Entrevista com Sensei Teruo Nakatani.

Teruo Nakatami Sensei - anos 60
Teruo Nakatami Sensei – anos 60

Texto extraído do site da associação martins de Aikido, que gentilmente autorizou a reprodução da entrevista. Para a justa divulgação da historia do aikido no Rio de janeiro dos primeiros tempos e da vida de Teruo Nakatami Sensei, introdutor do aikido em terras cariocas.

Transcrição da entrevista com Teruo Nakatani – Versão FINAL – 01-Maio-2014.
Entrevista realizada em 2009, quando Nakatani Sensei, aos 77 anos, estava em  Brasília-DF, por ocasião da entrega do 6o Dan para Martins Sensei.
Entrevistador: João Henrique Gaeschlin Rêgo // Filmagem: Giampiero Madaio // Transcrição do video: Mário Coutinho Jr.
Data e Local: ano de 2009 // QI 27 – Lago Sul – Brasília/DF
Data e Local: QI 27 – Lago Sul – Brasília/DF

1) Em que cidade o senhor nasceu?
Uryu
*NT: 雨竜町 [うりゅうちょう] Uryuuchou

2) É no interior do Japão?
Sim.

3) A quantos quilômetros de Tóquio?
Acho que mil, mil e poucos quilômetros. Fica no norte do Japão. Numa ilha. Mas, no Japão tudo é ilha, na verdade. A ilha maior é Honshu, depois ao norte é Hokkaido, a segunda ilha. A terceira, acho que é Kyushu.

4) Os moradores da ilha viviam da agricultura?
Ah, naquela época havia agricultura. Mas antes era caça.

5) Em que ano o senhor nasceu?
Em 1932.

6) Quando e como foi o seu primeiro contato com as artes marciais?
Comecei treinando Judo na época em que estava no científico. Naquele tempo, o Judo era a arte marcial mais comum. Na época do meu científico, a prática de espada estava proibida. Antes, treinava-se mais espada, Kendo. O Japão perdeu a guerra e as forças de ocupação proibiram a prática do Kendo. Por isso, o Judo era a única arte marcial popular.

7) O senhor treinou Judo e Kendo durante quantos anos?
Eu treinei Judo durante três anos. O Kendo foi por pouco tempo. Porque era proibido, né? Somente nos anos cinquenta que essa arte foi liberada, dez anos depois do fim da Segunda Guerra Mundial.3

8) Onde o senhor fez o científico?
Asahikawa. Asahikawa era base militar, do 7º Batalhão do Exército Imperial do Japão. Hoje é diferente.4

9) E como o senhor conheceu o Aikido?
Eu conheci Aikido quando entrei na faculdade.

10) O senhor fez faculdade em Tóquio?
Sim, em Tóquio. Foi no segundo ano de faculdade que comecei Aikido. Até então, eu treinava Judo. No primeiro ano de faculdade, eu ainda treinava Judo. Depois, ao praticar alpinismo em montanha, eu machuquei o ombro esquerdo. Então, não dava para treinar Judo. Eu praticava escalada, subia montanha, climbing.

11) O senhor chegou a praticar Karate também?
Eu praticava Karate, depois é que descobri o Aikido.

12) O senhor praticou Karate durante quanto tempo?
Não sei… Em um grupo de filosofia de tipo de Ioga, havia um pessoal que ensinava Karate. Dentro desse grupo, conheci Tada, que era 6º Dan de Aikido naquela época. Ele também fazia Karate. Eu conheci Aikido com ele e aí entrei.

13) Foi o Sensei Tada que lhe convidou para treinar Aikido?
Não, ele é que estava fazendo. Eu não sabia o que era Aikido. Aí fui lá, gostei e na hora entrei.

14) E como foi sua primeira aula?
Entre o Aikido de hoje e o daquela época há pouca diferença. Lembro que comecei, acho que foi no final do ano, quando é muito frio. Em Tóquio, chega a menos 2 ou 3 graus. Lembro que, em 1 hora de aula, o fundador falava do espírito por quase 30 minutos, então eu tremia de frio. Isso foi mais ou menos durante um ano e meio, depois ele não apareceu mais. Em seguida, o filho dele assumiu a turma. Aí, então, passei a dominar bem as técnicas.

15) O Sensei Kisshomaru substituiu o fundador nos treinos?
Não foi somente ele. Os principais alunos do fundador também davam aula. Era assim. Na segunda-feira era aula do filho, Kisshomaru. Na quarta ou quinta, aula do Tohei. Nos outros dias, quem dava aula era Tada, 6º Dan; Kobayashi, que era 3º Dan; e Tamura, 5º Dan. Cada um tinha seu horário de aula. A aula da manhã era de 6h30 e às 7h30. Era a primeira aula do dia. A segunda aula, eu acho que era das 8h às 9h. A terceira aula era às 15h ou às 14h.

16) Quanto tempo o senhor treinava por dia?
Uma hora por dia, à noite. Eu comecei à noite.

17) Aí, no último ano…
Eu treinava quase o dia todo. Como eu havia recebido o seguro-desemprego e não estava trabalhando, então eu treinava o dia todo.

18) O senhor pode nos explicar qual foi o motivo do recebimento do seguro-desemprego?
Por dois anos trabalhei para uma firma de plásticos que durante a guerra fabricava medidor de torpedo. O meu chefe era coronel, e ele controlava essa firma durante a guerra. Depois da guerra, ele entrou na firma como chefe de departamento. Aí trabalhei como subordinado dele. Na época, na minha faculdade Meiji, o meu departamento era meio de esquerda e tinha muitos professores de esquerda, gente de esquerda. E isso me influenciou bastante. Então, quando comecei a trabalhar na firma, não existia sindicato. Assim, eu e mais dois criamos um sindicato. Por ter criado o sindicato, eu não podia ficar mais na firma e não conseguia arranjar emprego por ter sido colocado em lista negra. Então, durante o tempo em que estava com o seguro-desemprego e procurando trabalho, eu treinava Aikido o dia inteiro. Sempre estavam lá o Tohei, Tamura, Kobayashi, Noro. Eu estava sempre treinando com essas pessoas.

19) Isso era no dojo central, no Hombu Dojo?
Hombu dojo, prédio antigo. Dojo antigo, eu acho que com uns 80 tatames. Dojo pequeno. Uma casa de madeira. Naquela época, essas pessoas sempre estavam lá. Havia Sugano, Chiba… Depois, mais tarde, entrou o Saotome. E Yamada também estava lá nessa época.

20) O Yamada era o seu contemporâneo?
Mais ou menos na mesma época. Ele era aluno também.

21) Durante quanto tempo o senhor treinou no Hombu Dojo?
Acho que foram cinco anos.

22) O senhor chegou a 3º Dan?
Não. Segundo.
*NT: Sensei Nakatani recebeu o 2º Dan em Tóquio e o 3º Dan no Brasil.

23) Naquela época existia exame?
Havia exame.

24) Era o Kisshomaru quem fazia o exame?
É isso aí. Era ele que fazia o exame, no dia marcado. Todo mundo ia lá e fazia demonstração. Aí ele que dava a nota.

25) O aquecimento, as práticas parecem com as de hoje?
Penso que não há muita diferença. Quase sempre havia ginástica de aquecimento, né? Acho que por cinco minutos mais ou menos, depois começava.

26) Eu queria que o senhor falasse um pouco mais sobre as aulas do Mestre Ueshiba.
Ele aparecia sempre de manhã, na primeira aula.

27) O senhor frequentou mais as aulas do período noturno?
Não. Eu iniciei à noite, mas, às vezes, eu ia à primeira aula. A primeira aula era sempre o criador que estava fazendo. Durante um ano, acho, ele que fez a primeira aula.

28) O que O-Sensei tentava transmitir para vocês?
Ele falava mais sobre filosofia.

29) Ele não praticava?
Não. Mais ou menos por meia hora, ficava falando coisas de filosofia, depois começava a treinar.

30) Ele comandava o treino sozinho?
Não. Naquela época, o assistente dele sempre era Tamura.

31) Como foi o começo do Aikido no Brasil?
Comecei o Aikido no Brasil por causa de Ogino, um professor de Judo. A academia dele era no Hospital dos Servidores. Era grande, acho que tinha quase cem tatames. Era muito grande.
Eu conheci Ogino, e ele me convidou para o seu dojo dizendo que eu saíra do Japão há quase um ano e que devia continuar a treinar para não esquecer o que aprendi. Então
comecei a dar aula na academia dele. Isso foi no final de 1961. Fiquei com Ogino nos anos de 1962 e 1963.
Depois, durante a revolução de 1964, eu acho que já estava com George Mehdi, não tenho certeza. Acho que fiquei dois ou três anos com Ogino. Depois, uma pessoa me apresentou a Geroge Mehdi do Judo na academia de Ipanema. Então ele me convidou para a academia dele e comecei a dar aulas. George Mehdi fazia muita propaganda para mim. Daí o Aikido se expandiu.6

32) No começo, lá no Hospital dos Servidores, quem eram os seus alunos?
Não me recordo de todos os nomes. havia poucas pessoas, uns sete ou oito alunos. Um deles vinha do Judo, apontado pelo Ogino para que fosse também o meu uke. Era um português de nome Lopes.

33) Seu primeiro aluno?
Havia várias pessoas, mas não lembro todos os nomes. O meu primeiro aluno foi Lopes, que era faixa preta de Judo. Ele era também o meu assistente (uke) quando eu mostrava a técnica.

34) Quando o senhor começou na academia do Mehdi, os alunos aumentaram?
Aumentaram. Várias pessoas.

35) O senhor lembra-se de alguns alunos que entraram naquela época?
A primeira lista se perdeu. Não sei onde está. A segunda lista eu deixei com Shikanai. Ele é que a tem.

36) Lembra-se do Guru?
É, havia Guru, George Prietman… Havia lista de presença que eu não estou achando. Não sei onde está. O problema são as cartas, várias cartas de Kisshomaru. Eu lembro que devem ser 20 ou 25 cartas de Kishomaru para mim.

37) Entre o senhor e Kisshomaru?
Ele sempre escreveu para mim, perguntando como eu estava etc., etc. E essas cartas e documentos acho que Adélio jogou fora depois que saí da academia da Barata Ribeiro, em Copacabana.

