SANGEN – Triângulo, Círculo e Quadrado

 

Saito Sensei explica o triangulo, o circulo e o quadrado:

Triângulo – San kaku

Circulo – En

Quadrado – Yon Kaku

“O primeiro requisito do Aikido é a noção de Aiki . O segundo requisito é a posição  no padrão dos pés.”
“Assume a postura oblíqua e no caso de um ataque em grupo, poderás ser capaz de sair para o lado de cada atacante com a posição de pés . Conclui o teu movimento com posição triangular reversa, (Hitoe-mi) ou (Ura Sankaku).”
“Os movimentos de Aikido podem ser resumidos através do seguinte, de acordo com os segredos da arte  passados oralmente pelo fundador:
Entra na esfera do teu oponente triangularmente , lidera-o circularmente e termina quadrangularmente. A posição de pés , balanceia os movimentos do corpo no Aikido.”

“Várias vezes ouviu-se o Fundador descrever o  Aiki como uma conexão do quadrado, triangulo e círculo. Mas fica sem significado esta conexão se não se souber que o triangulo é a raiz destes elementos. Isto porque o círculo é a forma circular (corpo em movimento) do triangulo. E o quadrado são dois lados opostos juntos (num estado de controle).”

Ou seja:

  • Triangulo:  corpo, centro, do interior para o exterior, de baixo para cima.
  • Círculo:  espaço, estado de alerta, sentir, ligações, a não resistência.
  • Quadrado:   terra, gravidade, estabilidade, equilíbrio, impulso.

Textos traduzidos e adaptados da série de livros:
Morihiro Saito Sensei Tradicional Aikido vol.1,2,3,4 e 5 Training Work Wonders – Minato Reserarch & Publishing Company.

Uma visão mais filosófica:

Texto extraído do livro “Os Segredos do AIKIDO”, de John Stevens

Muitas vezes Morihei Ueshiba observava, “A única maneira que encontro para explicar o Aikido é desenhar um triângulo, um círculo e um quadrado”- as três proporções mais perfeitas da geometria.
“Um triângulo com seu vértice voltado para cima simboliza o fogo e o linga cósmico; com sua ponta voltada para baixo, ele representa a água e o yoni cósmico. Os três lados do triângulo representam várias trindades: céu, terra e humanidade; mente, corpo e espírito; passado, presente e futuro. Um triângulo significa a dimensão do fluxo de ki.
O círculo é o emblema universal do infinito, da perfeição e da eternidade. A natureza se expressa em círculos, circuitos e espirais. O círculo é zero, o vazio que preenche todas as coisas. Ele representa a dimensão líquida.
O quadrado é estável, organizado e material. Ele é a base do mundo físico, composto de terra, água, fogo e ar. O quadrado simboliza a dimensão sólida.”
Também é importante conceber os sangen em suas formas tridimensionais: o tetraedro (pirâmide), a esfera e o cubo. Sobre as três figuras fundamentais Morihei dizia:
“O triângulo representa a geração de energia e a iniciativa; é a postura física mais estável. O círculo simboliza unificação, serenidade e perfeição; ele é a fonte de técnicas ilimitadas. O quadrado retrata a forma e a solidez, a base do controle aplicado.”

 

 

 

A repetição é a mãe do aprendizado!

Por Kishomaru Ueshiba- do livro O espirito do Aikido – tradução de J.F.Santos – Brasilia Aikido do Shikanai

Algumas mulheres e homens podem apresentar resistência às práticas repetitivas das posturas básicas, mas é uma preliminar necessária para aprender as técnicas. aprender a distanciar-se corretamente (ma-ai) ao enfrentar um oponente pode ser inesperadamente difícil, tanto quanto realizar os movimentos de pés de uma maneira fluente e contínua. O cultivo do poder da respiração ou ki, originando-se no centro e estendendo-se através dos braços e mãos, pode, inicialmente, se constituir num problema para algumas mulheres. O domínio do ukemi, as quedas, mantendo-se sempre o próprio centro e o equilíbrio, tem que ser praticado muitas e muitas vezes. As dificuldades encontradas pelas iniciantes, incluindo confusão, transpiração, contusões ocasionais, não parece detê-las. Segundo elas, as dificuldades são mais um desafio do que um desencorajamento, e realmente intensificam a motivação para dominar o aikidô.

Os homens fazem comentários semelhantes, mas parece que as mulheres têm mais resistência, paciência e vontade de continuar no caminho, e isso, provavelmente está relacionado com os poderes criativos inconscientes que elas possuem. As mulheres que entram pelos portões do aikidô raramente abandonem o treinamento logo depois de terem começado. Pelo menos oito em cada dez continuam, e quando mais tempo e mais profundamente estudam, mais elas se tornam encantadas com o aikidô. A razão disso não é sempre clara, mas uma idéia geral pode ser obtida dos comentários feitos em entrevistas em jornais e revistas, e em ensaios que aparecem de tempos em tempos nos artigos publicados pelo Hombu Dojô.

