos.
Abe Sensei conhece bem os poemas de O-Sensei, não é?
Isso mesmo. Eu espero que ele consiga realizar seus planos de publicar uma coleção da caligrafia de O-Sensei e a construção de um museu dedicado a O-Sensei. Durante a minha infância, Abe Sensei visitava com freqüência Iwama acompanhado de sua filha. É um homem dedicado ao estudo com um profundo conhecimento do Kojiki (Registro sobre Assuntos Antigos), o livro mais antigo da historia japonesa, livro que O-Sensei citava ao explicar o Aikido. Abe me falava muito sobre o Kojiki, mas como era tão complicado, temo que as explicações entravam por uma orelha e saiam pela outra. (risos)
Treinou aikido durante seu aprendizado em Sendai e Osaka?
Em Sendai, treinei com Hanzawa Sensei, e em Osaka, pratiquei no dojo de Abe Sensei.
Abriu um restaurante em Iwama como planejado?
Sim, em 1978, mas eu era jovem e tolo e costumava beber com os fregueses à noite e não treinava com seriedade. Operei o restaurante durante sete anos, mas fiquei preocupado com a minha saúde, então falei com o meu pai e ele concordou que eu deveria abandonar este negócio. Ele viajava com freqüência para o exterior e precisava de alguém para administrar o dojo em sua ausência. Isto foi há onze anos, e desde então ensino Aikido em tempo integral.
Onze anos atrás acompanhei Saito Sensei para a Dinamarca e participei ali de um seminário. Ano passado marcou o décimo aniversario desta viagem, então fui novamente com Saito Sensei e várias pessoas de Iwama. Foi um grande seminário com mais de 300 participantes.
Que conselhos daria para os estudantes do Aikido sobre os princípios de treinamento?
Saito Sensei diz que todas as técnicas de taijutsu (sem armas), ken e jo são baseadas em hanmi. Aí, você tem que aprender a usar o kiai corretamente. Acho que treino sem kiai é inútil. O Fundador tinha um kiai maravilhoso. Se você quer aprender o verdadeiro budo, não terá nada a perder sempre que tentar imitar O-Sensei. Infelizmente, os praticantes não sabem muito sobre O-Sensei, portanto faço o possível para contar-lhes sobre ele.
O fundamento do treino de Aikido é o ato de se forjar. Você não pode fazer isto se desde o início de seu treinamento praticar ki no nagare (técnicas de fluxo de ki). O treinamento básico consiste em permitir que o seu parceiro o segure com vigor. Fazendo isso, ele estará lhe fazendo um favor. Seu parceiro primeiro segura firme, aí sim você pratica uma técnica. Uma das instruções do Fundador era de começar como tai no henko. Você não deve negligenciar nem uma vez a prática de tai no henko. Isto é o que ensinamos em Iwama.
É de suma importância treinar com afinco tai no henko e morotedori kokyuho. De outra maneira, não se pode nem tentar explicar ikkyo. Quando você pivota com o pé da frente e abre um espaço atrás, como em urawaza, você deve ser capaz de executar o movimento correto de tai no henko, que é apenas fazer com que os dedos do seu pé se alinhem com os dedos do pé do seu parceiro. Seu corpo pivota sobre o seu dedão do pé. Você deve pivotar de forma equilibrada, não de qualquer maneira. Você tem que se harmonizar de forma precisa com o seu oponente, e não de forma desajeitada. Você tem que ter esta segurança desde o início.
É um ponto de vista valido; a precisão necessária para se harmonizar.
Qualquer um pode se harmonizar, num modo geral, mas ele deve começar com formas mais específicas que irão, no final das contas, expandir para a harmonia universal que o Fundador citava. Primeiro você aprende a se fundir com o parceiro “dedo a dedo” (dos pés), depois a pivotar com seu pé da frente. Quando você aprender a pivotar corretamente, você irá conseguir executar uma técnica urawaza. Ninguém pode expressar isto verbalmente, isto só pode ser dominado treinando. O Fundador dizia, “O treino vêm em primeiro lugar.” Não é que o seu parceiro se harmoniza com você, mas que você irá se harmonizar com ele em tudo. “Mexa-se, abra um espaço e tome a iniciativa.” Isto foi o que o Fundador ensinou para o Saito Sensei. Um erro de um centímetro pode impossibilitar uma técnica de ser usada com sucesso.
Você não pode mudar as técnicas ao seu agrado. Há uma maneira correta de executar cada técnica. Qualquer pessoa – não apenas os fisicamente fortes – deve poder aplicar as técnicas. Infelizmente, muita gente negligencia tai no henko. Posso dizer apenas observando as pessoas praticando tai no henko e morotedori kokyuho, como praticam em seus dojos. Não preciso ver mais nada. Creio que todos os básicos do taijutsu do Fundador estão presentes nestas duas técnicas e em ikkyo. É difícil encontrar alguém que execute uma técnica ikkyo com perfeição. Sei que isto pode soar um tanto insolente, mas eu acho que você não pode entender o Aikido sem desde o início se familiarizar bem com estas técnicas. Se você não dominar tai no henko, você sempre irá se chocar com seu oponente executando outros movimentos. O treinamento básico permite que você resolva problemas causados por movimentos corporais mal executados. Isto é impossível explicar com palavras, já que seu significado é muito profundo, mas acredito que a única maneira de aprender é permitindo que o seu parceiro lhe segure de maneira firme.
Em alguns dojos, os professores demonstram as técnicas duas ou três vezes e pedem para que seus alunos as treinem sem maiores explicações, mas em Iwama, o senhor sempre dá explicações detalhadas.
A razão pela qual Saito Sensei explica suas técnicas detalhadamente é porque ele gostaria que seus alunos aprendessem as técnicas o mais rápido possível. Seu método de ensino é resultado dos inúmeros erros que ele fez ao longo dos anos e o que ele conseguiu aprender deles. Nos seus últimos anos, O-Sensei demonstrava suas técnicas com a velocidade de um flash, assim julgaria depois as habilidades de seus alunos e o quanto eles conseguiam entender das técnicas. Como o Saito Sensei quer que todos melhorem com mais rapidez do que ele teve oportunidade, ele interrompe seus alunos imediatamente quando estes fazem algo errado e os corrige em cada detalhe. Ele não seria capaz de fazer isto se ele endossasse treinos fáceis. Se o seu parceiro cede às suas técnicas o tempo todo, você não irá saber se as está executando corretamente. Ao segurar com força, o seu parceiro está lhe ajudando a entender se está executando as técnicas de forma correta, ou não. Isto não quer dizer que ele deve segurá-lo de maneira torpe ou agressiva; embora em tais casos, a técnica pode ser adaptada para lidar com estas situações também. Seu parceiro deve segurá-lo de maneira firme, porém correta, aí você pode se alinhar com esta força. Isto é o treinamento básico. Se ele assume uma pegada invertida por cima, ou por baixo, você deve adaptar sua resposta da maneira adequada. Quando o seu parceiro vier agarrá-lo, conduza-o com habilidade. Vocês estão se doando fisicamente para treinar com seriedade.
As pessoas tendem a dizer que no Aikido você não consegue avaliar a sua habilidade porque o seu oponente está sempre colaborando com você.
Isto não é verdade. Você sempre pode ter uma dimensão da sua técnica e se ela funciona, cada momento que estiver praticando. Se tiver que fazer um esforço desnecessário, sentir que o seu parceiro está pesado, ou entrar em choque com ele, isto acontece porque não está se harmonizando completamente com ele. Você deve ter a capacidade de identificar com precisão o que há de errado com seu movimento, ou se você não abriu suficiente espaço. Não existe a necessidade de torneios para saber se as técnicas funcionam ou não.
O senhor quer dizer que seu parceiro deve atacar com seriedade durante os treinos?
Sim. Se eu digo, “Empurre com força”, ele deve empurrar com toda força; se eu digo, “me dê um soco”, ele deve me golpear com força; ou segurar com força. Ele deve me atacar com toda sua força e energia. Claro que se a força de uke for muito maior do que a do seu parceiro, ele deve atacar com metade da força para que nage possa aprender. O Fundador afirmava que praticar com crianças era uma ótima maneira de aprender. Se harmonizar completamente com a energia de uma criança é um grande desafio. É evidente que algumas pessoas são mais fortes do que outras, mas se elas agridem seu parceiro, estão apenas cometendo um ato de violência que não tem nada a ver com o Aikido. Algumas pessoas pensam que treinar de forma violenta tem seu valor, mas eu acho isto lamentável. O Fundador disse que nós devemos nos divertir treinando, mas isto depende de como você emprega esta diversão. Ao dizer para seu parceiro no término da aula, “Muito obrigado. Por favor, treine comigo outra vez”, esta é a melhor maneira de se treinar. Se surge conflito entre você e o seu parceiro durante o treino e este mal estar permanece até a conclusão da aula, este tipo de treinamento não pode conduzir à paz mundial, que era justamente o objetivo do Fundador. Quero que as pessoas desfrutem todas as minhas aulas. Mesmo que uma pessoa com alguma contusão tenha vontade de treinar. Eu aconselho os meus alunos a avisarem seus parceiros se estão com alguma contusão no cotovelo ou pulso. Eles ainda podem treinar com o outro braço. Digo às pessoas que sofrem de dores nos joelhos para treinarem as técnicas em pé, em vez de sentados. Não devemos treinar de forma negligente. A melhor maneira de se treinar é quando os parceiros se respeitam. O fundador pregava uma abordagem sem preconceitos e em Iwama você ainda irá se comover com este tipo de sentimento. Ele também dizia que você pode aprender com tudo que observar, desde que você queira. Isto é a mais pura verdade.