38) Todas as cartas? O senhor as deixou com ele?
Mais ou menos metade delas eu tinha em casa. Essas o Shikanai ainda tem. As mais antigas foram as que deixei na academia de Copacabana.

39) O senhor não tem mais essas cartas?
Não. Eu as perdi. E eu estou triste porque perdi.

40) O senhor as deixou com Adélio e Sensei Shikanai?
Não, não. Na academia de Copacabana, quando estava funcionando, todos os documentos do Japão estavam juntos lá. Também, durante dois ou três anos eu não conseguia encontrar o Adélio por causa do meu trabalho. Eu quase não ia lá à academia de Copacabana.

41) Depois da academia do Mehdi o senhor foi para onde?
Barata Ribeiro, em Copacabana. Na academia de George Mehdi acho que fiquei quatro ou cinco anos.

42) E na Praça da Bandeira?
Praça da Bandeira foi depois da Barata Ribeiro. Essa aula era mais tarde.
*NT: Fala do período, e não da localização geográfica.

43) A última academia que o senhor ensinou foi na Barata Ribeiro?
Na Barata Ribeiro. Na Praça da Bandeira, eu acho que eu ia lá uma vez por semana, por causa do trabalho. Naquela época meu trabalho era muito complicado, então eu não podia ir ao Aikido.

44) E quem o ajudava nas aulas?
Naquela época era Adélio. E outro era Pompílio, que também aJudou um pouquinho. O Adélio tinha uma loja na frente da academia. Por isso que ajudava. Porque outra pessoa não havia. E por isso chamei Shikanai, pedindo ao Kobayashi para mandar alguém.

45) Em que ano parou de dar aula?
Acho que no meio do ano 73. Já estava afastado das aulas.

46) O Adélio não era faixa preta?
Sim. Já era faixa preta.

47) O senhor foi para o Japão para procurar um substituto?
Sim. Pedi para Kobayashi. Kobayashi era da minha mesma faculdade.

48) Quem o Sensei Kobayashi mandou?
Kobayashi escolheu Shikanai. Aí quando ele, Shikanai, chegou, entreguei a academia na hora, daí quase não fui mais à academia.7

49) E os seus alunos continuaram treinando também?
Sim. Continuaram treinando.

50) E por que o senhor não escolheu um aluno para ser seu substituto?
Não havia pessoa disponível para ensinar. Todo mundo tinha trabalho, cada um tinha seu negócio. Pessoa livre, possível, era muito pouca gente. O único acho que era Adélio. Outro era Pompílio, que acho que estava aposentado. Só esses. O restante não tinha condição para ensinar. Não era falta de capacidade para ensinar, não. As pessoas trabalhavam, cada um tinha seu negócio. Então não tinham condições de assumir uma academia.

51) Fale um pouquinho do filme que o senhor foi convidado para fazer. Quem eram os seus alunos que lhe convidaram para fazer o filme?
Naquela época, o diretor do filme era Roberto Farias. O irmão dele é Reginaldo Farias. Reginaldo Farias acho que era 1º Kyu. Então, devia fazer mais ou menos dois anos que ele estava treinando.

52) Foram eles que o convidaram para fazer o filme?
Não. No filme era, como se diz, para eu ensinar espada, primeiro, para o artista. Depois eles me colocaram no lugar dele. O coitado do ator foi mandado embora. Eu nunca fiz teatro.8

53) Como é que foram as filmagens? O senhor viajou para filmar?
Eu fui a Israel. A vantagem é que por dois meses eu viajei pela Europa, só.

54) O senhor gostou de filmar?
Sim. É outro tipo de trabalho.

55) Como é que o senhor conheceu o Sensei Martins?
Ele entrou na turma da Praça da Bandeira quando várias pessoas do Banco do Brasil se matricularam. Havia algumas delas na Barata Ribeiro (Copacabana), mas a maioria estava na Praça da Bandeira. Montei outra turma por sugestão de Pompílio. Mas eu não podia ir. Então perguntei aos alunos quem poderia ir. Guru disse que podia. Então deixei com ele. Naquela época eu já tinha firma e não tinha condições para ensinar Aikido.9

56) O seu primeiro aluno que se tornou faixa preta foi o Guru?
Sim. Depois de Guru acho que foi o Carlos Infante. Depois, acho que Eduardo, e depois entraram Marcus e Paraguassu. Depois vários outros entraram.

57) Os exames eram na academia?
Sim.

58) Por que o exame do Sensei Martins foi realizado em Campos do Jordão?
Foi um Gasshuku. Vários fizeram exame ali.

59) Era um Gasshuku conjunto com sensei Kawai?
Sim.

60) Foi o Sensei Kawai quem organizou esse Gasshuku?
Sim. Ele quem convidou, porque era em São Paulo.

61) Por que o senhor parou de treinar Aikido?
O motivo foi meu trabalho. O trabalho não dava condição, porque até sábado e domingo eu tinha trabalho. Era obra em construção civil. Então, às vezes trabalhava sábado e domingo. E às vezes até de noite. Esse foi um motivo. Outro motivo foi que começou o reumatismo a voltar, no joelho direito. Então, com dor no joelho não dá para dobrar, para sentar, não dá para ficar de seizá. Esses dois motivos eu lembro.

62) O senhor sentiu falta dos treinos?
Ah, eu senti falta! Eu tinha 40 anos de idade. Agora já faz quase 40 anos desde que parei o Aikido.

63) Quais os conselhos que o senhor daria para os alunos de hoje?
Hoje, tem que ser um tipo de esporte para a saúde. Saúde para, quando ficar velho, poder continuar. Não é para forçar. Suave. Quando ficar velho tem que ser suave para continuar. Isso aí é bom.

64) Qual a importância de se treinar o suwari-waza?
Isso aí. É importante o suwari-waza para fortalecer o quadril, que é o principal. Várias pessoas não gostam, mas o principal é o quadril. Para fortalecer isso aí, é boa ginástica o suwari-waza.

65) Quais as técnicas que devem ser mais praticadas?
Tá tudo na forma, mas importante é continuar. No meu caso, o joelho não dava para sentar. Então, para a pessoa que ensina, se não pode sentar, não dá.

66) Qual o conselho que o senhor nos daria para nós transmitirmos para os nossos alunos?
Isso aí eu não sei como é. Penso que hoje a gente tem que fazer pela saúde. Saúde é importante para a ginástica ou alguma coisa. Então, às vezes fazer ginástica sozinho não é interessante. Então, com os dois parceiros combinando, um joga, depois o outro joga. Isso aí é boa ginástica.

67) O senhor acredita nos ensinamentos do mestre Ueshiba? Essa ligação do lado material com o lado espiritual que o Aikido proporciona?
Ele falava mais do corpo humano, como é ligado com Deus. Por isso é sempre o pensamento mais importante, o pensamento de como se usa o corpo. Isso ele falava muito.

68) O senhor acredita nisso?
Acredita em quê? Tem que acreditar, né? Porque ele, o Fundador, naquela época, como artista marcial, era muito forte também. E isso aí não é só o pessoal do Aikido que fala. Outros, lutadores de Kendo, lutadores de Karate, várias pessoas o respeitavam. Por isso, algumas pessoas falam que a única pessoa que conheceu Aikido foi somente ele. O corpo dele era completamente fora do comum.

69) Existiam práticas complementares aos treinos? Vocês treinavam no mar, nas cachoeiras?
O treino na cachoeira descende de Buda. Buda treinava no frio para o espírito ficar mais forte. Com isso, embaixo de cachoeira, treinamos o espírito também. Veio daí.
O treino no mar, acho que o primeiro que iniciou isso foi o Karate. O Karate que chuta dentro do mar. O mar é muito forte, não dá para… Esse treinamento começou, acho que foi o sul do Japão que começou isso. Aí aumentou, e várias lutas começaram também.

70) O senhor treinava exercícios de respiração e de ki?
Sim. Ki e respiração. Falava-se muito isso também. O criador sempre falava isso aí.
 
71) Da outra vez que esteve aqui, o senhor me contou que, naquela época, na sua cidade, vocês não tinham médico e que, se alguém se machucasse, vocês sabiam fazer massagens?
O lugar em que nasci é uma cidade de seis mil habitantes, mais ou menos. Não tinha médico. Este dedo [mostra o dedo indicador que perdeu uma falange] também daria para salvar, mas não havia médico. Se houvesse médico, salvaria o dedo. Isso foi na época de criança, quando o acidente ocorreu.

72) E se alguém se machucava no treino, como é que vocês faziam?
Isso aí o pessoal do Judo sabe mais ou menos.

73) Era o Shiatsu que vocês faziam?
Não, não. Curar osso, consertar osso. Às vezes é este osso que sai [mostra a articulação do cotovelo]. O pessoal do Judo sabe colocar no lugar.

74) Há mais alguma coisa que o senhor queira dizer?
Sim. Só das datas que não estou bem certo. Porque cheguei em 1960, né? Foi em 6 de novembro de 1960, isso aí é certeza. Depois do primeiro carnaval, vim para o Rio, por causa de mudança. Depois, acho que no fim do ano ou início do outro ano, por aí… Estava quente naquela época em que comecei a ensinar Aikido na academia.

75) Então o senhor começou a ensinar em 1961? Final de 1961?
Em 1961 ou início de 1962. Depois de um ano, eu comecei.10

76) Está muito bom, Sensei. Muito obrigado pela entrevista. As suas palavras são muito importantes para a memória do Aikido.

entrevista_nakatani1 João Henrique Gaeschlin Rêgo é brasileiro, carioca de nascimento e brasiliense de coração. Formado em direito pela UnB (1994), é atualmente servidor público. Pratica Aikido desde 1992. Seu professor de Aikido sempre foi Martins Sensei. Atualmente é 4º Dan de Aikido Aikikai.
 
2 A transcrição original passou por algumas adaptações de linguagem – grande parte delas já sugerida desde a primeira versão, como notas de interpretação à transcrição literal – a fim de que a leitura ficasse mais fluida, com o cuidado de não incorrer em perda ou distorção das falas e informações constantes da entrevista. Além disso, mantivemos nesta versão várias notas referentes a dados históricos criteriosamente pesquisados pelo Sr. Mário Coutinho.