“Não podia nem mesmo dar uma cambalhota quando comecei o aikidô, então quando pela primeira vez caí rolando para frente, senti como se tivesse ganho meu dia.” “Em seis meses, meu corpo se tornou tão leve como uma bola, quando era arremessada. Acho que o aikidô me tornou mais forte como pessoa, e apesar de não pensar particularmente sobre o budô, acredito que estou aprendendo a apreciá-lo.” “Devido à prática constante do seiza, minha postura realmente melhorou. Meus professores de cerimônia de chá e de arranjos florais freqüentemente mencionam o fato, e o de dança japonesa diz que meu movimento de pés e postura tornaram-se muito bons.” “Quando praticava judô, sempre sentia um complexo de inferioridade por causa dos homens, que eram mais fortes, e não gostava de algumas técnicas de chão. Com o aikidô, como a meta não é a exibição de mera força, e nenhuma das técnicas é ofensiva, eu realmente gosto dele.” “Agrada-me muito ser uke, porque quando sou arremessada, todo meu orgulho e vaidade desaparecem.” ” É quando sou capaz de tornar-me eu mesma através da prática, penso mesmo o aikidô é algo como Zen, um Zen dinâmico. ” “Uma das razões pelas quais continuo no dojô é sua atmosfera harmoniosa. Pratico com vários tipos de pessoas, e não há rivalidade, porque ninguém ganha ou perde. Isso afetou minha própria atitude em relação aos outros. Tento trabalhar com eles ouvir mais cuidadosamente o que têm a dizer.” “À medida em que comecei a dominar o princípio do movimento esférico, minha habilidade em lidar com minhas tarefas diárias melhorou. Não perco mais meu tempo, e o meu mundo tornou-se mais rico e completo. O aikidô é uma parte necessária da minha vida. Agora não poderia mais viver sem ele.”

Comentários como esses vêm de professoras de escolas, funcionárias públicas, donas-de-casa, estudantes, médicas, secretárias e outras de várias idades e profissões. Apesar das diferenças, percebo um tema comum. Todas captaram mais ou menos a essência do aikidô, intuitiva e experimentalmente, e os seus comentários, diferindo daqueles feitos pelos homens, são mais estreitamente relacionados com a vida diária. Isso significa que ao passo que não há discriminação entre homens e mulheres no conteúdo e prática do aikidô, uma distinção natural aparece nas respostas a ele. Isso é bom para o aikidô porque quebra os estereótipos que as pessoas têm sobre artes marciais.

No aikidô, a individualidade de cada pessoa é respeitada, e a força de cada indivíduo é desenvolvida e alimentada. Enquanto o treino e a filosofia do aikidô têm aplicação universal, cada reação, seja de homem ou mulher, depende do indivíduo. O Aikidô não é masculino nem feminino, nem deveria haver qualquer pressuposição sobre como homens ou mulheres devem atuar ou desempenhar no aikidô.

Um outro fenômeno recente no aikidô é o aumento no número de famílias que se tornam envolvidas na prática. Como foi mencionado anteriormente, muitos pais estimulam seus filhos a se dedicarem ao aikidô. Então, à medida em que visitam regularmente o dojô, eles próprios se interessam e começam a praticar. Isso é especialmente verdadeiro em relação aos pais e avós que já haviam treinado aikidô na sua juventude e agora estão incentivando seus filhos e netos. Um impressionante números de mães que trazem seus filhos para praticar aikidô também se torna praticante regular.

Inspiração, entusiasmo e mente de principiante

Inspirado na idéia de uma mensagem de um grande Sensei escrevo minha mensagem para voces. Com minha experiencia, com minha vivência. Embora seja meu texto, a cerne da mensagem é a mesma.

Como sempre falo, eu faço aikido a quase 21 anos e estou aprendendo. Por aprender, eu quero dizer tornar mais confortável para aplicar o aikido com o mínimo esforço, com o efeito máximo. As vezes acho que estou conseguindo. As vezes acho que estou desaprendendo. Normal. Nosso nível de exigencia cresce. Voces devem sentir isso. (rs) Mas isto é benéfico para voces todos que querem aprender realmente aikido, e encontrar mais a frente o seu caminho como tenho encontrado o meu. Como digo nossa escola não é para se desfilar de kimono bonito ou de hakama apenas. Deixemos isso para outros. Envelhecer é natural, mas ainda estou continuando a crescer. O progresso é a esperança. Crescimento é a esperança. É por isso que eu ainda posso viver minha vida com esperanças e sonhos. Por exemplo, o crescimento dentro do aikido é como escalar a montanha. Se o objetivo é chegar ao topo, então vá para cima! Mas, quanto mais perto você chegar ao topo, mais difícil se torna a subida. Algumas pessoas sobem pouco do caminho até a montanha sem jamais encontrar o caminho até o topo. Apenas andam para o lado e em círculos. Eles andam muito, mas eles nunca vão ao topo. Uma dificuldade do Aikido é que é uma arte marcial sem competição (esqueçam as competições veladas) e sempre precisamos de uma prova de que avançamos, somos efetivos. Nessa hora muitos dos que andam em círculos lá no sopé da montanha apelam para o misticismo para se convencer e convencer aos outros que estão caminhando para cima. Minha missão é ajudar vocês a encontrar o caminho mais lógico para chegar ao topo da montanha. Não por que cheguei lá, mas por que continuo tentando, e avançei alguns metros a mais que voces. O Aikido não pode ser completamente descrito em palavras, talvez eu possa explicar 50% em palavras, mas o resto você deve encontrar por si mesmo. Eu não posso explicar completamente, mas eu posso te mostrar aplicando tecnicas. Algumas vezes facilmente. Algumas vezes com mais dificuldade, mas eu ainda estou aprendendo. E sempre terá de ser assim: A mente de principiante é a chave do crescimento. Eu posso te mostrar que você tem também a capacidade de ir em frente, subir a montanha, pois nós do ganseki estamos acostumados com a rocha. Se você pratica há 20 anos, você pode entender a técnica, mas você precisa de uma vida para descobrir a melhor maneira de chegar ao topo da montanha e você tem que descobrir como crescer para sempre. Venham comigo. Esta é minha mensagem de Ano Novo: Por favor, tente novamente treinar firme neste novo ano e continue a desafiar-se e crescer para sempre. A base da montanha é pouco para voce. Feliz 2011!