Vinte anos a documentar a vida de um homem

Traduzido por Pedro Escudeiro.

Poucas pessoas saberão tanto sobre a história do Aikido como Stanley Pranin. Além disso, ninguém tem sido mais importante na procura de dados precisos da história do Aikido como ele. O Aikidonytt encontrou Stanley para uma entrevista fora do Dojo de Iwama, no final de Maio, depois de uma sessão de fotografias com Saito Sensei para o seu novo volume da série Takemusu Aikido.

Como editor-chefe de Aiki News do Aikido Journal ele tem, há mais de vinte anos, documentado a vida de Morihei Ueshiba, fundador do Aikido. Stanley Pranin é conhecido pelo seu cuidado nos detalhes e precisão. Apesar da sua pesquisa, de tempos a tempos, lhe causar problemas, uma vez que as suas descobertas às vezes contradizem a história oficial do Aikido, o seu profundo conhecimento é muito respeitado por toda a comunidade do Aikido.

Qual era o seu objectivo quando iniciou o Aiki News em 1974?

O que aconteceu foi que, uns anos antes, consegui obter alguns documentos japoneses que eram uma série de um jornal que falava acerca da vida de O´Sensei. Como não havia uma tradução deles em inglês, então, com um amigo japonês traduzimos os dezassete artigos. Mostrei-os a algumas pessoas e toda a gente os queria, por isso, começámos a fazer umas cópias mimeográficas deles. Está a ver as máquinas desse tempo, e começámos a dá-los e as pessoas ficaram muito contentes. Sempre gostei de escrever e decorriam alguns eventos na área norte da Califórnia, por isso pensei, Bem, vamos fazer um pequeno boletim. Usámos os artigos de O´Sensei como a parte principal e depois algumas notícias locais daquela área. Escrevi um curto editorial e de vez em quando as pessoas enviavam alguns artigos; e por vezes vinha algum mestre japonês, fazíamos uma entrevista e era colocada lá. Começou a partir daí. Era apenas um passatempo. Era como uma forma de distribuir o que tinha vindo a pesquisar privadamente a uma audiência mais vasta.

O que considera ter atingido com o seu trabalho?

Consegui foi arranjar uma data de problemas! (Risos) Penso que mostrámos convincentemente em termos históricos que há uma grande ligação entre o Daito-ryu e O´Sensei e entre a religião Omoto e O´Sensei. Tentar removê-lo desse contexto é prestar um péssimo serviço e tornar muito difícil saber quem O´Sensei era, de que forma ele fora original e o que conseguiu atingir. Isso, e conseguimos historicamente documentar a posição de Saito Sensei dentro do contexto histórico do Aikido. Para além de ser talentoso, aconteceu que estava no local certo, na altura certa. Caso não estivesse empregado nos Caminhos de Ferro, não estaria aqui. Se tivesse um emprego de escritório das nove às cinco, e depois a sua família , nunca poderia ter treinado tão seriamente. Descobrimos algumas coisas históricas que são provavelmente interessantes só para as pessoas que gostam de detalhes. Havia uma ligação forte entre a família Inoue e a Ueshiba. Há uns setenta ou oitenta anos atrás. Há bastante tempo mesmo, isso foi muito, muito importante nos primeiros tempos do treino de O´Sensei. Eles promoveram-no e assistiram-no de muitas formas.