3 – O Japão, quase dois anos antes do início da 2ª Guerra Mundial já estava na sua 2ª Guerra Sino-Japonesa, que começou oficialmente em 7 de Julho de 1937, com o Incidente da Ponte Marco Polo. A 2ª Guerra Mundial começou oficialmente em 1º de Setembro de 1939, quando a Alemanha Nazista invadiu a Polônia.

– Na tarde do dia 15 de Agosto de 1945 (horário japonês), o Imperador Hirohito anunciou a rendição incondicional do Japão pelo rádio. Esta data é conhecida como o Dia da Vitória sobre o Japão e marca o fim da 2ª Guerra Mundial.
– Em 8 de setembro de 1951 foi assinado o Tratado de Paz de São Francisco, que marcou o fim da ocupação pelos Aliados, e após sua ratificação, em 28 de abril de 1952, o Japão voltou a ser um Estado independente.
– A 2ª Guerra Mundial durou quase 6 anos. Mas para alguns japoneses pode parecer mais longa, pois o país já estava em conflito com a China bem antes.
– O período no qual houve a proibição da prática de várias artes marciais durou quase 7 anos. A prática de Kendo foi liberada oficialmente em 1952, quando sensei Nakatani estava com 20 anos de idade. A 2ª Guerra Mundial terminou em 15 de Agosto de 1945 (quando sensei Nakatani tinha 13 anos de idade, aproximadamente).

4 O 7º Batalhão ficou em Asahikawa 旭川市(あさひかわし) até Março de 1944. Localiza-se ao norte de Asahikawa, em Hokkaido, o aeródromo militar do exército japonês, denominado Asahikawa Air Field (ICAO: RJCA).

5 Tada Sensei começou Aikido na Aikikai em 4 de Março de 1950 (aos 20 anos de idade), quase 5 anos após anúncio da rendição incondicional do Japão às Forças Aliadas das 2ª Guerra Mundial. Dois anos depois que as forças de ocupação deixaram o Japão, Tada Sensei tornou-se instrutor na Aikikai em 1954 (aos 25 anos de idade). Em 1957 ele foi promovido para 6o. Dan (aos 28 anos de idade). Com 40 anos de idade, em 1969, Tada Sensei foi promovido para 8º Dan.

6 Notícia: George Mehdi lança Aikido no Brasil (Jornal do    Brasil, em 26/02/1965).

7 Passou a academia, imediatamente, ao sensei Shikanai, no instante que ele chegou ao Brasil, em junho de 1975.
 
8 O filme é Roberto Carlos e o Diamante Cor de Rosa, de 1970. Sensei Nakatani tinha aproximadamente 38 anos de idade.

9 Nakatani, num curto período, tinha duas turmas contemporaneamente: uma na Barata Ribeiro e outra na Praça da Bandeira, mas nesta era Guru o encarregado. Nessa nova turma, sensei Nakatani ia, às vezes, uma vez por semana.

10 Nakatani Sensei recorda bem a data de sua chegada no Brasil, 6 de novembro de 1960. Essa data é confirmada pela lista de passageiros do Vapor Holandês BOISSEVAIN, que aportou em Santos trazendo-o do Japão/Yokohama. Mudou-se para o Rio após o carnaval de 1961.

Superando. Evoluindo.

DSC_9886Um texto que escrevi em 2008 com alguma repaginação. E ainda super atual. Vamos a ele:

Em cima de uma ideia de um texto que li em algum lugar, eu escrevi este. Era só para complementar algumas coisas, mas mudei tanto, coloquei tanta coisa diferente, que virou  outro texto. Com o aikido é assim também depois de um tempo: A mesma receita dá outro sabor.
Espero que gostem. Espero que o paladar de vocês apreciem “o gosto deste texto”.

 No AIKIDO, regularmente, são realizados exames para que cada um de seus participantes nos  mais diversos níveis executem suas técnicas para atingirem um estágio superior, prática comum acredito eu, em todas as artes marciais modernas.
Quando são verdadeiramente dedicados, os alunos atingem um bom resultado. Eles tem a confiança baseada no trabalho duro. Em cima de metas determinadas individualmente por ele e pelo professor.
O interessante disso é que, por mais que conheçamos sobre determinado assunto, quando este é posto a prova, nós nos sentimos desafiados e aí surge o temor, o nervosismo e a ansiedade… …isto ainda com um sentido de se ter a responsabilidade de fazer bem feitos os movimentos que  determinarão o aparente sucesso ou fracasso de todo o treinamento realizado. Queremos ser bem avaliados, muitas vezes por nosso orgulho ou muito vezes pela gratidão que temos com nosso Sensei. De mostrar retorno a tudo que ele nos tentou passar. Alguns Sensei merecem, outros não, é verdade. Alguns praticantes são agradecidos outros não.
Mas será que estamos preparados para o caminho que virá? Muitos vão tomar conhecimento do problema depois que de fato ele existir. Não querem sofrer por antecipação. Eu estes dias falei a um aluno que somente até a faixa verde, eu pensei ainda no exame como uma meta a ser alcançada. Depois, (até por que este demorou por problemas profissionais), eu aguardei a azul sem mais pensar se iria chegar ou não. Apenas treinando. Fazendo o que gosto. Na hora que o professor chegava e dizia: Vamos treinar para o exame, eu pensava então: Tá bom, o que tenho dúvida? Vamos lá… O processo, não o produto. Entretanto a verdadeira dedicação é necessária..
Existe o outro lado: A pessoa encara o treino como uma ginástica laboral, aula de aeróbica, ou algo despretensioso qualquer. A arte marcial exige mais que isso pois é mais complexa e de maior resultado também em sua vida normalmente. Essa visão é muito simplista.
Outros ficam com medo de se machucar e dizem: “Eu vou mais devagar, não vê estes mestres e graduados como estão todos machucados, com problemas nos joelhos etc?” Só tem um detalhe: Nem sempre acontece, muitas vezes não. E qual a atividade física que não tem risco e deixa algum risco ou sequela possível? Me lembro da palestra do nosso Oscar, do Basquete, que disse: Só minha esposa é que sabe como acordo de manhã e que dores carrego pelo treino constante durante tantos anos… Entretanto todas adoram quando eu estou nas quadras, apareço na mídia, ganho títulos para o Brasil.. As pessoas gostam muito do glamour, mas do trabalho árduo quantas estão dispostas? Quantas pessoas sentaram para assistir aulas e quantas chegaram para treinar, super entusiasmadas, mas ao ver o quanto tem que se dedicar acabam arrefecendo? Algumas após um mês, após um ano, dois… … ou quando chegam na faixa preta.
Repito sempre: Aikido está disponível para todo mundo, mas não é para todo mundo. Aumentando a abrangência: Arte Marcial, em linhas gerais, é disponível para todo mundo, mas não é para todo mundo. Ou mais ainda: PERSEVERANÇA está ao alcance de todo mundo… Mas não é para todo o mundo! No final, o caminho de tudo, arte marcial e outros, passa pelo nível de perseverança. Isto determina vencedores e vencidos. Não falo em relação a um ou outro mas em relação a vida.

 A QUESTÃO DA REFERENCIA:
Muitas pessoas ainda não têm consciência de que, quando se gradua em uma arte marcial ou em qualquer atividade, nós nos tornamos uma referência, passamos a ser avaliados constantemente e de forma diversa, sejam por nossos pares ou por aqueles que virão posteriormente. A cobrança, principalmente para aquele que ensina é exaustivamente testada nos mais diversos níveis, sejam estes técnicos ou teóricos, o que obriga o praticante a se preparar mais e mais, fazendo dele um eterno Sensei e Sempai de si mesmo. Espero que me entendam.

 E quando este resultado não é atingido, como nos portaremos? Já vi pessoas que abandonaram tudo, outras ficaram inconformadas transferindo a culpa de seu resultado para outras
pessoas. Algumas começam a treinar de forma semi-motivada e algumas, com mais tranqüilidade, absorveram o resultado e buscam polir as arestas. É interessante que o fator “reprovação” esteja presente, nem que dentro de nós mesmos, e seja uma constante na vida do praticante. Ser melhor a cada dia e ajudar outros a se desenvolverem se faz necessário para o desenvolvimento marcial, pois polimos o nosso espírito nas dificuldades, nas agruras de um treinamento. Meu professor dizia, e sempre repito, para chegar ao paraíso é preciso passar pelo purgatório. Alguns alunos acham o treino forte, pesado, mas não tem ideia do que já passamos e como isto determina o bom praticante e o praticante não tão bom… E é interessante que também são estes muitas vezes aqueles que admiram tanto a técnica dos grandes shihan, sem ter a mínima vontade de passar pelo 1/3 do treino que eles passaram. Como os fãs do Oscar que querem ser eles sem passarem pelos dores e sacrifícios de um treino…

 SUPERAR LIMITES:
Aprendemos a superar os limites vencendo inicialmente a nos mesmos, encarando nossas fobias e desafiando as nossas preguiças e dificuldades. Por quantas vezes, quando chega a hora de ir para a academia, nos sentimos aquela preguiça, pensamos “ah, só faltarei hoje, que mal fará?”, ou, “será que vou ter que repetir aquela técnica novamente?”, (como se o praticante a domina-se perfeitamente). Outra versão é aquele que não vai a seminário pois acha, (ou diz, como forma de desculpar-se a si mesmo) que tudo é igual.
Alguns não gostam de técnicas de armas ou de determinada técnica Tai jutsu, pois acham que já sabem. Tenho, e tive, muitos alunos que acham que é só uma coreografia a ser executada com velocidade. E você que conhece um pouco mais a estrada olha por um outro do aspecto: É como se visse um jogador de sinuca profissional e um amador lado a lado em uma mesa: Os instrumentos, técnicas são as mesmas, mas a precisão e a efetividade são algo muitas vezes tão dispares como o mar e a montanha. Enfim, começamos superando em nossa mente estas pequenas dificuldades de entendimento, que se não superadas se tornarão grandes, transformando-se em um obstáculo ao crescimento. Uma das primeiras ações é acorrentar o ego.