Um olhar de senso comum para o Aikido

por Yoshio Kuroiwa

Traduzido por Jefferson Bastreghi

Publicado originalmente em Aiki News (February 1985)

Como não há competições no Aikidô, nós devemos avaliar cuidadosamente a natureza de nossa prática. O lado espiritual da prática também é importante, mas se nós o enfatizarmos demasiadamente, o nosso treinamento se tornará idealista por natureza e o aspecto realista será negligenciado. Kata (forma) e waza (técnica) devem ser corretamente reconhecidos na prática.

De Kata para Waza

Kata deveria ser praticado seguindo certa ordem ou método pré-arranjado, o qual é baseado numa relação racional (rial). Desta forma, nós não estamos caindo porque estamos sendo arremessados, mas sim praticando um kata que foi criado para sermos arremessados. Quando nós dominamos um movimento racional (kata), ele é expresso como um movimento natural (waza). Isto é, se você se torna hábil a executar um kata espontaneamente como resultado de prática repetida, você não está mais executando um kata e sim um waza. Nós aprendemos através do kata e nos tornamos inconsciente do fato. Em outras palavras, enquanto os movimentos necessitam de nossa atenção, eles são kata, quando os kata se tornam espontâneos, eles se tornam waza.

Nós praticamos inicialmente os kata básicos (kihon waza, técnicas básicas) para aprender os movimentos do Aikidô. A base é o padrão (o modo de ver e pensar) e uma perspectiva de senso comum para corretamente observar as coisas. Nós devemos entender a essência dos kata, não a aparência exterior dos mesmos.

Por exemplo, em um quebra-cabeça envolvendo peças de madeira que se encaixam, sabemos o lugar (estabilidade) de cada peça entendendo sua forma e natureza. Do mesmo modo, nós podemos expressar kata, os quais são comuns a todas as pessoas, mostrando as partes básicas comuns da estrutura do corpo humano (por exemplo, pontos como os cotovelos só se dobram para dentro) e devemos usar estas partes básicas racionalmente. Pode parecer exagerado usar os termos “racional” ou “lógico”, mas estes conceitos são somente um assunto de senso comum e não precisam de explicação.

Enquanto persistirmos em ver kata superficialmente, nós iremos começar a pensar que eles são de importância especial. Não podemos, sistematicamente ou racionalmente, explicar qualquer kata meramente aprendendo de uma maneira repetitiva sem um entendimento do porquê certos kata são considerados básicos. O que nós adquirimos aprendendo só repetitivamente é a preservação da forma (a transmissão da forma externa) e não a habilidade de criar (compreensão da essência do kata). Em outras palavras, nós não entendemos o quê estamos fazendo.

Base não é algo a ser praticado, mas a ser entendido. O que ela demonstra é a mecânica de como desequilibrar um oponente e criar uma oportunidade para a aplicação da técnica. Se você entende isso de forma errada significando liderar e guiar, irá passar a acreditar que alguém pode liderar o seu oponente circularmente. Isto acontece porque estamos inconscientes do fato de que liderar um parceiro circularmente implica em separação e não notamos que a prática é uma expressão de yin e o uso do poder em Aiki envolve empurrar.

Kata: Uma ferramenta para o treinamento

Nos treinamentos nós praticamos muitas técnicas, mas elas são todas variações de uma posição única. Por esta razão, ikkyo, shihonage e outras técnicas são a mesma coisa. A razão pela qual elas parecem diferentes é porque somente a aparência externa delas é vista. Kata são a expressão de um número de variações através de movimentos a partir de uma única posição e são nada mais do que uma ferramenta para treinar o corpo a se mover livremente. A idéia que um é todos e todos são um não é somente uma matéria espiritual. Isso é válido para nossos corpos também.

Não é que haja um método diferente dependente da técnica, por exemplo, ao dizer que ikkyo é praticado de um modo e tal e tal técnica de outro modo. Elas são todas manifestações de um único movimento. Podemos dizer que praticamos vários kata a fim de entender um único movimento original. Não é que ikkyo e shihonage têm valor como técnicas básicas. Nós as praticamos somente como meios convenientes de entender o yin e o yang de uma posição (fundamental).

A prática do Aikidô é uma prática yin. Usando Judô como um exemplo, é muito mais a prática com parceiro do que randori (prática livre). Prática yin representa primariamente uma seqüência de prática combinada. Desta forma, a mudança no treino da recepção do ataque à aplicação da técnica é somente possível onde existe uma diferença em habilidade. Quando a habilidade de um oponente é superior, isto não é possível. Este é um ponto-chave na prática.

Waza (movimento natural) são expressados de acordo com o nível da pessoa e a essência dos mesmos (técnicas) é manifestada diferentemente a cada vez. Isto se dá porque o que nós naturalmente possuímos (nossa habilidade como é posta para fora através da prática repetida) é expresso através de certas relações (formas).

Aikido e os aikidos ou Aikido e flores verdadeiras

Tamura Sensei - * 1933 / + 2010Artigo de Nobuyoshi TAMURA Sensei, 1979. Publicado originalmente na Revista da Federação Europeia de Aikido com o título “O Aikido e os Aikidos”
O Mestre Nobuyoshi TAMURA foi delegado da Aikikai de Tóquio para a Europa. Nasceu em 1933 em Osaka, em 1953 entra no AIKIKAI HOMBU DOJO como uchideshi do fundador Morihei Ueshiba. Em 1964 é enviado para França pelo fundador onde permaneceu até hoje.  Em 1999 é condecorado pelo governo Francês com a ordem “Chevalier de l’ordre National du mérite”. Faleceu em 2010.