Como seria a história do Aikido sem o Aiki News?
Leia os livros do Aikikai e do Yoshinkan e saberá. O Doshu escreveu uma biografia de O´Sensei que foi publicada, creio que em 1977, e ficou para imprimir durante dois ou três anos. Contém bastante informação histórica importante e informação que inclui coisas da sua experiência de ser filho. Contudo, temos que nos lembrar que O´Sensei historicamente teve quezílias e desavenças com várias pessoas. Apesar de terem havido pessoas importantes a apoiar as suas actividades, ou membros familiares como os Inoue ou as desavenças com o Daito-ryu, havia uma tendência que pretendia fazer com que estas coisas nunca se tivessem passado nos últimos anos. Eles queriam basicamente não mencionar tais coisas. Podemos compreender isto do ponto de vista da natureza humana. Mas, como um historiador, se eliminarmos o Daito-ryu ou a família Inoue teremos uma concepção totalmente distorcida do que é o Aikido e de como veio a ser. Temos que pôr O´Sensei no seu contexto histórico para que possamos compreender quão grandioso ele foi ou quão significativa foi a coisa que fez criando o Aikido. O que é o Aikido? Será uma arte marcial completamente original ou será apenas um Daito-ryu repassado, o que será? Não poderemos dizer a menos que estudemos estes assuntos históricos. Não teremos bases para apreciar o que ele fez.

Fazia alguma ideia da dimensão que o Aiki News iria ter quando começou?

Não, creio que não sabia o que ia fazer. Tive um dojo durante algum tempo. Fui levado pelo facto de querer saber mais sobre O Sensei. Quando vim ao Japão pela primeira vez em 1969 comecei a procurar alguma informação e não cheguei a lado nenhum. Muito poucas pessoas quiseram cooperar comigo. Não havia quase nada também em japonês. Ninguém tinha feito pesquisa. O Sensei tinha acabado de morrer e os japoneses não pareciam levar muito a sério a pesquisa. Então, assim que me interessei e descobri algo, encontrei mais e tornou-se mais interessante e quis continuar.

Quais são os seus planos futuros para o Aiki News?

Documentar qualquer aspecto da vida de O Sensei que possa. Isso significa documentar o Daito-ryu em profundidade. Iremos publicar uma tradução em inglês da biografia de Onisaburo Deguchi este ano. Publicar o maior número de volumes desta série técnica com Saito Sensei que ele queira. Um dia gostaria de publicar uma série técnica do Daito-ryu. Há vários outros mestres que levaram o Aikido noutras direcções. Pessoalmente, não pratico os seus estilos, mas admiro e respeito estes professores. Gostaria de fazer algumas coisas com eles porque penso que o que eles fazem merece a pena. E depois, após uns anos, espero escrever uma biografia de O Sensei que vai ser séria, e uma vez que vou ser eu próprio a publicá-la não haverá um editor a dizer-me o que posso ou não fazer, ou que está muito longo ou detalhado. Farei apenas o que quiser fazer. Estou a pensar mais em quando eu morrer, o que posso deixar para trás.

Pode explicar a razão mais específica desta série de livros com Saito Sensei, para a que temos estado a tirar fotografias hoje?

Como tenho expresso nos meus editoriais ou no volume um desta série, Saito Sensei, grandemente devido a um acidente histórico, teve uma oportunidade realmente única de estudar com o Fundador em pormenor, mais do que qualquer um. Ele recebeu tanta instrução técnica directa do Fundador e como a sua mente é muito metódica, então foi capaz de classificá-la e explicá-la de uma forma que é muito, muito mais fácil de compreender. Assim, ao preservar as técnicas de Saito Sensei é a seguinte melhor coisa para preservar as técnicas de O Sensei. Não há qualquer outro mestre com quem eu possa trabalhar que saiba deste assunto com esta profundidade, que possa explicá-lo claramente ou que tenha visto O Sensei por um tão longo período de tempo e que tenha visto as alterações nas suas técnicas.

Neste momento estamos no Dojo de Iwama. Qual é a importância deste local para o desenvolvimento do Aikido, do seu ponto de vista de historiador?

É provavelmente o local onde O Sensei mais podia relaxar. Onde se sentia mais confortável nos seus últimos anos. Ele viajou para Tóquio, Osaka, Tanabe e Shingu, mas a sua casa era aqui. A sua casa em Tóquio tornou-se mais a casa do actual Doshu (Nidai-Ed.) do que a casa de O´Sensei. É claro que ele podia ficar lá, mas Iwama era basicamente o seu lar e, enquanto viajava, a sua mulher Hatsu estava aqui. Ela não estava assim tanto em Tóquio. A partir de 1942 esta era basicamente a sua casa. O Dojo manteve este sabor antigo. Não é um prédio de cimento moderno. As redondezas são muito bonitas e temos ali o Sanctuário do Aiki e para O Sensei o aspecto espiritual era muito importante. É um local muito especial e, provavelmente, depois da guerra, a única casa que O Sensei teve. Provavelmente, as pessoas de Tóquio vêem de uma forma diferente, mas é assim que eu o vejo.

O’Sensei passou a maioria do seu tempo aqui em Iwama quando desenvolveu o seu Aikido e como afirmou num dos seus editoriais o Aikido ensinado no Hombu Dojo foi desenvolvido por Tohei Sensei e pelo Doshu. Como foi possível que ocorresse tão grande diferença no desenvolvimento do Aikido?

