Suneo no keiko – Um treinamento de aikido sincero

Iwama Japão
Cartaz colocado no Iwama Dojo no Japão: “Usar tua força para deter a técnica do companheiro é proibido.” dojo-cho

Texto originalmente publicado por Aikido en Línea.

Tradução de Walter Amorim.

Muitas vezes nos praticantes nos perguntamos o que necessitamos para realizar um treinamento de aikido sincero. esta é uma questão um tanto complicada, já que tudo depende do que queremos conseguir, de maneira que não é o mesmo treinar para melhorar n osso waza, que para fortalecer o nosso corpo, ou para fazer frente a ataques sinceros e não programados. Em todos os casos, os métodos de treinamento seguramente variam e temos falado sobre isto um pouco, em uma entrada sobre os conceitos básicos da pedagogia para o aikido.

Neste caso queremos trazer uma passagem engraçada sobre o treinamento do waza, e falar a respeito das técnicas básicas, o kihon. Esta passagem vem por meio dos escritos de Stanley Pranin, que nos conta em um artigo sobre o treinamento sincero no aikido o seguinte:
“O que segue foi uma história real que ocorreu no dojo de Iwama tem muitos anos. Eu estava praticando com um uke de considerável força. Em cada ocasião este usava seu conhecimento da técnica que estávamos praticando para bloquear meus movimentos. Com certeza, esta era uma causa de frustação para mim. Para deixar as coisas claras, procedi o bloqueio da sua técnica da mesma maneira, mas só uma vez para mostrar o que estava fazendo. Continuou fazendo o mesmo, e desde então me resignei a seguir até o final da aula prometendo a mim mesmo não treinar com ele de novo. Eu sabia que saito Sensei nos observava, e eu vi pelo canto dos olhos que estava se aborrecendo. Por último gritou: ¡Dame! ¡Así iu kudaranai keiko yamero!”( chega! Não continue com esse treinamento estupido!). Todos nos sentamos enquanto Sensei explodiu com meu uke. Explicou que qualquer um pode bloquear a técnica de uma pessoa se sabe de antemão o que pretende fazer. Que este tipo de treinamento acaba totalmente com o propósito da prática e que ninguém pode progredir desta maneira. Sensei logo em seguida proibiu meu companheiro de treinar no dojo. O homem estava totalmente humilhado e imediatamente deixou o dojo com a cabeça baixa. Sensei finalmente deixou o homem retornar depois de um mês. A partir daí se comportava de uma maneira respeitosa e se converteu em um estudante exemplar. treinei com ele várias vezes depois disso e foi uma experiência agradável. Mas tarde estabeleceu seu próprio dojo e segue até hoje.”

Obviamente, quando recebemos uma técnica podemos em qualquer momento deter o tori se sabemos como fazê-lo. Mas esse não é o propósito do kihon, da técnica básica. Um estudante de aikido sincero deve saber quando estamos aprendendo a base, e quando estamos já em um nível avançado e aplicando kaeshi waza ou ainda técnicas fluídas sobre os companheiros que realizam ataques programados. Converter a prática em uma luta constante entre uke e tori não serve para a progressão adequada do estudante. Isto não implica que uke deva deixar aplicar-lhe a técnica simplesmente. Existe uma linha entre a colaboração e a resistência em que uke deve mover-se com desenvoltura, para ajudar o tori a melhorar o seu aikido.
Isto é especialmente certo para os yudansha que muito frequentemente se encontram treinando com alunos de graduações mais baixas, e que podem facilmente bloquear. Se pratica desta maneira, está enviando uma mensagem muito negativa ao principalmente, fazendo-lhe ver que o treinamento básico em pares é uma competição. Em nossa opinião, um bom uke deve atuar de outra maneira, mais construtiva. A saber:

1. Quando recebe a técnica, se esta é efetiva e consegue desequilibra-lo e projeta-lo, ou imobiliza-lo, deve aceita-la e não tratar de bloqueá-la.
2. Em caso de que o waza esteja mal executado, Uke pode mentalmente tomar nota que não foi bem executada a técnica, para corrigir a sua própria. Desta maneira, recebendo uma técnica pode estuda-la com mais detalhe.
3 deste ponto de vista, não é coreto deter o tori para fazer-lhe ver que sua técnica não está executada corretamente, há que deixar-lhe que termine sua prática. Este tenderá a oportunidade de ser uke, e identificar por sua própria experiência os pontos a melhoria da técnica. Além do mais, se tem a suficiente sensibilidade, será capaz de identificar se uke está ou não corretamente desequilibrado e/ou bloqueado. Esta é uma capacidade muito importante e deve também ser treinada.
4. Se agarra demasiado forte ou é demasiado poderoso para a técnica de tori, é adequado rebaixar a intensidade da técnica. O propósito não é demonstrar o quanto somos poderosos, é sim aprender juntos.
Desta maneira, e sem a necessidade de enfrentar-se, ou se quer falar, uke e tori estarão educando a si mesmos mediante a prática. Estarão ajudando-se mutuamente a progredir, e estarão realizando um treinamento sincero. Obviamente, trabalhara assim não exclui agarramentos fortes. Não é contraditório, mas se requer andar por essa pequena fronteira entre a colaboração e a competição.
Não queremos acabar este pequeno artigo sem mencionar outra das funções do uke: educar ao tori. Este é o método tradicional nas escolas koryu japonesas, onde o mestre recebe a técnica do estudante. Desta maneira, e mediante seu próprio movimento corporal, pode redirecionar o tori para que este execute a técnica com correção. Uma vez mais, não se trata de uma prática “colaborativa”, onde o companheiro se deixa o outro fazer. É bum método pedagógico.
Agora bem, alguns leitores se perguntarão porque não devemos praticar com companheiros que resistem em 100% das técnicas, obviamente, podemos faze-lo, mas não se ter uma técnica básica poderosa. E para isso, faz-se muitos erros, muitas horas de treinamento básico em conjunto, em que os praticantes se ajudam entre si para progredir.