Aikido e flores verdadeiras

Hoje em dia qualquer de nós pode ver no supermercado, no restaurante ou sobre uma tumba, e até nas igrejas, flores artificiais. Estas flores são fabricadas tão delicadamente que às vezes podemos confundi-las com as verdadeiras flores; são práticas, não necessitam nem de sol nem de água, são eternas e por muito tempo uma alegria para os olhos.
No entanto não suporto tais flores perto de mim. Não têm verdadeira vida. São todas parecidas, nenhuma difere da outra, nenhum botão com vida, sem rebentos, sem perfume e, quando chega ao Outono, não há sementes, nem folhas amarelas ou avermelhadas. Nem sequer caiem. É a imobilidade, e apesar da beleza das cores e das formas, a impressão que se experimenta é a de um mundo morto.
Em contrapartida, acerca das flores verdadeiras, frágeis, efémeras, mutáveis, nunca estáveis, sentimos o fluxo de uma vida eterna. Flores desaparecidas, folhas caídas no solo húmido do Outono, o silêncio imóvel do Inverno, sabemos que há aí uma promessa de vida, o retorno da Primavera.

As flores artificiais, tão belas, tão parecidas com as verdadeiras, que requereram para o seu fabrico tanta imaginação e talento, não serão nunca flores verdadeiras. Essas flores levam consigo tristeza eterna, o pesar de uma vida que não conhecemos, que não soubemos dar-lhes.
O Mestre Ueshiba faleceu em 1969, faz dez anos. Mas a sua imagem está sempre presente diante dos meus olhos. Vejo-o, sorridente, indo e vindo, ensinando.
Dez anos é pouco tempo, mas o que é que vemos? O que é que ouvimos? Quantos dizem: “O meu aikido é o verdadeiro Aikido”, “o meu Aikido é a evolução moderna do Aikido”, “eu ensino Aikido”. Surgem escolas… de onde vêm?
Confesso que não compreendo, este fenómeno não me entra na cabeça.
Mas o Aikido, todos os Aikidos, provêm de uma semente plantada por O’Sensei. Se são tão diferentes é, sem dúvida, porque nem todos cresceram na mesma terra, porque não receberam o mesmo sol, isso é o que explicaria a sua diferente cor, o seu aroma mais ou menos intenso, mas de qualquer modo são todos Aikido nascidos da mesma espécie, da mesma família.
No entanto, às vezes, chamamos Aikido a uma flor que não surgiu da mesma família de flores. Por exemplo, em França e Bélgica chama-se “achicoria” a duas plantas totalmente diferentes. Isto é aceitável e explica-se pelo facto dos homens poderem confundir as palavras e dar, assim, uma falsa denominação sem graves consequências.
Mas se alguém diz que uma túlipa artificial é da mesma família que uma túlipa verdadeira e que por isso devemos catalogá-la ao lado desta, isso é inaceitável.
Um falsificador que imita o quadro de um grande mestre comete uma falta que, no entanto, não é igual à de quem quer fazer crer que a flor artificial é uma flor verdadeira.
Na flor real há vida, na outra, pelo contrário não há vida.
Este tipo de falsificação é um ataque à divindade, uma blasfémia.
Aquele que pretende aprender Aikido por livros e filmes, ou ainda pior, a partir da sua imaginação que o leva a inventar movimentos, e que de seguida recebe dinheiro pelo seu ensino, este deveria saber que no seu Aikido não há rasto da herança de O’sensei, não existe a vida que o Mestre transmitiu. É um Aikido artificial. Acho que receber dinheiro e enganar as pessoas deste modo, é um crime.

Mudança interior e de comportamento por meio das artes marciais.

…..O Japão é um país de tradição belicosa. Durante séculos, houve conflitos de diversas escalas configuraram mente e espírito deste povo. Desde a formação do império, as tentativas de invasão mongol e a era das guerras civis (Sengoku Jidai), os japoneses sempre tiveram a consciência de que seu país era pequeno e limitado em termos de recursos naturais. Quase insignificante perto de potências estrangeiras, tal como a imensa China continental. Essa noção de inferioridade territorial possivelmente fez com que percebessem que sem o mais árduo esforço em desenvolvimento, poderiam ser dominados a qualquer momento.

 

Yabusame – belíssima tradição guerreira

 

…..Uma vez que os recursos disponíveis são limitados, é necessário um grande cuidado no seu uso e uma extrema especialização daqueles que estão envolvidos nas principais atividades de produção. Uma metodologia muito desenvolvida é requerida para produzir e passar os conhecimentos adiante.

…..Os japoneses são conhecidos no mundo todo por duas características principais: serem muito metódicos e decididos. Método e decisão são elementos básicos de processos administrativos que visam contemplar e desmantelar um problema para, através da criatividade e/ou esgotamento de possibilidades, alcançar uma solução. Reflexo da necessidade de analisar muito bem os pormenores para não desperdiçar recursos valiosos. Já o elemento decisão tem a ver com a certeza de que está no caminho certo, após muito ponderar. Posso afirmar que é um reflexo tanto disso quando da objetividade marcial inata deles, que segundo princípios elementares, um ataque hesitante, sem uma absoluta certeza pode falhar. Uma vez decidido, um japonês iria até o fim. Quem nunca ouviu falar que um japonês é “oito ou oitenta”?

…..Essa capacidade de síntese entre método e decisão, além de trabalho árduo levou seu país ao status de 2ª maior economia do mundo poucas décadas após uma destrutiva guerra. Mas qual é a origem de tal pensamento metódico e dessa sede de aperfeiçoamento?