Alguns anos atrás teria muita dificuldade em responder a esta questão. Basicamente, por falar com muitas, muitas pessoas e de ponderar sobre estas coisas durante anos e anos, cheguei a uma conclusão sobre isto. Tentei explaná-la num dos meus editoriais. Se analisarmos por quanto tempo as pessoas de grande nome estudaram com O Sensei, e por grande nome refiro-me a Doshu, Tomiki, Mochizuki ou Shioda, descobriremos que treinaram por um relativamente curto período de tempo. Devido à altura em que foram treinados , receberam alguma instrução, e depois foram enviados como professores, talvez depois de seis meses ou um ano. O próprio O Sensei ia viajando, portanto, não era como se estivessem a ter uma dieta de treino constante da parte do Mestre numa base diária. Quando vimos treinar em Iwama, Saito Sensei ensina uma ou duas vezes ao dia, excepto quando viaja. Mas naqueles tempos era como se viéssemos para aqui e depois de uns quantos meses fossemos para Mito ou Tsuchiura duas ou três noites por semana para ensinar. Numa tal situação em que estamos envolvidos no ensino, a quantidade de instrução que recebemos pessoalmente é limitada. Uma vez que a arte estava na sua infância e mais tarde por causa da guerra, a carreira de muitas pessoas que eram bastante talentosas foi interrompida. É claro que durante a guerra não se passava nada, e depois da guerra O Sensei estava aqui. Ele era já um homem idoso e estava retirado, por isso, as figuras principais em Tóquio eram Koichi Tohei e o actual Doshu. Não há dúvida sobre isso. Tohei era aquele que tinha o carisma, que era forte, treinou ainda por um tempo razoável com O’Sensei , viajou para o estrangeiro, falava inglês, escreveu livros. Era o ideal de toda a gente. Mesmo no Hombu Dojo muitos dos professores seguiram-no. Tohei Sensei estudou com o Tempukai. Portanto, muitos membros do Aikikai entraram para o Tempukai também. Ele detinha uma grande influência. Na mesma altura ele estava fora bastante, no Hawai, portanto, o Doshu e pessoas como Tada Sensei e Yamagushi Sensei tinham uma certa influência e alguns seguidores. Mas Tohei era a corrente principal. Ele era o shihan bucho, o instrutor chefe e o principal do grupo de instrutores. Depois da morte de O Sensei, Kisshomaru Ueshiba tornou-se Doshu e Tohei deixou o dojo em 1974, e veio a era do Doshu. Ele queria tornar as técnicas mais fáceis de compreender e menos estilo jujutsu, mais redondas e circulares. Agora está iniciada a gestão para o seu filho Moriteru, mas a sua influência não é O Sensei. Não é Saito Sensei ou Tohei Sensei, é o seu pai. E estão a remodelando o que é o Aikido em relação à sua imagem, penso que é da natureza humana. Contudo, está cortada das suas raízes históricas, da forma como eu vejo.

O Sensei estava consciente das diferenças que se desenvolviam no mundo do Aikido?

Temos que entender que O Sensei vivia de certa forma num mundo de sonho. Via-se a ele próprio como um veículo dos vários kami. Tohei Sensei diz, por exemplo, que O Sensei dizia qualquer coisa e os seus alunos diriam, Sensei, desculpe, não percebo, e ele diria, Não tem importância, eu também não entendo o que estou a dizer. Tohei Sensei diz isto para criticar O Sensei. O Sensei pensava só em como unificar com o universo. O seu vocabulário e o seu ponto de vista eram grandemente modelados pela religião Omoto. É uma religião Shinto, uma religião Xamanística e ele estava noutro mundo. Não estava interessado em organizações. Mesmo quando era jovem nunca organizava coisas. Deixava isso para outras pessoas. Ele estava interessado em treinar-se, fazer a sua meditação, a sua relação com Deus. Penso que se aborrecia se visse as pessoas a fazer coisas que ele considerava serem de um nível vulgar. Nos termos actuais acharíamos que ele era muito estranho ou excêntrico. E na altura ele era um ancião e depois da guerra já estava nos finais dos seus sessenta.

O que acha que vai acontecer no mundo do Aikido no futuro? Como se irá o Aikido desenvolver?

Uma coisa boa do Aikido é que está a difundir-se internacionalmente e que há pessoas que estão a trazer o seu treino de outros campos e outras ideias. Portanto, iremos encontrar o Aikido como fazendo parte de outras disciplinas. Talvez a principal parte ou talvez como complemento. Penso que certas pessoas desenvolverão o Aikido mais como um sistema de saúde. Poucos farão um estilo mais duro. Irá apenas dirigir-se em muitas direcções. Nalguns aspectos é forte, pois tem algumas figuras carismáticas e as pessoas tendem a praticar Aikido por mais tempo que outras artes marciais, porque não há competição. Há mais uma relação harmoniosa e é atraente para pessoas com um intelecto mais elevado. Se for Karate ou qualquer coisa parecida, há a tendência de serem homens novos que praticam por uns anos e depois saem. Mas no caso do Aikido, as famílias podem fazê-lo e pode-se praticar por vinte, trinta, quarenta anos e nos nossos cinquenta ou sessenta ainda podemos ter uma boa prática. Poderemos fazer um Judo competitivo aos sessenta, ou Kendo? Não muito frequentemente. Vai-se definir a si próprio e depois espalhar-se por todo o lado.

Qual é o seu conselho para todos os aikidoka na Suécia?

Façam-no à vossa própria imagem e façam o melhor que puderem. Devido ao meu carácter pessoal, gostaria de lhe adicionar outros elementos porque tenho outros interesses externos. Não é o meu papel necessariamente preservar o Aikido de O Sensei como praticante. Faço-o mais como académico. Saito Sensei tem este papel. Ele tem que cuidar da casa e do dojo de O Sensei . Ele tem a sua missão na vida. Hitohiro Sensei, o filho de Saito Sensei, tem a sua missão na vida. A minha é um pouco diferente. Eu encorajo as outras pessoas a investigar e se encontrarem alguém melhor que O Sensei que aprendam com ela. Se não puderem, pelo menos eduquem-se a vocês mesmos em saberem quem era e o que fez. Não têm que tentar fazer o Aikido que ele fazia, mas pelo menos compreendam de onde ele vinha. Então, adquiram a vossa base de seja qual for a versão de Aikido que estejam a fazer e façam algo de grandioso a partir dele.

Como se irá desenvolver o Aikido da escola de Iwama , e qual é a sua missão?

Somos uns afortunados por o sucessor de Saito Sensei ser tão talentoso e leal. Nem sempre acontece assim com os sucessores. Tenho realmente muitas esperanças. Ele vai-se expandir mais e mais, porque contém tanta essência dentro dele. Tem tanto conteúdo, que se pode passar várias vidas a estudar o estilo Iwama. Espero que não venha a haver nenhum movimento no sentido de uma estrutura organizacional rígida, porque essa tem os seus próprios problemas. Se Iwama se concentrar em preservar o Aikido de O Sensei e em disseminar a arte, e na prática das próprias técnicas, em vez de criar uma estrutura hierárquica, penso que o Aikido de Iwama estará muito bem.