 Os nossos limites são estabelecidos por nós mesmo. Pelo controle do ego, pela perseverança e no conhecimento interno, dosando empenho com maestria e racionalidade, superando cada obstáculo, sorvendo o conhecimento adquirido com tranquilidade e sabedoria. Acatando nossos limites, mas sem indolência. Sendo verdadeiramente sinceros com nós mesmos e com a arte. Que é difícil, mas tem muito o que nos oferecer.

 Está frio e chuvoso. Muitas faltarão por causa da chuva. Ficarão em casa vendo VIDEOS, Talvez um VIDEO de luta; ou um jogo de basquete na TV a cabo, quem sabe? “Há se luta-se assim…” “Há se joga-se como esse cara.. Como ele faz isso!?” A resposta está no dojo, na quadra ou onde quer que voce pratique de forma verdadeira para alcançar o próximo nível, mais do que faixa, mais do que medalha, de vida.

 Walter Amorim imagem

 Quem somos

Aikido sem Shu e Ha

Importante artigo de Homma Sensei sobre, entre outras coisas, a atuação dos “mágicos do KI” e sua preocupação quanto ao fato destes quererem relacionar seus shows a algo do aikido.

Shuhari traduz-se aproximadamente como “aprender primeiro, desprender e separar do aprendizado, e finalmente transcender dele”.

shu (守) “proteger”, “obedecer” – sabedoria tradicional – Fundamentos de aprendizagem, técnicas, formas.

ha (破) “desprender”, “divagar” – romper com a tradição – Se destacar das próprias ilusões

ri (離) “deixar”, “separado” – transcendência  / já não existem as técnicas ou  das proverbio, todos los movimentos são naturais sem agarrar-se a forma, transcender o físico.

Não existem técnicas ou dogmas, todos os movimentos são naturais, tornando-se uno com o espírito em paz sem se apegar a formas; transcendendo o físico.

Me foi mostrado um vídeo interessante recentemente por um de nossos alunos procedente de Itália, graduados na sede da Nippon Kan no programa de uchideshi.

No vídeo, o manifestante se apresentou como “um aluno do falecido Morihiro Saito Shihan e o último uchideshi do Fundador do Aikido, Morihei Ueshiba”. Ele passou a dizer que, após a morte do Fundador, ele continuou a servir Shihan Morihiro Saito como seu aluno.

O objeto do vídeo era “Toate” ou “jogar técnicas sem tocar”. Estas foram as técnicas para jogar as pessoas sem tocá-las e foram introduzidas no vídeo como “gokui ou o maior maestria interior do Fundador”. O vídeo no You Tube ligado a outros vídeos de famosos Shihan de Aikido (instrutores de alto nível) na realização de uma apresentação no “All Japan Aikido”. Esta associação deu um ar de legitimidade ao vídeo de Toate e ligando as suas técnicas ao Aikido. Como o vídeo estava jogando do site sem edições, você podia ouvir no vídeo sons de risos da platéia onde foram realizadas estas técnicas.

Nos primeiros anos da década de 70 nos Estados Unidos viu-se um aumento do interesse em “mágicos, místicos” das artes marciais como descrito por exemplo na série de TV de sucesso “Kung Fu”, estrelado por David Carradine.

A partir do início dos anos 70 houve também um estilo de Aikido que alegou a desenvolver misteriosa e magicamente o potencial humano. Este estilo foi ensinado como uma prática que iria resolver problemas de trabalho e de relacionamento e curar doenças humanas. Ele ainda alegou melhorar a própria capacidade de golfe, no caso de você estar precisando de um pouco de ajuda com o seu jogo!

No momento da sua introdução, a filosofia deste estilo de Aikido era bastante sedutora e reivindicou muitos poderes misteriosos. Havia um monte de coisas, no entanto, sobre este método que pode ser desafiados e postos em dúvida.

Havia muitas manifestações usadas para vender a potenciais alunos sobre a magia deste estilo de Aikido. Uma manifestação popular era “o braço inflexível”. Nesta demonstração, o braço da demonstração não pode ser dobrado com a força de muitos homens. Em outra demonstração, um manifestante se coloca horizontalmente, levantado do chão entre as s duas extremidades pés e ombros) Quando alguém se sentava em cima, o corpo do manifestante não dobrava.

Naqueles dias, provavelmente a demonstração mais usada às vezes era chamada de “âncora humana”. Nesta demonstração, um manifestante pediu um par de voluntários para levantá-lo do chão, segurando-o pelos braços e empurrando-o para cima. O demonstrador é levantado facilmente para o ar, ajudando os voluntários endurecendo seu corpo e levantando-se para cima. O manifestante, em seguida, falou sobre o poder de Ki e pede aos voluntários para levantá-lo novamente. Desta vez, o manifestante não pode ser levantado do chão. Explica que este é o resultado da realização de “ki Power” e a ilusão deste misterioso milagre nasceu.

Na realidade, essas manifestações são apenas truques da física. Se o manifestante relaxa totalmente e dobra os joelhos, é muito difícil levantá-lo, especialmente a partir do ângulo em que os braços estão sendo agarrados. Estas performances usado para me lembrar dos vendedores de óleo de cobra e magos que eu costumava ver em carnavais quando criança …

Você também tem que lembrar que, no início dos anos 70 não havia computadores pessoais ou internet e o nosso nível de acesso à informação era limitado. Mesmo pessoas inteligentes e educadas ficavam presas por estas performances e as manipulações mentais usadas sobre eles para vender essas técnicas.

Na década de 70 eu estava familiarizado com todas as técnicas de Ki mágicos usados por esses estilos de Aikido, mas eu não estou familiarizado com o que esses estilos que estão ensinando agora nesta era muito diferente.

Soube pela primeira vez desses truques do meu professor em 1976. Ele até tinha um manual secreto que tinha sido distribuído aos instrutores para ensinar-lhes como executar essas manifestações. O manual deu instruções sobre a forma de organizar as manifestações, controlar as mentes das pessoas na platéia e persuadi-los a se juntar a classe. Na época, por um curto tempo, eu até mesmo pensei que isso poderia ser uma boa abordagem, até que eu percebi que este método não era o ensinamento de shugyo (prática) que foi ensinado pelo Fundador.

Eu decidi, em vez de escrever sobre como essas demonstrações de Aikido místicas e ilusões foram realizados em meu primeiro livro, Aikido for Life, que foi publicado pela primeira vez há 25 anos. Aikido for Life está ainda em versão impressa e foi traduzido e publicado em 7 idiomas diferentes ao redor do mundo. Você pode ler Aikido for Life on-line no site da Nippon Kan

Quando escrevi este livro, alguns Aikidoka comentou que o Aikido de Gaku Homma não tem Ki.

Isso não era verdade. Não nego a existência de Ki, mas eu acho que nós precisamos acordar do engano das ilusões que foram criados em torno do conceito de Ki. Quanto mais você se concentrar em encontrar Ki creio eu, menos chances você terá de encontrá-lo. Na verdade buscando uma ilusão baseada em mal-entendido pode torná-lo mais difícil saber quem você é no mundo e ser capaz de ver fora de si mesmo. Anos atrás, quando o uso desses métodos estavam no auge, alguns alunos e até mesmo alguns instrutores veio ao meu dojo que tinha aparentemente completamente caído nesta ilusão e interpretação mágico de Ki. Ele foi um pouco desconcertante e culto como, e eu não poderia ajudar, mas pergunto como se poderia compreender a realidade e Ki a partir desta percepção.

Nos velhos tempos, outra manifestação popular era o “teste de Ki”, que foi realizada durante aiki taiso (exercícios de aikido). Para este teste Ki, os alunos estão com suas mãos na frente deles como eles costumam fazer durante os exercícios de torção do pulso. O instrutor pára-los e diz-lhes para não se mover enquanto ele empurra-los de suas mãos. Os alunos que não se movem são elogiados e os estudantes que perdem seu equilíbrio são feitas para se sentir culpado ou inadequada para mover. Os alunos que se moviam nos dito que se eles estavam a dominar a sua Ki através da prática destas técnicas, eles não se moviam. O instrutor, em seguida, executa o teste novamente e, milagrosamente, o aluno não se move. Louvor é agora utilizada como o instrutor anuncia para o público que o aluno tenha agora realizar seu Ki.

Se você iniciar a sua prática no pressuposto de uma ilusão, sua jornada na prática será distorcida. Estas abordagens de ensino Ki nos Estados Unidos na década de 70 ganharam em popularidade e, em seguida, foi diminuindo em apenas alguns anos. Em última análise, muitos dos instrutores de alto nível que usaram esta abordagem do teste de ki, do braço inflexível , abandonaram este método e se separam de organizações que trabalhavam em torno este método.

Eu tenho ensinado como as técnicas do braço inflexível e o corpo inabalável são realizados em seminários sempre em minhas dissertações. A resposta a aprendizagem de como se fazem esses truques são geralmente risos. Eu acho que ser honesto sobre estes métodos é bom para a validade do nosso shugyo ou a prática do Aikido real.

Como que eu não tinha visto demonstrações do uso do Ki em muitos anos, eu pensei que a ilusão da energia do Ki havia diminuído. Não é assim, ao que parece.

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Hoje, tem havido um surgimento de uma nova geração de instrutores que vão além de truques simples, como o braço inflexível. Esta nova geração de instrutores estão realizando um novo nível de técnicas “mágicas” com manifestações de Toate (jogando sem tocar) ou Kyo Mei (jogando pela vibração mental e energia mentais) manifestações. Alguns desses instrutores alegam também que essas técnicas foram as últimas realizações do Fundador Ueshiba no fim de sua vida.

Este novo fenômeno de “jogar as pessoas sem tocá-los” foi destacada pela primeira vez em um show de comédia por um instrutor de dança da famosa atriz japonêsa Kaoru Yumi na televisão japonesa.

Surpreendendo  seu público, as pessoas mal entenderam que aquilo era Aikido já que Kaoru Yumi e seu instrutor de dança ambos tinham faixas pretas em Aikido. Em última análise, o instrutor de dança tornou-se independente do Aikido e levou a associação dessas técnicas TOATE de Aikido para uma arte de respirar chamada OO. Mas então, no entanto, era um pouco tarde demais já que muitos instrutores de Aikido já tinham embarcado na onda do Toate e estavam usando o nome do Fundador Ueshiba para vender sua nova magia.