…..Os treinamentos marciais japoneses levam em consideração tais elementos e por conseqüência, tornam-se ferramentas para o desenvolvimento espiritual do guerreiro/lutador/praticante. Abro um parêntese aqui para esclarecer sobre o emprego do termo “espiritual”: diferente do pensamento ocidental, onde espiritualidade está fortemente conectada com religiosidade, aqui o emprego da palavra se refere ao domínio da mente sobre as necessidades do corpo, utilizando-se da força de vontade interior para extrapolar limites físicos e disciplinar aspectos considerados negativos da personalidade humana, como preguiça, falta de perseverança e agressividade. Diz se que treinar o espírito é treinar a vontade de vencer.

 

Treino de Aikido

…..Ao se tornar cada vez mais experiente em sua tarefa, os detalhes técnicos são amplamente estudados em sua forma mais básica, possibilitando ao corpo reagir com posturas e movimentos considerados corretos pela teoria da arte em questão. A partir desse ponto é que possivelmente perceber que a evolução é diretamente proporcional ao esforço investido no planejamento técnico e físico do treinamento. E sem dúvida, algo muda na mente deste praticante maduro.

…..Tornando-se graduado em sua arte, é possível perceber que existe uma forte confiança em sua força e sua técnica, que o leva reflexões cada vez mais profundas a respeito da natureza do conflito, da agressão e da defesa pessoal.

…..A violência e uma eventual fatalidade são consideradas contraproducentes. É interessante que, através do treinamento de técnicas violentas percebemos que é lamentável que uma situação vá até o ponto onde elas sejam necessárias. Parece que, somente onde falha a diplomacia é que o uso da força militar será necessária. E a falha da diplomacia é a falha do próprio treinamento, tanto valorizado.

…..Eis aqui o ponto onde podemos introduzir a noção de “caminho”. JuDO, Aikido, Karate-DO, KenDO. Todas essas artes carregam o sufixo que indica que são mais do que uma mera prática marcial voltada para o conflito. Suponho que uma boa adaptação do termo “caminho” (道) seria “vivência” , pois a despeito de formulações históricas, tais artes podem ser consideradas meios de desenvolvimento físico e mental, onde o praticante está conectado a uma série de conceitos morais, éticos, filosóficos e até mesmo religiosos, que influenciariam seu modo de ser e pensar, pela vivência segundo tais princípios.

O Objetivo do Aikido é disciplinar o caráter humano pela aplicação dos princípios da espada japonesa.

O propósito de se praticar Aikido é:

Moldar a mente e o corpo,

Para cultivar um espírito vigoroso,

E pelo treinamento rígido e correto,

Lutar para desenvolver-se na arte do Aikido,

Obter respeito à cortesia e à honra,

Para relacionar-se com os outros com sinceridade,

E para sempre ter como objetivo o auto-aperfeiçoamento.

Dessa maneira será possível uma pessoa amar seu país e sociedade, contribuir para o desenvolvimento da cultura e promover a paz e prosperidade entre todos os povos.

…..Porém, muitos praticantes de artes marciais acabam por se tornar “mestres de si mesmos” ao se tornarem “teóricos marciais”, com conhecimento e discurso daquele que se considera esclarecido nesta complexa vivência, mas sem a carga de treinamento necessária para a real compreensão daquilo que se está falando. Mesmo o espírito estando aparentemente polido, o corpo pode não estar talhado suficiente para que haja real compreensão daquilo que a arte propõe. Estaria próximo da hipocrisia: muito se fala por discursos prontos e frases de efeito, pouco se faz ou se mostra.

…..Mesmo assim, é possível detectar uma mudança de comportamento no praticante de artes marciais, um tanto independente de qual seja. Fazer uma pessoa viver de acordo com princípios éticos, morais e afins geralmente foi papel da educação familiar, amparada pela orientação religiosa. E a possível falta destes valores na sociedade atual talvez se tenha criado um novo nicho para a arte marcial: a doutrinação espiritual.

 

Mokuso – meditação

…..Todo praticante de arte marcial conhece alguém que pode ser considerado um fanático em sua arte. Aquele colega considerado “bitolado”, não necessariamente talentoso, que vive e respira os conceitos da arte e os exterioriza sempre que pode para aqueles que tem paciência para ouvi-lo. O treino torna-se o centro de sua suposta recém adquirida moral e seu instrutor se torna o ídolo máximo – geralmente considerado invencível. Percebe-se um paralelo muito claro em relação ao fanatismo religioso.

…..Geralmente, esta mudança pode ser considerada positiva (explico a seguir) mas aconselho para ter cuidado para não se envolver com charlatães. Falsos mestres se aproveitam de pessoas leigas em cultura oriental e na estrutura federativa das modalidades marciais para extorquir dinheiro.

…..Mas retornando aos efeitos psicológicos negativos do treino levado exageradamente a sério: o praticante começa a se sentir superior e mais esclarecido do que qualquer outra pessoa ao discutir os aspectos marciais de sua arte ou de outras modalidades. Essa arrogância pode levá-lo a tratar mal novatos e pessoas leigas que se atrevem a ter uma opinião, além de possuir um sentimento falso de que é “digno” suficiente para treinar, e se acha no direito de julgar a motivação de outras pessoas em relação ao treinamento. Em casos extremos, torna-se um indivíduo alienado e violento, ansioso por testar suas habilidades, sozinho ou em grupo, possivelmente em pessoas leigas e fisicamente menos privilegiadas.

…..Mas nem tudo é exaltado pelo ego ou por fanatismo. Por outro lado, existe o preenchimento de valores que até então poderiam estar ausentes de prática, percebidos como virtudes necessárias para o desenvolvimento do bom praticante de artes marciais. E este é o ponto onde o valor do treinamento é justificado no discurso de grandes mestres e veteranos de prática.