Muito obrigado pelo seu tempo e pelo seu bom trabalho com o Aiki News.

Entrevista com Pat Henricks (imperdível para aikidoistas do sexo feminino)

Pat Hendricks no Aiki Expo 2002

Ikuko Kimura: O Quanto você está curtindo o Expo?

-Pat Hendricks: Isso é mais do que eu esperava, existe muito talento aqui, não são somente os professores, que são fantásticos, mas muitas pessoas que são realmente de alto calibre. Eu não pensei que veria algum evento em toda a minha carreira nas artes marciais igual a este.

-Eu escutei dizer que você treinou muito para se preparar para essa demonstração?

-im, meus três alunos no qual todos são realmente excepcionais, e eu temos feito juntos demonstrações em outros eventos de artes marciais. Então primeiramente eu pensei ,

“Nós temos nosso padrão de demonstração. Nós podemos mudar isso um pouco”. ” Mas aí eu senti que esse evento era tão importante que eu quis me dedicar mais nele e ajudar a fazer ele ser mais especial do que merecia ser.

Quantos alunos você trouxe ?
-ito uchideshi (alunos internos) vieram do meu dojo, e dois alunos antigos que agora se tornaram professores, mais dez alunos diretos meus e de outros quatro ou cinco de várias outras regiões.

-Quantos alunos voce tem?
Eu tenho algo de sessenta alunos adultos e cinquenta e sessenta crianças, no meu dojo, então mais de cem ao todo.

Você ensina todos os dias ?
Sim eu ensino. Minha filosofia, que eu peguei observando Saito Sensei, é que não importa qual seja a graduação que eu tenha ou o quanto eu seja avançada, isso é realmente importante para mim, e muito mais importante é dar quantas aulas eu puder. Então quando eu estou no dojo e não estou viajando, eu dou todas as aulas. É só isso o que eu faço. Eu ensino nas aulas de crianças porque eu acho que inspira todos eles.

Quando você originalmente começou Aikido?
-u começei no verão de 1974 em uma pequena faculdade em Monterey onde Mary Heiny estava ensinando. Logo após registrar-me eu encontrei Stanley Pranin no dojo, no qual estava também em Monterey, então eu começei a ir lá. Eu dirigia mais ou menos uma hora cada ida e volta, três vezes por semana para chegar no dojo.

Quantos anos você tinha ?
-u tinha dezoito anos quando eu começei no Aikido em Junho, e por volta dos dezenove, foi aí que eu comecei no dojo de Stanley em Setembro.

Stanley disse que tinha muito orgulho de você.
-h, Eu sempre tive um suporte inacreditável dele. Ele foi meu primeiro professor e eu aprendi muito com ele. Eu fazia aulas três vezes por semana com ele, e no sabado de manhã uma aula de mulheres com Danielle Smith. Em algum ponto eu mudei dentro do dojo de Stanley e tornei-me uma uchideshi informal, e treinando em todas as aulas.
Por volta de 1977 Stanley foi para o Japão. Nós estávamos em Oakland treinando com Bruce Klickstein no momento. Bruce já tinha estado em Iwama uma vez e ele estava pronto a sair para uma longa estada por lá.
Bruce, um par de alunos antigos e Stanley, em outras palavras todos estavámos sentindo a hora de ir para Iwama. Então eu decidi, “Bem, Eu vou também. Esse deve ser um lugar puro.” Eu tinha feito um ano ou um ano e meio de universidade e decidi ter um ano de folga e ir para o Japão. Eu fiquei mais do que um ano, no qual foi mais longo do que eu esperava. Isso era no Outono de 1977, quando tinha poucos estrangeiros ou uchideshi. O treinamento era muito severo e tradicional. Isso ainda é tradicional em Iwama, mas muitas pessoas completamente não estavam indo no qual eu tinha que ir direto.
Nesta época era fácil para qualquer uchideshi ter um contato pessoal com Saito Sensei e sua familia. Bruce Klickstein e eu éramos os únicos uchideshi na maior parte do ano.

Não tinha uchideshi japoneses?
-ão, existiam pessoas que vieram por um mês ou dois, mas o único uchideshi a longo prazo antes de nós foi Shigemi Inagaki. Ele foi o primeiro uchideshi a longo prazo de Saito Sensei. Ele ensinava na classe da manhã onde na maior parte apenas nós três treinavamos. Era um treinamento muito pesado, muito intenso. Eles eram 3º ou 4º dan e eu era somete uma faixa preta. Eu aprendi muito, incluindo todos os meus treinamentos de armas naquelas cinrcunstâncias.

Estando em Iwama por mais de um ano e treinando desta forma deve valer mais que alguns anos ou até em qualquer outro lugar ?
-Sem dúvida. Nós vimos Saito Sensei o tempo todo e trabalhamos com ele todos os dias.

Ele foi para o exterior nessa época ?
-Durante minha estada ele teve a sua primeira viagem internacional, para a Suécia, mas era incomum para ele viajar. Ele não viajou para nenhum lugar como fez nos últimos dez ou quinze anos. Depois dessa viagem para a Europa ele não foi para lugar algum por muito tempo. Ele ficava no dojo direto; ele tinha almoço conosco e cozinhava para nós. Foi uma época maravilhosa nesse sentido, mas o treinamento era muito, muito severo e muitas pessoas ficavam machucadas. Eu tive meu exame de SHODAN logo depois que entrei pro dojo e dentro de duas semanas eu tive meu braço quebrado. Mas naqueles dias você não para, então eu tive meus ossos ajustados por um velho doutor cego, Mr. Tachikawa, que era muito famoso em Iwama. Quando eles me levaram, eu vi aquele velho homem cego somente me sentindo ao redor de suas mãos e eu pensei “ Eu estou encrencada agora “. Mas ele era fantástico ! Ele era um genuíno curandeiro ! Ele me pegou como se eu fosse um projeto especial e usou todos os tipos de a gulhas e coisas para fazer o meu braço funcionar de novo.