Minhas opiniões sobre técnicas Toate e Kyo Mei referem-se exclusivamente à prática do Aikido; Eu não julgo ou tenho uma opinião sobre alguém praticando outra arte marcial.

Alegando que Toate ou Kyo Mei está de alguma forma relacionada com os últimos ensinamentos do Fundador Ueshiba é uma alegação completamente falsa.

Os movimentos do Fundador em seus últimos anos podem ser chamados de movimentos livres. Eu sei porque eu vivi com o Fundador durante seus últimos anos. Ele usou um estilo de movimento livre não porque fosse de alguma forma mágica como os instrutores TOATE reivindicam; seus movimentos eram simplesmente os de um homem muito idoso. A livre circulação que ele usou em suas últimas manifestações também foi o mesmo movimento que ele usou todas as manhãs em suas cerimônias de oração pessoais no Santuário Aiki em Iwama.

Quando o Fundador praticava a livre circulação, era o nosso trabalho como seus alunos e como seus uke seguir os movimentos do Fundador e fazer o ukemi adequado. Qualquer estudante suficientemente perto d o Fundador para ser seu uke movia-se com profundo respeito; trabalhando a sua maior capacidade de reagir aos gestos do fundador e realizando o melhor de sua capacidade.

Eu ajudei o fundador durante as demonstrações onde o Fundador demonstrou que ele não podia ser empurrado por estudantes, empurrando-o com as mãos na testa. Eu devia estar na posição mais próxima do fundador com a minha mão sobre a sua cabeça ou seu quadril e com outros estudantes empurrando atrás de mim. Durante essas manifestações eu nunca empurrei com força o Fundador e contive o esforço dos outros estudantes que empurravam minhas costas com toda a minha força.

Esta relação entre o Fundador e seus alunos não tinha nada a ver com a capacidade do Fundador de jogar as pessoas sem tocá-los; e tinha tudo a ver com o respeito a um grande mestre.

Os shihan (instrutores sênior) desses dias que eram próximos ao Fundador sabiam muito bem que as manifestações do Fundador e seus alunos eram cooperativas. Entendia-se que os ukes do Fundador sempre se moveriam como dirigidos por gestos do Fundador por respeito a um grande homem, mas frágil, homem de idade avançada. Nenhum dos shihan jamais falou disto publicamente na época, o que agora parece ter sido um erro grave. Este silêncio parece ter encorajado esta falsa impressão que o Fundador tinha algum tipo de poder mágico.

Técnicas de onde as pessoas são jogadas sem ser tocadas não foram demonstrados pelo Fundador. Algumas pessoas disseram que “técnicas” sem contato realizadas pelo fundador eram sua transformação, realização ou compreensão final. Isso é absolutamente falso e essas “técnicas” pertencem apenas a esta nova geração de instrutores que afirmam possuir estes poderes mágicos.

Hoje, esses instrutores Toate ficar no meio de um círculo de estudantes e com um movimento de sua mão fazer todos os seus alunos cairem. Ninguém nunca viu o Fundador demonstrar qualquer coisa, mesmo remotamente relacionada a isso, e não há instrutores vivos hoje que ficavam em torno do Fundador em seus últimos anos.

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Em seus últimos anos em Iwama, havia apenas duas pessoas que cuidavam do Fundador em uma diariamente. Um era Kikuno Yamamoto e a outra pessoa era eu mesmo. Era o nosso trabalho lavar o corpo do Fundador, arrumar seu cabelo, massagear suas pernas e corpo, esfregar sua dentadura, servir as refeições e ler para ele seus livros  da Omoto Kyo à noite.

Perto do fim de sua vida, o Fundador sofria com o que foi chamado de rei kai monogatari ou o que chamaríamos hoje sintomas de senilidade. Ele perdia a paciência e começava a gritar sobre os problemas que haviam acontecido há muito tempo ou ia passear no jardim após a meia-noite. Estávamos com medo de suas explosões repentinas de raiva e preocupados depois que ele começava a vagar, seguindo-o de perto, até que vinha de volta.

Quando o Fundador perdia a paciência não havia nada que pudéssemos fazer, a não ser esperar e por causa de sua importância, ninguém poderia desafiar seu comportamento. Hoje, com todos os avanços no cuidado ançiãos,  acho que o Fundador teria recebido tratamento médico e psicológico muito melhor para sua condição do que naqueles dias.

Foi uma grande surpresa para mim quando eu mais tarde li em biografias de vida do Fundador que suas explosões de raiva foram “inspiradas por Deus” ou que os Kamisama (deuses) estavam falando através dele. Este era inacreditável e não é certo na minha experiência.

O falecido Morihiro Saito Shihan e sua esposa também estavam lá para cuidar do Fundador, mas eu e Kikuno san, que vivemos junto com o fundador e sabiamos que tipo de vida que ele levava em seus últimos anos. Kikuno san e eu estávamos ambos com menos de 20 anos de idade e Fundador estava muito solitário nesses últimos anos. Muito poucas pessoas vieram visitar o Fundador em Iwama, e aqueles que vieram deixavam uma garrafa de saquê como um presente para o fundador e um tamagushi (doação) para o santuário com a família Saito. Eles perguntavam sobre o humor do Fundador e saiam rapidamente se o Fundador estava irritado naquele dia. Ninguém queria arriscar enfrentar sua ira, visitando-o em um mau dia e a maioria das pessoas apenas se hospedaram. Pensando daqueles dias agora, eles foram dias muito difíceis, de fato.

Eu tenho uma boa memória de uma noite a noite antes da esposa do Sr. Sunao Sonoda, o ex-ministro da Saúde japonês e esposa de Kanshu Sunadomari Sensei estavam vindo para visitar o Fundador. O Fundador estava tão animado como criança e à noite foi delicioso. Infelizmente, as noites como esta eram poucos e distantes entre si em seus últimos dias.

Eu tenho uma boa memória de uma noite antes justamente da noite em que a esposa do Sr. Sunao Sonoda, o ex-ministro da Saúde japonês e a esposa de Kanshu Sunadomari Sensei vinham visitar o Fundador.  O Fundador estava tão animado como criança e à noite foi deliciosa. Infelizmente, as noites como esta eram poucas e distantes entre si em seus últimos dias.

Perto do fim de sua vida, mesmo os shidoin (instrutores juniores) e shihan da sede da Aikikai em Tóquio eram cautelosos nas visitas do Fundador. Houve muitas vezes quando eu os avisaria na sede da Aikikai em Tóquio para que soubessem que o Fundador estava chegando sem aviso prévio somente para ser ordenado para detê-lo. Quando o fundador vinha para a sede da Aikikai em Tóquio até mesmo seu próprio filho, muitas vezes fuga para evitá-lo; temendo que ele iria perder a calma e entregar uma “mensagem dos deuses” a qualquer um que se coloca-se em seu caminho.

O shidoin mais jovem e até mesmo o mais velho shihan, sênior na sede da Aikikai não passarom todo o tempo com o fundador durante seus últimos anos em Iwama. No final de sua vida, o Fundador transferiu de volta para a sede da Aikikai em Tóquio onde passou seus últimos dias, mas ele estava muito doente e sob os cuidados dia e noite. Em verdade nenhum shidoin ou shihan teria tido a oportunidade de aprender qualquer última transformação ou realização final do Fundador naquele momento.

Mesmo os estudantes que praticaram em Iwama dojo durante os anos finais do Fundador não passavam tempo com ele que não fosse durante a prática. Prática do Fundador era muito tranquila, onde apenas os sons suaves de pés deslizando no tatami podiam ser ouvidos. Nenhuma queda abrupta, batendo o tapete, ou mesmo kiai eram permitidos. Os alunos deixavam o dojo em silêncio após a prática através da porta que foi designada apenas para os alunos, e eles nunca estavam envolvidos com o Fundador fora da hora da prática. Nenhum estudante teria tido a oportunidade de receber qualquer tipo de “ensino transformador segredo” do Fundador, pois os únicos estudantes que estavam envolvidos com a vida do Fundador fora a hora da prática foram eu e Kikuno san.

Eu sei de um vídeo antigo que foi feito da prática do Fundador em Iwama, em que no vídeo você pode ouvir o som de kiai durante a prática. Essas cenas de treino foram, no entanto, escritas pelo diretor para dar o efeito dramático e não refletem a prática real. Neste vídeo, você também pode ver o Fundador com sua esposa na frente do shomen, ou altar, que fica na frente do dojo a beber chá. Isto nunca teria acontecido com base no protocolo religioso do Fundador e também foi roteirizado pelo diretor. Havia uma cena no vídeo onde o Fundador estava indo para o Santuário Aiki a rezar que foi filmado em no meio do dia. O diretor queria uma sensação mais misteriosa para a cena, por isso era a minha tarefa balançar recipientes com fumaça ao redor para fazêr parecer mais como uma manhã enevoada bem cedo. Você pode imaginar que, no final deste dia, o Fundador não estava muito feliz …

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watanabe
Watanabe, “um do mágicos”

As reivindicações de qualquer instrutor que ensina Toate como algo que aprendeu com o Fundador como seu último ensinamento de aikido real são completamente infundadas e muito desrespeitosas com o Fundador. Estes instrutores estão fazendo nada mais do que inventar um argumento de vendas para convencer os alunos a se juntar a eles; o mesmo tipo de técnicas que foi usada por instrutores de Aikido antigos que usaram os conceitos de energia Ki. Ambos usam a culpa de potenciais alunos para fazê-los acreditar que eles não estão fazendo jus ao seu próprio potencial ou tendo a capacidade de receber estes poderes do instrutor, a menos que eles se juntem as aulas.

Na mesma página do You Tube, onde um vídeo de demonstração de Toate foi carregado, eu assisti um outro vídeo onde um desses instrutores deToate, que afirmou ser invencível, desafiando outro artista marcial para atacá-lo. Em poucos segundos, o instrutor  de Toate foi levado para o chão e enviado para o hospital …

Mesmo com toda a evidência da falácia dessas alegações de serem capaz de lançar ou mover as pessoas sem tocá-las, as reivindicações continuam e, infelizmente, continuam a ser associado com o fundador do Aikido, Morihei Ueshiba.