…..Existe um estado de comparação entre a prática marcial séria e o cotidiano pessoal e profissional. Situações e atividades simples são desenvolvidas com mais cuidados, mais atenção, concentração e observação. Decisões envolvendo pessoas começam a ser mais bem planejadas, através de estratégia tanto de conduta do tratamento aos indivíduos quanto dos benefícios e ganhos como consequência. Essa mudança de postura do praticante é creditada à arte marcial, que através do treinamento esclarece a necessidade da cortesia e educação – graças à presença de um instrutor orientador e colegas parceiros de treino é que a evolução do aprendizado se torna possível. Sozinho, treinando golpes a esmo, nem sempre.

…..Dessa forma, é comum que as pessoas mais próximas do praticante de artes marciais percebam sutis mudanças em seu comportamento. Tal qual um iniciado em alguma doutrina religiosa, suas ações e palavras denunciam que ele abraçou uma nova postura em relação a vida. E muitas vezes, não faltam comentários ou brincadeiras de amigos e familiares utilizando o termo “lavagem cerebral”.

…..O fato é que, uma vez que pessoa abraça com profunda sinceridade este modo de vida, algo que lhe faltava, principalmente em termos espirituais (aqui, uma pequena licença para estabelecer um paralelo religioso) torna-a mais completa. Uma religião que mostra ao convertido uma forma de pensar e ver o mundo de forma construtiva e saudável para corpo e mente. Além do mais, existem alguns “ritos cerimoniais” e formalidades da cultura oriental que realmente parecem ter apelo religioso, como reverência a fotos de mestres falecidos, altares xintoístas ou cartazes escritos em kanji.

 

Tou-rei: reverência à espada

…..Qual é conclusão que pode ser oferecida? É interessante manter a mente flexível em relação a opiniões políticas e humanas de forma geral. Certo e errado podem ser muito relativos, por isso é preferível pensar em termos de “positivo” e “negativo”. Se o praticante se torna obsessivo em relação à prática, existem conseqüências naturais que ele deve encarar e não são necessariamente boas ou más. O fanatismo é considerado extremista por estar longe de um centro mais equilibrado. Por exemplo: negligenciar a vida profissional e social constantemente em função de treinamentos definitivamente não agrega nada, pois exclui o praticante da oportunidade de por em prática seus valorosos conceitos morais ao auxiliar as pessoas e fazer parte de algo maior.

…..Por isso, é interessante hoje em dia que haja a busca pelo equilíbrio entre as todas obrigações, sem exageros e sem negligências. Afinal, atuamos em diversas frentes no mundo moderno: somos profissionais em alguma área, estudantes, somos filhos, somos maridos, esposas, amigos e seres que buscam um propósito e um lugar no mundo. Foi-se o tempo em que a dedicação máxima, do custe o que custar, no desempenhar de uma função era considerado correto e valorizado. Dar a vida pela causa poderia ser nobre, mas é impraticável num mundo onde não podemos nos dar ao luxo de sermos egoístas e acreditar que nossa existência e a responsabilidade sobre ela estão apenas em nossas mãos. Vamos ser mais livres…

Treinamento de Armas no Aikido Aikikai: Necessário?

Entrevista com Christian Tissier

Você considera o trabalho de armas parte integrante da prática do Aikido?

Fundamentalmente, não. Mas eu vou desenvolver o meu ponto de vista.

A organização Aikikai, como você sabe, não tem curso de armas e ponto final. Tem alguns bokkens se alguém quiser fazer alguns suburis, mas não é bom fazer muito e, sobretudo evitar fazê-lo em duplas.
Mas eu sempre fui muito interessado pelo espírito do ken, deste jeito de ir direto à ação especifica do kenjutsu, não circular. Eu tive a sorte de ser formado em kenjutsu pelo Inaba sensei no Shiseikan.

Mas eu não considero, que seja indispensável treinar armas, para treinar Aikido. É interessante usar o treino de armas, como um suporte lúdico, que desenvolve outra distância. Mas podemos dizer também que o boxe ou modalidades que usam chute e socos, são suportes que podem trazer algo que interesse neste sentido, mas não é a essência do Aikido.

Eu ensino sempre o ken nos seminários de uma semana por que interessa a muitas pessoas, mas é um ‘plus’, não é o essencial. Eu não sou contra aqueles que desenvolvem sistemas de armas, mas, Aikido é Aikido. As armas podem fazer parte, mas podemos ter alguém que nunca tenha treinado armas e que pratica um Aikido correto com as mesmas.

Entrevista com Tamura Sensei Aikido e buki-waza

A prática de armas é indispensável no Aikido?

O Aikido nasceu da prática de armas, o tai-jutsu e os buki-waza são apenas um. Se alguém se gradua no trabalho das mãos vazias, ele utilizará as armas corretamente também. E vice-versa. Mas é muito raro isto nos acontecer nos dias de hoje. Da mesma forma que algumas pessoas praticam bem na posição de pé, mas não o fazem com a mesma qualidade no suwari wasa, algumas pessoas parecem praticar bem com as mãos vazias mas revelam seus limites com uma espada na mão.

Sobre o mesmo assunto um trecho de uma entrevista com Shimizu sensei:

É importante o trabalho de armas no Aikido?

Eu não creio que seja. Hoje existe cada vez mais professores que ensinam o Ken, mas no tempo de O sensei, ele ficava zangado se nós praticávamos muito com a espada. Ele dizia:” O Aikido é o taijutsu, então estudem profundamente o taijutsu”. No treinamento é bom variar as situações de ataques, e neste sentido é útil trabalhar contra os ataques de Ken, Jô e Tanto. Mas o trabalho de espada contra espada não me parece necessário. As pessoas que querem praticar isso podem praticar o Kendo.