Quantas semanas depois ?
-Dentro de duas a três semanas o braço estava curado e eu estava treinando com um braço. A recuperação total durou em torno de cinco semanas. Era inverno então para curar era lento. Eu esperei a recuperação total, embora tenha ficado muito melhor depois disso. Isso era a maneira de como as coisas eram feitas nesse tempo. Você tinha um nariz sangrando uma noite ou tinha algo torcido na outra, e isso fazia parte da coisa. Eu tive muitos machucados, mas eu penso que era naquele tempo quando Saito Sensei realmente decidiu fazer um esforço para fazer os treinos mais seguros. Bruce estava lá e Mr. Inagaki também. Bruce é um grande sempai e um grande irmão pra mim. Seu aikido era muita coisa.

Porque você se tornou interessada no aikido em primeiro lugar ?
-Na escola eu via muitos filmes de Bruce Lee e eu fui influenciada naturalmente apenas para as artes marciais.

Porque aikido, então ?
-Para ser honesta, isso foi uma coincidência. Eu queria fazer artes marciais, e o foi o aikido que me ofereceram naquele tempo; mas a partir do momento que eu fiz minha primeira aula eu sabia que isso era pra mim. Tudo se ajustava, os movimentos, a filosofia, a maneira das pessoas pensarem, tudo ! Eu não sei se eu teria ingressado em outra arte, mas aikido me serviu desde o começo mesmo.

Você tentou alguma outra arte marcial ?
-Após anos e anos eu tive muitos amigos em artes marciais e eu tive muitos contatos como estes, embora eles estivessem em uma graduação menor. Em muitos lugaress você tem somente as aulas que estão sendo oferecida. Pessoas tem tendencia a pedir que você pratique algo a sua volta , então eu experimentei várias artes marciais, mas o aikido tem sido uma linha consistente em toda a minha vida.

Então você esteve em Iwama mais de um ano, e aí voltou para a América ?
-Eu voltei para a América aproximadamente oito anos atrás e aí retornei para Iwama muitas outras vezes, e eu frequentemente continuei voltando como uma uchideshi de curto prazo até 1988 quando decidi me tornar uma uchideshi a longo prazo de novo, pela última vez. Eu fiz quinze ou desesseis visitas a Iwama juntando tudo, mas essa foi minha 50 ou 60 vez. Eu ja tinha começado meu próprio dojo em 1984, e eu deliberadamente decidi deixá-lo, deixando com um amigo e voltei para o Japão, onde eu fiquei por 18 meses.

Se você somasse todo o tempo em que ficou em Iwama, quanto tempo seria ?
-Eu acho que se eu somasse seria uns seis anos. Em 1988 eu experimentei o suficiente todas as oportunidades que me apareceram. Esse é um tipo de história engraçada. Em uma ocasião Saito Sensei estava sendo entrevistado por uma famosa revista japonesa, Wushu. Ele fez muitas coisas comigo, mas principalmente usou um aluno uchideshi masculino.

Então todos se vestiram para o almoço, menos eu que estava servindo chá, como eu fazia normalmente, ainda vestindo meu keikogi. Saito Sensei disse para esse homem, que eu acho que era o editor , “Bem, eu acho que eu posso demonstrar com ela, mesmo que ela seja uma garota,” e ele começou demonstrando, e não parou.

Isso aconteceu bem no meio do verão e estava realmente quente, muito quente. Então ele fazendo e fazendo por uns 40 minutos. Eu pensei comigo mesma, “Eu nunca mais verei nenhuma dessas fotos, elas nunca estarão na revista, porque eu sou uma mulher.” Bem, aparentemente, aquelas eram as únicas fotos que eles escolheram ! Quando Saito Sensei recebeu a revista, ele quietamente colocou-a no altar e não mostrou a ninguém, e eu achei que ele estava desapontado. Mas aí ele começou a receber chamadas de todo o Japão dizendo-o que o artigo estava bom porque ele usou uma mulher estrangeira como seu uke. Isso mudou completamente o jeito de Saito Sensei pensar, era muito mais facil usar uma mulher como uke e esperar esse tipo de resposta de outros.

Então, você voltou para Iwama em 1988, e aí ?
Durante esse tempo muitas coisas aconteceram. Eu tinha feito algumas demonstrações com Saito Sensei em 1976, mas isso foi no período 1988/89, quando eu era 4th-dan, que Saito Sensei realmente me pegou como uma uke profissional e como uma otomo (acompanhante de viagens). Ele nunca tinha feito isso com uma mulher anteriormente, e tão pouco com estrangeiros.

As coisas realmente mudaram e eu senti que eu abri caminho para muitas mudanças para as mulheres. Eu fui mais uma vez uma uchideshi a longo prazo, e eu estava fazendo parte das demonstrações. Eu estava nas demonstrações da amizade também, e eu fiz um numero de viagens diferentes com Saito Sensei.

Esse artigo no Wushu mudou tudo porque ele teve uma resposta positiva de todos. Também, todo o sistema de arma evoluiu durante esse tempo. Saito Sensei levantou-o realmente a um outro nível. Ele começou a pensar sobre emitir a certificação tradicional num formulário como pergaminho escritos à mão da transmissão para técnicas de armas. E as tecnicas de ken-tai-jo foram codificadas enquanto eu estava lá. Saito Sensei adicionou também muitos das variações às técnicas das armas, então isso era realmente excitante, e eu habilitada a fazer parte daquilo.

Antes de alguns dos pergaminhos serem dados, Saito Sensei escreveu-me um menkyo kaiden (certificado de proficiência avançado) que basicamente dizia, “Eu ensinei-lhe o repertório inteiro do ken-jo”. Eu realmente não entendi o que ele estava fazendo e eu pensei que ele estava me entregando o primeiro pergaminho de armas, no qual eu seria honrada em receber. Contudo, ele me escreveu isso em Inglês e ele foi sobre o que estava escrito com uma caneta de caligrafia e escreveu algo além daquela versão japonesa. Enquanto ele estava fazendo isso, alguém disse, “Você tem idéia do que é isso ? ” Eu disse, “Bem, isso é um certificado.” Eles disseram, “Não, isso é um menkyo kaiden. Você está recebendo o único menkyo kaiden que nós conhecemos.” Eu não sei se isso é verdade, possivelmente existe alguém que deve ter recebido um, em todo caso, era uma honra grande. Ele me entregou isso privativamente porque, com certeza, o pessoal japonês não teria ficado muito feliz ao me ver recebendo isto . Eu estava bem com isso.