O Aikido do Fundador foi baseado em shugyo (prática) e shugyo é baseado no conceito importante de Shuhari. Há fases em nossa prática definidos por Shu, Ha, e Ri. Shu descreve compreensão do nível básico, Há é uma compreensão mais integrada e Ri uma realização definitiva. Deve-se capacitar-se em Shu, depois para Há, e depois para Ri, com uma vida inteira de prática, e cada nível não pode ser realizado sem o outro. (Ver também a definição e integração dos termos no início do artigo como referência). Estes instrutores que afirmam que Toate é o último grande ensinamento do Fundador acreditam que Toate é a Ri do termo Shuhari.

O conceito de Shuhari é um processo de entendimento e você não pode pular sobre Shu e Ha e tentar ensinar sua própria interpretação do Ri, alegando que ele seja do Fundador. Por um lado, Ri não pertence a qualquer pessoa e, segundo, o Fundador nunca teria seguido esse tipo de pensamento. Eu não gosto de ver a reputação do Fundador utilizada desta forma e eu acredito que, se o fundador fosse capaz de ver seu nome associado a esse absurdo que ele estaria com raiva.

A sede da Aikikai tem que posicionar-se contra esses instrutores Toate. Se não o fizerem, esta deturpação continuará se espalhando por todo o mundo. Este tipo de ensino é especialmente perigoso em um mundo onde cada vez mais instrutores de faixa preta não terminam suas próprias técnicas e não tomam ukemi.

Há muitos instrutores no mundo nos dias de hoje, que parecem ter ignorado o processo de aprender a tornar-se instrutores. Eu vi instrutores que só copiam a maneira como eles viram o movimento do Fundador em filmes sem compreender as razões para as variações do Fundador.

Eu vi instrutores imitar a maneira que o Fundador realizaram a técnica Iriminage por exemplo, como um homem muito idoso. Naquela época, o Fundador estendia o seu braço para cima, sem muito contato corpo a corpo para lançar o seu uke e dando alguns passos para frente após a projeção.

O irimi nage que ajudou a gerar a polemica.
O irimi nage que ajudou a gerar a polemica.

É divertido ver este movimento imitado quando, na verdade, o Fundador dava um passo à frente depois da projeção porque na sua idade avançada, ele não era mais capaz de parar a sua própria dinâmica. Como seus alunos, sempre estávamos acompanhando o Fundador de perto durante este tempo para se certificar de que ele não caiu…

Estes instrutores de Aikido que querem saltar sobre a base construída de Shu e Ha e alcançar a realização última de Ri sem todo processo que está em um caminho equivocado. Não há nenhum atalho para o entendimento final, e para tentar vender a “essência” de Aikido; não tem sentido. O Fundador disse que “o Aikido é “misogi waza” ou uma prática em purificação.” Para prosseguir ganho mundanos, em vez de prática, não é o Aikido do Fundador.

***

Por muitos anos, não muito tempo atrás, os nossos telefones tinha mostradores e eram discados para operar. Os telefones de hoje são operados por toque ou mesmo comando de voz. Nossas vidas hoje são preenchidas com as conveniências e nosso acesso à informação é praticamente ilimitado. Um resultado de toda essa tecnologia é que nós não observamos, processamos, entendemos e lembramos muito com nossos cérebros; contamos com telefones inteligentes para tirar fotos, vídeos e gravações em seu lugar. Nós não nos importamos como esta tecnologia foi aperfeiçoada, apenas o que é o mais novo e mais rápido e como ela pode beneficiar nossas vidas.

Eu vejo muitos instrutores hoje que não vão concentrar-se sobre o processo da prática. Eles querem pular direto para a celebração de uma vida inteira de prática dedicada; e perceber a essência do Aikido sem trabalhar para isso. Eles ignoram o Shu e Ha em Shuhari. Eles são como os consumidores que querem o mais novo produto ou de ser capazes de “baixar” as respostas sem estudo. Dominar a técnica e a filosofia do Aikido só pode ser alcançado através da prática dedicada ou shugyo. Este novo fenômeno de ensinar somente a “essência” do Aikido sem prática só vai aumentar à medida que a tecnologia se desenvolve em nossas vidas, e eu me preocupo que esse tipo de pensamento vai terminar o processo de shugyo. Acabar com shugyo seria mais um passo em direção ao fim do próprio Aikido.

Assistindo a um vídeo de demonstração do Toate ouvi um comentário de instrutor, “Será que ele realmente tem a gbraduação de sétimo grau de faixa preta? Ele não tem nenhum entendimento ou fundação do movimento básico e técnica. A única razão que ele pode jogar seus alunos é porque eles são bem treinados para rolar”. O instrutor na demonstração estava até usando seu hakama para trás quando ele demonstrou técnicas sem tocar.

Shu-Ha Ri em Aikido é um processo de prática. Hoje instrutores ensinam que existe apenas Ri; fecham os olhos para o aprendizado e a experiência necessários em Shu e Ha para nunca ser capaz de atingir Ri.

Aikidoka jovem! Qualquer um pode fazer essas técnicas “jogar sem tocar” se você tiver um bom uke! Eu costumava ser um uke para o Fundador e realizado em muitas demonstrações com ele. Eu praticava diligentemente para ser um bom uke que significava que eu poderia me jogar! Houve momentos no dojo Iwama durante o dia, quando não havia mais ninguém lá que o Fundador me chamava para a prática privada. Estas foram as práticas informais, e o Fundador até mesmo não usava seu hakama geralmente.

Normalmente, quando alguém pratica movimentos de Aikido sozinho, eles praticam o lado do nage ou jogando. Eu também praticava o lado uke sozinho e praticava levando ukemi sem um parceiro! O Fundador nunca teve que me jogar a sério; Eu era um muito bom uke sozinho.

Eu nunca sabia quando o Fundador podia me chamar de praticar, de forma a estar sempre pronto eu usava o meu keiko gi e a calça sobre minhas calças de rua regulares para estar pronto …  Quando precisasse.

Então, você também pode fazer um vídeo Toate com seus amigos e postá-lo no You Tube. Seja criativo e verá quem consegue fazer o melhor! Se você perceber quão tolo tudo isto é, será um grande passo para mover a sua prática para frente em uma direção melhor.

A maioria dos tsuki soba ou atendentes próximos do Fundador não seguiram com histórias pessoais do fundador. Eu fiz isso porque o Fundador era um grande homem, mas não é fiel à sua grandiosidade para fazê-lo soar como se fosse algum tipo de um Deus.

Meu desejo é advertir aqueles que podem ser enganado por esses instrutores TOATE oportunistas e cheios de falsidade, não só pelos seus créditos, mas da farsa de associar o nome do Fundador com seus esquemas.

É o meu trabalho para soar o alarme para que você saiba.

É minha opinião e minha experiência que o entendimento final do Aikido ou Ri é encontrado apenas através da prática constante; através da repetição repetido de Shu e Ha. Concentre seus esforços na prática todos os dias e não seja influenciado por instrutores que lhe dizem que não há necessidade.

O mais importante para a compreensão do Aikido é para continuar, dia a dia … Shu … e … Ha.

Uma História de Zen

Um dia, havia um jovem unsui (sacerdote em formação) que abordou o roshi (mestre sacerdote) após o zazen da manhã (zen = meditação) para lhe fazer uma pergunta séria. “Onde, onde Roshi e o que você estava fazendo no momento em que você tornou-se iluminado?” Ele respondeu: “Eu vivi neste templo desde que eu tinha 10 anos. Quando eu tinha mais de 80, eu estava andando no jardim do templo, uma noite, a pensar profundamente sobre a minha vida zen. Estava escuro no jardim e eu corri para uma das pedras no jardim, batendo minha canela. “Ouch”! Eu gritei e, naquele momento, tudo muito ficou claro e eu atingia iluminação “.

Na noite seguinte, muitos dos jovens unsui estavam alinhados no jardim em frente à pedra e começaram a bater suas pernas sobre a rocha …

O que levei muitas páginas para tentar explicar neste artigo está escrito bem nesta história muito curta …

Isso é zen.

Escrito por Gaku Homma, Nippon Kan Kancho. 20 de outubro de 2013

NOTA IMPORTANTE: O presente texto apresenta argumentos e opiniões pessoais do autor, Homma Sensei, sem dúvida um grande mestre e de importância imensa no aikido mundial e que tivemos a honra de conhecer. Entretanto não necessariamente reflete ou representa posições oficiais da associação Ganseki, na questão de defender ou contrapor políticas ou declarações do Hombu Dojo no que se refere às suas relações com os envolvidos.

A promoção de 10o dan de Tohei Sensei

Artigo de Stanley Pranin originalmente publicado no Aikijournal. Tradução livre de Walter Amorim. 

“Qual foi a razão para o atraso e que fez Morihei Ueshiba realmente autorizar a promoção 10o dan de Tohei Sensei? “

Koichi Tohei, 1967. Photo cortesia de Jason Hirata para aikijournal

Koichi Tohei Sensei é um dos instrutores mais famosos de Aikido e foi o chefe da equipe de instrutores da Aikikai por muitos anos, antes de deixar a Aikikai. Tohei ganhou fama como um dos pioneiros do aikido, e foi responsável por levar a arte para o Havaí em 1953. Ele também é autor de numerosos livros, primeiros sobre aikido, e que muito contribuíram para o sucesso inicial da arte.
O tema da 10ª promoção de Tohei Sensei dan tem gerado um pouco de controvérsia ao longo dos anos. Parece que houve tempo suficiente que o acesso às matérias-primas é escassa e, portanto, o mil boatos retomaram sempre; e várias especulações foram feitas.