Hoje as pessoas falam de Aikiken, Aikijo, e aí reina uma grande confusão sobre o que é Aikido. A essência do Aikido é o taijutsu, é necessário manter este espírito. Mas podemos utilizar a espada para aprender o riai* e os os princípios.

Fisicamente e é mais confortável praticar o bokken ou a espada. Não se finaliza, nem projeta nem imobiliza. (Risadas)

*Riai é a harmonia dos princípios. Riai refere-se aos princípios mútuos dos movimentos encontrados no treinamento tradicional de Aikido. O movimento do corpo, dos quadris, das mãos e o kamae estão conectadas um ao outro.

A compreensão do Básico

Uma deficiência comum no treinamento de hoje é a falta da prática dos Atemi, ou ataques em pontos vitais. Os Atemi são usados para enfraquecer ou neutralizar um ataque do oponente  para criar-se assim uma situação favorável na qual pode-se   executar uma técnica. Em muitas situações é virtualmente  impossível desequilibrar um oponente forte, suficientemente para aplicar uma técnica sem recorrer-se ao Atemi. Aqueles que afirmam que o uso de tais ataques (executados com o intuito de  tirar atenção do oponente do objetivo principal da técnica) é   muito violento ou “não é Aikido” ignoram os conceitos do Aikido  ensinados pelo fundador que dava grande ênfase sobre a   necessidade de tais movimentos durante o treinamento. Os Atemi   são uma parte essencial das técnicas básicas e também avançadas,   e não devem ser omitidos de sua prática.

O fundador sempre iniciava as sessões práticas com os exercícios  de Tai no Henko e Morote Tori Kokyo Ho. Ele terminava cada  prática com o treinamento de Suwari Waza Kokyu Ho. Os exercícios   de Tai no Henko constituem a base dos movimentos Ura, ou   movimentos girando, e os dois Kokyu Ho, ou métodos de respirar,   ensinam como respirar corretamente, a coordenação apropriada do   corpo e como estender o Ki intensamente.

No treinamento do Aikido nós abrimos nossos dedos para estender o Ki através dos braços.

Abrir os dedos é uma forma de aprender as técnicas básicas, um treinamento que permitirá a você executá-las sem usar qualquer    força. Abrindo os dedos quando seu pulso é subitamente agarrado torna-o mais grosso, e dá à você uma vantagem. Para aqueles  aprendendo defesa pessoal é dito para abrirem seus dedos quando  agarrados porque o braço torna-se difícil de segurar.

O Ki é algo adquirido naturalmente através da correta prática  dos fundamentos básicos.

Se você se preocupar de mais com o Ki, você será incapaz de  mover-se. O Ki se manifestará por si mesmo naturalmente se você   estiver treinando corretamente. Uma vez que você tenha  desenvolvido o Ki, este fluirá livremente através de suas mãos  mesmo quando seus dedos estiverem relaxados.

O fundador considerava as técnicas de Ikkyo até Sankyo como    sendo movimentos preparatórios ao Aikido. No Ikkyo você treina   seu corpo; no Nikyo você Dobra seu pulso para dentro estimulando  e fortalecendo as juntas; no Sankyo você move seu pulso para  fora na direção oposta. Através da prática destas técnicas, você  desenvolve um corpo capaz de derrotar um inimigo com um único golpe. Estas técnicas básicas são sua preparação, e o   treinamento nas técnicas do Aikido começa através delas.

Outra parte essencial do treinamento dos fundamentos do Aikido é  o domínio da entrada e dos movimentos de giro. Se você decide  avançar, você deve avançar totalmente. Se você decide girar para   trás deve fazê-lo completamente. É difícil avançar depois de  desviar um golpe, a menos que você possua uma vantagem em força.   Portanto, gire sempre que necessário, como quando estiver em uma   situação onde você seja incapaz de bloquear.

A prática de técnicas girando é também necessária para se   aprender como mover-se livremente.

Recentemente, o Termo “Takemusu Aiki” tem sido usado bastante livremente, porém parece que poucas pessoas compreendem seu     significado. Takemusu Aiki refere-se à um estado onde técnicas   nascem infinitamente como resultado do estudo dos princípios do  Aikido.

No treinamento do Aikido – que inclui técnicas de mãos vazias,    Aiki Ken e Jô – é importante fazer claras distinções. Estas   incluem as distinções entre Ikkyo e Nikyo, Omote e Ura, técnicas  básicas e Ki no Nagare, e técnicas aplicadas (Oyowaza). Em uma  recente viagem à Itália, experimentei executar tantas técnicas  quanto podia. Concentrando-me apenas sobre as técnicas básicas, Ki no Nagare, variações e técnicas aplicadas, acabei por   realizar mais de 4 centenas de técnicas, e estou certo de que onúmero teria subido para mais de 6 centenas caso tivesse   incluído técnicas partindo da posição sentada, Hanmi Handachi    (Atacante em pé, defensor sentado), e técnicas de contra-ataque.

Não importa quão esplendidamente as pessoas escrevam sobre  Takemusu Aikido, eles devem ser capazes de executar estas  maravilhosas técnicas por si mesmos, se eles estão sendo   considerados como professores. Se vocês continuam à praticar    assiduamente de acordo com o método tradicional, alcançarão o    estágio onde serão capazes de executar um número infinito de    técnicas desde as básicas até as mais avançadas.