Nós fizemos um monte de demonstrações e eu viajei muito com Saito Sensei. Esse período me promoveu como uke de Saito Sensei. Nós tiramos fotos para o livro Takemusu Aiki , e viajamos o mundo todo fazendo demonstrações. Saito Sensei teve a coragem de me levar a um caminho que não tinha sido feito antes.

Ele estava te levando porque você é tão boa, não porque você é uma mulher ou por outro motivo.
Sim, eu acho isso, mas isso não tinha acontecido antes, então pela primeira vez outra mulher poderia me olhar e dizer, “Hey, nós podemos fazer isso !” Eu apostei por elas. Eu sei que Saito Sensei não me tratou nem um pouco diferentemente só porque eu sou uma mulher. Ele me avaliou para um posto neutro. Isso é o que admiro nele. Ele realmente acreditava que a mulher e o homem deveriam ir mais longe do que realmente poderiam.

Você provou isso! Quantas pessoas poderiam voltar para Iwama e ficar esse tempo! Morar no Japão é muito difícil também.
Sim, é muito difícil.

Então você fez isso, e o que você mudou na cabeça de Saito Sensei.
Muitas pessoas tinham ido para Iwama e moravam fora do dojo como sotodeshi por muitos anos, mas é muito incomun para um uchideshi extrangeiro ficar por um tempo longo. Eu acho que ele reconheceu isso.

Então você tem ensinado desde 1984?
Bem, eu estava ensinando aqui e lá por volta de 1978, mas somente em alguns encontros em dojos. Em 1984 eu abri me próprio dojo em San Leandro, então isso tem acontecido em 18 anos.

Talvez agora não seja tão raro ver uma mulher subindo em um dojo mas eu acho que naquele tempo era até mesmo raro nos Estados Unidos, não era?
Sim era muito raro. Isso não acontecia

Nesta Aiki Expo eu vi muitas professoras (mulheres) fazendo demonstrações. Continua raro ver mulheres ensinando no Japão, mas não nos Estados Unidos atualmente. Então, voltando em 1984, para você ter um dojo deve ter sido bem incomum mesmo, né ?
San Leandro, aonde eu estou ainda, era uma cidade muito conservadora. Eu passei por um período difícil no começo. Pessoas vinham e perguntavam quem era o instrutor, e quando eles descobriam que era uma mulher, eles davam meia volta e partiam. Mas se graduando isso muda e agora isso não é mais um problema. Algumas pessoas procuram especificamente uma instrutora nos dias de hoje.

Mas você já tinha passado por isso com Saito Sensei e ele mudou ?
Sim, então eu sei que isso era possível. Eu somente persisti e finalmente as pessoas me reconheceram. Desde 1989 me envolvi em um tipo de circuito nacional e internacional de seminários. Meu dojo está crecendo, e nós temos mais do que eu poderia ter. Mas isso é maravilhoso. Esse seminário tem sido tão fácil pra mim, porque eu posso somente ir e ensinar ou treinar e eu tenho alguém próximo de mim o tempo todo me oferecendo chá, ou o que for. Meu dojo está funcionando por causa dos meus alunos, todos eles fazem coisas diferentes e eu estou um tanto feliz como tudo está se encaminhando. Eu mantenho as oportunidades de ensinar realmente ao lado dos professores de calibre elevado. Eu fico muito honrada, e eu sinto que as oportunidades se mantem abertas pra mim. Artigos de revistas, entrevistas em radio e algumas aparições na televisão tem acontecido pra mim, então me sinto bem com isso também. As coisas estão definitivamente seguindo uma direção positiva.

Como uma professora, o que mais você enfatiza ?
Eu te digo que a minha filosofia é, depois desses anos todos ensinando: Quando alguém vem para o dojo eu olho para eles e me pergunto em que caminho esse ser humano necessita se envolver ? Eu sou somente um instrumento, Eu não vou fazer nada por eles, e eu não vou fazê-los ser qualquer coisa. Eu somente faço meu trabalho espiritual. Eu faço minha meditação, e “esvazio” de modo que a energia possa se mover através de mim nos meus ensinamentos. Todas as minhas aulas são espontâneas. Vem através da minha conexão com o universo apenas, assim quando eu faço correções ou o que quer que seja, eu faço com a inspiração do momento. Meu treinamento é para continuar sendo esse tipo de professor, sem ser demasiado a resultados. No entanto eu vejo os resultados. Eu encontro uma maneira diferente para cada indivíduo para o todo seu potencial somente canalizando o que ele precisa. Isso funciona ! Eu acho que eu posso produzir alunos de alto nível.
Você é uma grande professora.
Obrigada. Eu amo ensinar. Isso é uma responsabilidade. Eu comecei ensinando num bom sentido da palavra quando eu tinha mais ou menos 22 ou 23 anos, então eu comecei meu dojo antes dos 30. Eu relativamente sempre fui uma professora nova comparada aos outros. Por quaisquer razão, eu tinha sido escolhida para ser uma pioneira. Você sabe, estou fazendo um montes de coisas primeiro por ser uma mulher e estou sendo capaz de quebrar as barreiras mesmo que outros não façam isso. Isso parece que me veio naturalmente. Não sou uma radicalista feminina. Eu somente amo o Aikido e adoro as mulheres progredindo, assim como adoro ver os homens progredindo também. Eu não tenho nenhuma agendinha especial.

Você é uma pioneira pelo o que fez, sem tentar ser única. Isso é como o Aiki Expo. Se você foca em ter pessoas juntas para fazer dinheiro, talvez muitas pessoas não estariam juntas desta forma. Stanley tinha uma visão e a visão é importante.
Sim, muito mesmo. E as pessoas respondem a isso. A maioria das pessoas responde a paixão. Se você tem paixão, as pessoas podem sentir isso.

Concluindo, você pode nos dar mais alguma impressão do Aiki Expo?
O Expo é muito mais profundo do que eu esperava. Existe um real de amizade acontecendo aqui. Existe de verdade um grande relacionamento acontecendo aqui. Isso está trazendo estilos diferentes e professores diferentes também. Nós estamos trocando informações um com os outros e procurando similar como as nossas filosofias são. Stanley fez um excelente trabalho em ter pessoas que prosperem com as outras facilmente. Eu sinto que muitas barreiras estão sendo quebradas aqui: a barreira japonesa/americana, a barreira masculina/feminina – mantendo me alinhada com todo esse alto-grau masculino e tal inspiração para as mulheres. – e também as barreiras entre as culturas.