O ponto obscuro tem a ver com o fato de que a “festa de inauguração” para 10 de Tohei Sensei dan foi realizada no dia 16 de outubro de 1970, em um total de 18 meses após o falecimento do Fundador do Aikido, Morihei Ueshiba. Qual foi a razão para o atraso e fez Morihei Ueshiba realmente autorizar promoção décimo dan de Tohei Sensei?
Na verdade, a resposta a esta aparente discrepância é facilmente encontrada consultando a edição de Inverno de 1970 do boletim “Aikido”, publicado pela Aikikai Hombu Dojo, em Tóquio. Parece que Tohei recebeu o seu décimo dan oficialmente pelo próprio Fundador em 15 de janeiro de 1969 na celebração do Kagami Biraki, realizada no Hombu Dojo.
O que aconteceu a seguir explica a confusão. O fundador adoeceu em fevereiro, e faleceu em 29 de abril de 1969. Uma alta classificação – como um prêmio de 10 dan – teria obrigatoriamente que envolver uma festa de congratulações em grande escala. No entanto, devido à passagem de Morihei Ueshiba, e o funcionamento de um ano de luto, era inadequado se realizar qualquer tipo de evento comemorativo para a promoção de Tohei. A festa de congratulações de Tohei também teve que esperar até depois do início oficial da atuação do segundo Doshu do Aikido , o filho de Ueshiba Kisshomaru, e só depois de uma espera de um ano.

Como resultado desta seqüência de eventos, a festa de 10o dan de Tohei Sensei, na verdade, ocorreu em outubro de 1970 no Akasaka Prince Hotel com centenas de convidados presentes, incluindo os grandes expoentes do mundo do aikido e vários amigos de Tohei Sensei de seus anos escolares.

Um retrato famoso do evento, agora quase esquecido, sobreviveu. Nele, Tohei é acompanhado esquerda para a direita pelos seguintes instrutores da Aikikai: Minoru Kurita, Fumio Toyoda, Seijuro Masuda, Koretoshi Maruyama, Sadateru Arikawa, Norihiko Ichihashi, Koichi Tohei, Shigenobu Okumura, Kisaburo Osawa, Shizuo Imaizumi, Masando Sasaki, Akira Tohei , Yoshio Kuroiwa, e Mitsugi Saotome.

Esta foto acima é muito reveladora no sentido de que entre aqueles que aparecem com Tohei são vários instrutores do Hombu que foram os mais próximos aliados dele. Depois Tohei demitiu-se da Aikikai em maio de 1974, vários dos que figuram juntaram-se a Tohei na sua partida. Além disso, destaca-se a ausência do Segundo Doshu e vários dos instrutores do Hombu, hierarquicamente superiores, no “retrato oficial.” Como se costuma dizer, “uma imagem vale mais que mil palavras.”
Espero que isso esclareça qualquer confusão envolvida com classificação de Koichi Tohei Sensei ao 10 dan. Na verdade, não há muito a dizer sobre vários outros professores que receberam 10 dan do Fundador fora dos canais organizacionais normais ou postumamente, mas vamos deixar para outra ocasião.

Suneo no keiko – Um treinamento de aikido sincero

Iwama Japão
Cartaz colocado no Iwama Dojo no Japão: “Usar tua força para deter a técnica do companheiro é proibido.” dojo-cho

Texto originalmente publicado por Aikido en Línea.

Tradução de Walter Amorim.

Muitas vezes nos praticantes nos perguntamos o que necessitamos para realizar um treinamento de aikido sincero. esta é uma questão um tanto complicada, já que tudo depende do que queremos conseguir, de maneira que não é o mesmo treinar para melhorar n osso waza, que para fortalecer o nosso corpo, ou para fazer frente a ataques sinceros e não programados. Em todos os casos, os métodos de treinamento seguramente variam e temos falado sobre isto um pouco, em uma entrada sobre os conceitos básicos da pedagogia para o aikido.

Neste caso queremos trazer uma passagem engraçada sobre o treinamento do waza, e falar a respeito das técnicas básicas, o kihon. Esta passagem vem por meio dos escritos de Stanley Pranin, que nos conta em um artigo sobre o treinamento sincero no aikido o seguinte:
“O que segue foi uma história real que ocorreu no dojo de Iwama tem muitos anos. Eu estava praticando com um uke de considerável força. Em cada ocasião este usava seu conhecimento da técnica que estávamos praticando para bloquear meus movimentos. Com certeza, esta era uma causa de frustação para mim. Para deixar as coisas claras, procedi o bloqueio da sua técnica da mesma maneira, mas só uma vez para mostrar o que estava fazendo. Continuou fazendo o mesmo, e desde então me resignei a seguir até o final da aula prometendo a mim mesmo não treinar com ele de novo. Eu sabia que saito Sensei nos observava, e eu vi pelo canto dos olhos que estava se aborrecendo. Por último gritou: ¡Dame! ¡Así iu kudaranai keiko yamero!”( chega! Não continue com esse treinamento estupido!). Todos nos sentamos enquanto Sensei explodiu com meu uke. Explicou que qualquer um pode bloquear a técnica de uma pessoa se sabe de antemão o que pretende fazer. Que este tipo de treinamento acaba totalmente com o propósito da prática e que ninguém pode progredir desta maneira. Sensei logo em seguida proibiu meu companheiro de treinar no dojo. O homem estava totalmente humilhado e imediatamente deixou o dojo com a cabeça baixa. Sensei finalmente deixou o homem retornar depois de um mês. A partir daí se comportava de uma maneira respeitosa e se converteu em um estudante exemplar. treinei com ele várias vezes depois disso e foi uma experiência agradável. Mas tarde estabeleceu seu próprio dojo e segue até hoje.”

Obviamente, quando recebemos uma técnica podemos em qualquer momento deter o tori se sabemos como fazê-lo. Mas esse não é o propósito do kihon, da técnica básica. Um estudante de aikido sincero deve saber quando estamos aprendendo a base, e quando estamos já em um nível avançado e aplicando kaeshi waza ou ainda técnicas fluídas sobre os companheiros que realizam ataques programados. Converter a prática em uma luta constante entre uke e tori não serve para a progressão adequada do estudante. Isto não implica que uke deva deixar aplicar-lhe a técnica simplesmente. Existe uma linha entre a colaboração e a resistência em que uke deve mover-se com desenvoltura, para ajudar o tori a melhorar o seu aikido.
Isto é especialmente certo para os yudansha que muito frequentemente se encontram treinando com alunos de graduações mais baixas, e que podem facilmente bloquear. Se pratica desta maneira, está enviando uma mensagem muito negativa ao principalmente, fazendo-lhe ver que o treinamento básico em pares é uma competição. Em nossa opinião, um bom uke deve atuar de outra maneira, mais construtiva. A saber:

1. Quando recebe a técnica, se esta é efetiva e consegue desequilibra-lo e projeta-lo, ou imobiliza-lo, deve aceita-la e não tratar de bloqueá-la.
2. Em caso de que o waza esteja mal executado, Uke pode mentalmente tomar nota que não foi bem executada a técnica, para corrigir a sua própria. Desta maneira, recebendo uma técnica pode estuda-la com mais detalhe.
3 deste ponto de vista, não é coreto deter o tori para fazer-lhe ver que sua técnica não está executada corretamente, há que deixar-lhe que termine sua prática. Este tenderá a oportunidade de ser uke, e identificar por sua própria experiência os pontos a melhoria da técnica. Além do mais, se tem a suficiente sensibilidade, será capaz de identificar se uke está ou não corretamente desequilibrado e/ou bloqueado. Esta é uma capacidade muito importante e deve também ser treinada.
4. Se agarra demasiado forte ou é demasiado poderoso para a técnica de tori, é adequado rebaixar a intensidade da técnica. O propósito não é demonstrar o quanto somos poderosos, é sim aprender juntos.
Desta maneira, e sem a necessidade de enfrentar-se, ou se quer falar, uke e tori estarão educando a si mesmos mediante a prática. Estarão ajudando-se mutuamente a progredir, e estarão realizando um treinamento sincero. Obviamente, trabalhara assim não exclui agarramentos fortes. Não é contraditório, mas se requer andar por essa pequena fronteira entre a colaboração e a competição.
Não queremos acabar este pequeno artigo sem mencionar outra das funções do uke: educar ao tori. Este é o método tradicional nas escolas koryu japonesas, onde o mestre recebe a técnica do estudante. Desta maneira, e mediante seu próprio movimento corporal, pode redirecionar o tori para que este execute a técnica com correção. Uma vez mais, não se trata de uma prática “colaborativa”, onde o companheiro se deixa o outro fazer. É bum método pedagógico.
Agora bem, alguns leitores se perguntarão porque não devemos praticar com companheiros que resistem em 100% das técnicas, obviamente, podemos faze-lo, mas não se ter uma técnica básica poderosa. E para isso, faz-se muitos erros, muitas horas de treinamento básico em conjunto, em que os praticantes se ajudam entre si para progredir.

Noriaki Inoue, pioneiro esquecido do Aikido

Por Stanley Pranin. Tradução livre.

“Toquei a campainha e uma mulher diminuta, talvez na casa dos 70 anos, abriu a porta. Ela olha para cima e v​ê​ esse gaijin ​de 1,83m olhando para o rosto dela, e eu pensei que ela fosse desmaiar ali! “

Das áreas que explorei no meu longo estudo sobre a vida de Morihei Ueshiba e a criação de aikido, eu acho que d​uas em particular se destacam por ter causado um repensar fundamental entre a comunidade aikido de como a nossa arte evoluiu. O primeiro envolve o papel de Sokaku Takeda e sua arte, Daito-ryu Aikijujutsu, para fornecer a base técnica para o que viria a emergir como aikido. O segundo é o papel desempenhado pela família Inoue de Tanabe, especialmente o sobrinho de Morihei Yoichiro, na progressão de eventos iniciais que permitiram o Fundador para prosseguir a sua carreira de artes marciais, e, eventualmente, desenvolver a arte que praticamos hoje.

Curiosamente, minha exploração de ambos os aspectos da história inicial do aikido resultou em muitos problemas para mim, pessoalmente e profissionalmente, devido às controvérsias que eles provocaram. O papel de Sokaku tinha sido grandemente minimizado e distorcida, enquanto Yoichiro-mais tarde conhecido como Noriaki-havia sido relegado a um “jogador de bit” em contas de história aikido. Quando eu escrevi um artigo intitulado “Yoichiro Inoue, Forgotten Pioneer do Aikido,” cerca de dez anos atrás, que também foi publicado em japonês, causou um alvoroço nos bastidores, e um incidente altamente constrangedor para a equipe de Aiki News no Japão e eu.