Keiko

A mente e a filosofia de Matsuo Haruna

Como artista marcial (pelo menos um jovem artista marcial), como pessoa que acredita e pratica o Budo, acredito ser muito importante o estudo da história e das origens da arte escolhida, e também das outras artes. Para mim, conhecer o máximo possível sobre quem, onde, por que e como em relação às raízes de uma arte marcial é crucial para a completa compreensão dela, o que eu creio que dá à prática um significado mais profundo e completo. O estudo da história das artes marciais permite que se pegue o que é antigo e o aplique ao que é novo; compreender o antigo – às vezes ancestral – princípio de nosso estudo nos dá a habilidade de encontrar uma razão para nosso treino de hoje. A sociedade, a época e as armas podem variar, mas os princípios do antigo permanecem os mesmos, como as raízes de uma árvore, afetando e influenciando a humanidade em um nível abaixo da superfície.

Acredito que o estudo de sua história também é uma forma de homenagem e respeito às pessoas que são os pioneiros destas artes. Todas as formas e estilos de combate começaram com estes indivíduos colocando totalmente suas energias criativas e suas vidas no desenvolvimento de uma forma física, mental, e espiritual de autodefesa. Mesmo que nenhum verdadeiro artista marcial ou sensei aceite esta forma de “adoração”, é a estes homens e mulheres que devemos nossas práticas.
Dito isso, decidi devotar este artigo a outro indivíduo que, do meu ponto de vista, serviu como inspiração e fonte de direcionamento para muitos Iaidoka. O que eu descobri sobre este homem é o que eu acho que deve ser compartilhado. Suas realizações e sua atitude em relação a keiko é algo que todos podemos usar como aprendizado. Este homem é Matsuo Haruna Sensei.
Uma das coisas mais impressionantes que descobri sobre Haruna sensei é que ele começou a treinar já com idade avançada. Ele nasceu em 1925, mas ó começou a treinar iaido em 1972 – com 46 anos de idade. É uma idade em que as pessoas acham que são muito velhas para começarem qualquer coisa, quanto mais começar a treinar uma arte marcial! Mas Haruna sensei fez isso, e obteve grandes progressos no curto período entre 1972 e seu falecimento em 2002. Ele recebeu a graduação de Hachidan, e o titulo de Hanshi, no Muso Jikiden Eishin Ryu.
Ele foi o professor exigente e diretor do Musashi Dojo de Ohara, que recebeu o nome do lendário espadachim Miyamoto Musashi. Ele participou de cerca de 250 competições locais e nacionais e de demonstrações no Japão; perdeu 12 vezes, ficou em 3º lugar oito vezes e em 2º lugar 28 vezes, e uma dessas vezes foi em sua primeira competição nacional em 1978, em que ele ficou em segundo lugar. Ele recebeu o prêmio de Melhor Espírito de Luta 45 vezes, e o prêmio Espírito de Luta Especial (que é acima do “Melhor”) 15 vezes. Nas demais vezes, ele venceu.
Apesar de seu impressionante registro de competições, Haruna sensei não treinava para shiai. Para ele, shiai era apenas outra forma de treinamento. Ele acreditava que não importava o que fosse, shiai – demonstração, competição, exame – ou keiko (prática), sua atitude deveria ser exatamente a mesma – e é essa atitude é o que você deve treinar, como se sua vida dependesse disso!! Haruna sensei acreditava que a chave para o desenvolvimento de seu treinamento é levá-lo a sério. Sem essa atitude, sua prática sofre, e sua habilidade também. É a concentração, e um profundo foco nos fundamentos, o que permite o avanço de uma pessoa.
Apesar de eu nunca ter tido a oportunidade de estudar ou treinar com Haruna sensei, agradeço por sua vida, sua influência e sua contribuição para o iaido e os iaidoka. Isso reforçou minha compreensão, e tenho certeza que de outras pessoas, das artes marciais.

Haruna Matsuo Sensei, shitsurei shimasu!!!

Tradução – Jaqueline Sá Freire (Brazil Aikikai – Hikari Dojo – Rio de Janeiro)

Viva como as flores

O discípulo perguntou ao mestre:

“Mestre, como faço para não me aborrecer, com as pessoas? Algumas falam demais, falam de nossa vida, gostam de fazer intriga, fofoca, outras são ignorantes.  Algumas são indiferentes. Fico magoado com as que são mentirosas.  Sofro com as que caluniam”.

– “Pois viva como as flores!”, advertiu o mestre.

– “Como é viver como as flores?” Perguntou o discípulo.

– “Repare nestas flores”, continuou o mestre, apontando lírios que cresciam no jardim. Elas nascem no esterco, entretanto são puras e perfumadas. Extraem do adubo malcheiroso tudo que lhes é útil e saudável, mas não permitem que o azedume da terra manche o frescor de suas pétalas. É justo angustiar-se com as próprias culpas, mas não é sábio permitir que os vícios dos outros o importunem. Os defeitos deles são deles e não seus. Se não são seus, não há razão para aborrecimento. Exercite, pois, a virtude de rejeitar todo mal que vem de fora. Isso é viver como as flores.”

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A FLOR DE LÓTUS

De acordo com o Budismo, uma flor de lótus serve como assento aos que renascem no paraíso budista. No budismo, o lótus é o símbulo de pureza e perfeição da natureza búdica, inerente com todas as pessoas. “Assim como o lótus brota de dentro da escuridão da lama para a superfície da água, florescendo somente depois que se elevou acima da água e por permanecer imaculada sem se contaminar nem com a terra nem com a água que o nutriram, da mesma forma a mente, nascida do corpo humano, desabrocha suas verdadeiras qualidades( pétalas ) depois que se elevou acima das torrentes lodosas da paixão e da ignorância, e transforma as forças obscuras das profundezas em brilhantes e puros néctar da consciência iluminada.”

( Govinha, pg.89 in Philip Kapleau: Os três pilares do Zen. Ed. Itatiaia)