Todos estão treinando juntos e realizando estilos diferentes, aikido ou aikijujutsu ou o que seja, estão somente “ajustando” para ajudar-lhes a ter um núcleo. Nós estamos somente usando essas formas como veículos, então nós não deveríamos levá-los tão seriamente.

Eu quero dizer mais uma coisa, tanto para homem como para mulher. Quando eu tive meu filho há três anos atrás eu pensei, “Oh, aikido vai parar e minha vida vai parar, e eu somente tomarei conta desta criança.” Mas o oposto aconteceu. Ele viajou o mundo todo comigo e isso chegou a um ponto onde sua energia é tão importante para os seminários. Ele tem uma influência sutil nas coisas. Até aqui sua presença tem sido algo especial. Eu o levei para Iwama e ele foi incrível.Ele estava como um uchideshi! Então, para mim, estar sendo uma mãe é uma parte do caminho das artes marciais que nós estamos ligados o tempo inteiro. Se você não estiver ligada seu filho pode até morrer. As vezes você vê e escuta coisas que não deveriam ser ditas que seu filho poderia ficar exposto a isso. Como uma familia você deve abrir seus braços e dar boas vindas as coisas novas.

Eu realmente encorajo mulheres e homens a ter uma família também. Isso intrega sua vida. Isso completa a sua vida. Você ainde pode fazer tudo aquilo que você quer fazer. Ter uma família faz tudo ficar equilibrado e todas as “peças” se juntam.

Obrigado por tudo.

Tradução Guilherme S. Borges

As 13 Regras para Instrutores de Aikido

1) Aikidô nos revela o caminho para unificação com o universo. O maior propósito do treinamento em Aikidô é coordenar mente e espírito e tornar-se uno com a própria natureza.
Como a natureza ama e protege toda a criação e ajuda todas as coisas a crescer e desenvolve, devemos ensinar cada estudante com sinceridade, sem discriminação ou parcialidade.

2) Não há discordância na verdade absoluta do universo, mas há discordância no domínio da verdade relativa. Combater contra outros e vencer somente traz vitória relativa. Não combater e ainda vencer traz vitória absoluta. Ganhar uma vitória relativa conduz mais cedo ou mais tarde para inevitável derrota.
Enquanto estiver praticando para se tornar mais forte, aprenda como você pode evitar o combate. Você irá progredir muito rapidamente através do aprendizado para arremessar seu oponente tendo prazer, e ser arremessado tendo prazer também, e pela ajuda mútua para aprender técnicas corretamente.

3) Não critique qualquer outra Arte Marcial. A montanha não ri do rio que é mais modesto, nem o rio fala mal da montanha porque ela não pode se mover. Cada pessoa possui suas características e ganha sua posição na vida. Fale mal de outros e certamente isso retornará para você.

4) As artes marciais começam e terminam com cordialidade, não na forma sozinha, mas no coração assim como na mente. Respeite o professor que o ensinou e não pare de ser grato especialmente para o fundador do Aikidô que mostrou o caminho. Aquele que negligencia isso não deveria se surpreender se seus estudantes fizerem pouco caso dele.

5) Esteja avisado contra presunções. Presunções não seguram somente seu progresso, elas causam sua regressão. A natureza não possui limites, seus princípios são profundos.
O que leva a presunções? Presunções são causadas por pensamentos baixos e um compromisso malfeito com nossos ideais.

6) Cultive uma mente calma que vem da parte universal do corpo pela concentração de seus pensamentos no ponto um no abdome inferior. Você deve saber que é uma vergonha Ter a mente fechada. Não dispute com outros meramente para defender seu ponto de vista. Certo é certo. Errado é errado. Julgue calmamente o que é certo e o que é errado. Se você está convencido que você está errado, faça correções corajosamente. Se você encontra alguém que é seu superior, aceite seus ensinamentos alegremente. Se qualquer um está errando, explique-lhe em silêncio a verdade, e esforce-se para que ele possa entender.

7) Até mesmo um verme de dois centímetros tem um espírito de um centímetro. Cada pessoa respeita seu próprio ego. Portanto não desrespeite ninguém nem machuque o respeito dele a si mesmo. Trate a pessoa com respeito, e ela o respeitará. Faça pouco caso delas que ela fará pouco caso de você. Respeite sua personalidade e escute ponto de vista dela, e ela o seguirá contentemente.

8) Não fique nervoso. Se você ficar nervoso significa que sua mente saiu do ponto um no abdome inferior. A raiva é algo de se ter vergonha no Aikidô. Não fique nervoso por você mesmo. Fique nervoso somente quando os direitos da natureza ou de seu país estão em perigo. Concentre no ponto um, e fique nervoso no ponto um. Saiba que quem fica nervoso facilmente perde coragem nos momentos importantes.

9) Não poupe esforços enquanto estiver ensinando. Você avança quando seus estudantes avançam. Não seja impaciente quando estiver ensinando. Ninguém pode aprender bem em uma vez. Perseverança é um ensinamento importante, assim como paciência, gentileza, e a habilidade de se colocar no lugar do seu aluno.

10) Não seja instrutor arrogante. Os alunos avançam no conhecimento quando obedecem a seu instrutor. Uma característica especial no treinamento em Ki é que o instrutor avança quando está ensinando seus alunos. Treinamento requer uma atmosfera de respeito mútuo entre instrutor e seus alunos. Se você vê um homem arrogante, você vê um homem com pensamentos baixos.

11) Quando praticar não demonstre seu poder sem um bom propósito temendo que você cause resistência na mente daqueles que o observam. Não discuta sobre poder, mas ensine da maneira correta. Palavras sozinhas não podem explicar. Em algumas vezes, ao ser aquele a ser arremessado, você pode ensinar com maior eficiência. Não pare o arremesso do seu aluno no meio do caminho ou pare seu Ki antes que ele possa completar seu movimento ou você dará a ele maus hábitos. Esforce-se sempre com palavras e atitudes para instigá-lo no Ki correto e na arte do Aikidô.

12) Faça qualquer coisa com confiança. Nós estudamos todo o princípio do universo e o praticamos, e o universo nos protege. Não há nada para se ter dúvidas ou medo. Convicção real vem da crença que somos uno com o universo. Temos que ter a coragem de dizer com Confucio: Se eu tenho uma consciência leve, eu encaro um inimigo com dez mil homens.

(Extraído do Aikido in Daily Life. Trad, Kendi Chikude