Noriaki Inoue foi o filho da irmã de Morihei Ueshiba mais velho Tame, e seu marido Zenzo Inoue (pai de Yoichiro), um dos cidadãos mais ricos da Tanabe. Inoue e sua família foram envolvidos na etapa praticamente todos os importantes tomadas por Morihei, pelo menos até 1931, quando ele 47 anos de idade. Não seria um exagero dizer que a família Ueshiba e Inoues agiu como uma unidade conjunta familiar em muitas áreas que preparou o palco para Morihei ter a oportunidade de lançar a sua carreira nas artes marciais. Remeto os leitores para o artigo acima para um estudo detalhado desse relacionamento.

No início da década de 1980, bem cedo em minha pesquisa, eu comecei a notar que cada um dos alunos do pré-guerra de Morihei que conheci freqüentemente mencionava “Yoichiro” em seu relato dos acontecimentos dos primeiros dias do aikido. Seus retratos de seu caráter e ações não foram sempre lisonjeiro, mas tornou-se evidente que Yoichio, pelo menos como um sénior como “braço direito” de Morihei durante um período de 15 anos serviu-instrutor. O fato de que este “Yoichiro,” vai então com o nome de “Noriaki” ainda estava ensino ativo em Tóquio começou a realmente despertar a minha curiosidade. Propus-me a conhecer, e espero entrevistá-lo, para ouvir seu lado da história.

Dizer que isso provaria um desafio seria um pouco de um eufemismo. Meus esforços para atender Inoue Sensei foram ignorados ou rejeitado repetidamente. Eu não consigo lembrar a seqüência exata de eventos, mas provavelmente devido à minha persistência, ele finalmente concordou em me encontrar com a condição de que eu traga um par de “veteranos” comigo. Isso não era exatamente o que eu esperava, mas pelo menos me deu a chance de obter um “pé na porta”, por assim dizer.Felizmente, eu era capaz de mandar para Shigemi Yonekawa e Zenzaburo Akazawa, ambos os quais eu já havia entrevistado, para me acompanhar. Os três de nós finalmente encontrou Inoue Sensei em Tóquio, em 09 de dezembro de 1981 eu estava quase totalmente excluídos da discussão, mas conseguiu fita-record tudo. A transcrição dessa reunião existe, mas ainda permanece inédito.

Obtendo meu “pé na porta” acabou por estar recebendo “a porta bateu no meu pé.” Meus esforços para atender com Inoue Sensei e fazer uma entrevista adequada foram bloqueados por seu escritório da frente, e eu finalmente desisti … pelo menos por enquanto.

Finalmente, em 1986 eu não aguentava mais, sabendo que talvez a pessoa mais importante depois do próprio Fundador ainda estava vivo e morando a poucos quilômetros de distância de mim. Eu decidi agir. Minha solução seria um plano diabólico que só um “gaijin henna” poderia inventar. Tomei a transcrição das conversas gravadas, cinco anos antes complementados por uma carta educada e saiu para Kunitachi, a poucos quilômetros a oeste, onde ele morava. Toquei a campainha e uma mulher diminuta, talvez na casa dos 70 anos, abriu a porta. Ela olha para cima e vi esse gaijin seis-pé olhando para o rosto dela, e eu pensei que fosse desmaiar no local. Dei-lhe o envelope com a minha carta ea transcrição, pedi licença e saiu. A carta dizia que Aiki News iria publicar a entrevista na próxima edição da revista, como é, uma vez que tinha tido sucesso em obter ajuda para fazer um trabalho de edição apropriada.Consideramos o papel de Inoue Sensei ser demasiado importante para ser ignorado, e faria o melhor que podíamos, etc ….

Foto tomada na festa de aniversário de Inoue Sensei em 1988

Eu, sem dúvida, causei furor com a minha ação não-ortodoxa, e tenho certeza que alguém foi repreendido. Ainda assim, o front office recusou-se a permitir-me a encontrá-lo. No final da minha sagacidade, um dia eu liguei para o chefe de escritório na minha reparadas tais japonês como ele é, e começou a ficar louco, muito louco!Eu disse a ele que eu tinha certeza que ele estava fazendo seu trabalho da melhor maneira que viu, mas que ele estava me impedindo de fazer o meu trabalho, o que era para contar a história verdadeira da criação do aikido. Ele não estava ciente de que seu professor Inoue Sensei estava sendo caluniado e extirpado da história do aikido?Como poderia este estado de coisas injusto ser corrigidos sem a cooperação do lado de Inoue? Será que ele achava que eu estava sendo sincero no meu desejo de conceder Inoue Sensei seu lugar de direito e de destaque na história do aikido?

Ele ficou em silêncio, e meu editor japonês que tinha ouvido a conversa, olhou para mim sem acreditar! Mas funcionou. Pouco tempo depois, fui convidado para a casa de Inoue Sensei. Laden com fotos antigas e documentos históricos, meu editor japonês e eu fizemos o nosso caminho para a sua casa. Fomos recebidos por Inoue Sensei, o chefe de escritório e uma sala cheia de seus alunos. Acho que eles pensaram que eu era um “canhão solto”, e queria ter certeza de que eu corretamente comportado! Felizmente, quando cheguei ele falando sobre os velhos tempos e “o que realmente aconteceu”, ele começou a ter um verdadeiro gosto para mim, e eu a ele. Isso ocorreu em 1986.

Depois disso, por um período de dois anos, foi-me dado acesso quase irrestrito a Inoue Sensei, e sempre levava um gravador comigo desde que eu nunca sabia quando ele ia começar a falar sobre os velhos tempos. Eu nunca poderia fazer uma entrevista adequada com ele, então eu devo dar grande crédito à minha equipe, que foram capazes de forjar manuscritos juntos editados a partir das diversas fitas gravações que apresentei-los. Acho que publicou quatro ou cinco entrevistas de Inoue Sensei durante este período.

tanley Pranin com Noriaki Inoue, Kameoka, 1987

Havia vários destaques dos preciosos momentos que eu era capaz de passar com Inoue Sensei. A primeira ocorreu no verão de 1987, quando fui convidado para participar da gasshuku anual que deu em Kameoka, na sede administrativa Omoto. Foi-me permitido livremente videotape suas aulas e tirar fotos das várias atividades em torno do evento. Tenho provavelmente 5-6 horas de vídeo que nunca foi mostrado guardado. O seu lugar é em nossos arquivos sobre o Aikido Journal membros do site.Um dia vou chegar a ele com o seu apoio e encorajamento.

A segunda foi uma grande manifestação pública que dispostos em Yotsuya em abril de 1988, foi assistido por uma multidão com ingressos esgotados de cerca de 550 pessoas que agarrou a chance de ver esta lenda viva em ação, talvez pela primeira e única vez. Tudo foi filmado e fotografado. Inoue Sensei tinha 85 anos na época e não muito móvel, mas ele ainda tinha uma presença forte e foi muito bem recebido. Aqueles que participaram eram muito conscientes da importância histórica do evento.Muitos artistas marciais mostrou-se muito, e alguns foram capazes de conhecer e conversar com Inoue Sensei na festa após o evento.

Eu tinha muito pouca interação com Inoue Sensei e seu grupo após a grande manifestação. Eu o conheci talvez 15-20 vezes e tive a sorte de ter um monte de informações, mas era difícil conseguir oportunidades de conversar com ele, como eu sempre o conheci em um ambiente de grupo. Além disso, eu estava muito ocupado com o trabalho relacionado ao Notícias Aiki e viajar com Morihiro Saito Sensei como seu intérprete neste momento no tempo.

Muito mais tarde, em abril de 1994, recebi a notícia de que Inoue Sensei faleceu na idade madura de 92, tendo continuado ensino até muito perto do final da sua vida. Eu assisti a sua cerimônia de funeral, juntamente com centenas de outros mais ou menos os enlutados, incluindo seu primeiro primo, Doshu Kisshomaru Ueshiba.Lá eu conheci um dos sobrinhos Inoues ‘. Este acontecimento foi a levar a uma fase totalmente nova em minha pesquisa da história da família Ueshiba-Inoue e me muita informação necessária e perspectiva para melhor estabelecer a importância deste relacionamento familiar no início da vida de Morihei.

Entrevista com Takako Kunigoshi Sensei

Foto histórica de kunigoshi sensei
Foto histórica de kunigoshi sensei

No Aikidojournal, Stannley Pranin fala-nos de Takako Kunigoshi Sensei, que foi a primeira professora de Aikibudo. Esta senhora também é muito conhecida por ter desenhado o primeiro livro de O’Sensei, “Budo Renshu”. Takako Sensei estava a estudar na Universidade Feminina para as Artes Clássicas quando entrou para o Aikibudo.

Sendo uma artista, começou a desenhar as técnicas que aprendia com O’Sensei depois de cada aula. Pedia então aos seus colegas para posarem fazendo as técnicas que O’Sensei tinha ensinado durante a aula, enquanto esboçava um desenho rápido. Um dia O’Sensei voltou atrás e perguntou, “O que estão fazendo?” Em vez de ficar zangado por estarem catalogando suas técnicas, O’Sensei começou ele próprio a posar para os desenhos. Kunigoshi Sensei teve muito trabalho e uma grande responsabilidade.

Budo Renshu, desenhos pela Srª Kunigoshi

Tanto mulheres como homens, deveriam estudar a entrevista desta senhora, além de dezenas de outras, para melhor aprender a história do Aikido.

A entrevista a seguir com a Sra. Takako Kunigoshi ocorreu no dia 26 de agosto de 1981, em sua casa na área de Ikebukuro Tokyo . Kunigoshi Sensei é um professor de tanto arranjo de flores e cerimônia do chá.

Edição: Kunigoshi Sensei, quando foi que você começou a se envolver em Aikido?

Eu comecei em janeiro de 1933, o ano em que me formei na escola. Eu fui capaz de continuar até um pouco antes dos ataques aéreos começarem em Tóquio (2a guerra). Ao mesmo tempo eu tinha sido convidado para ensinar auto-defesa para funcionárias de uma empresa situada próximo ao famoso Kaminari Mon do Templo Asakusa no antigo bairro da cidade de Tokyo . Eu fui lá com a neta de Yakumo Koizumi ( o um conhecido escritor do período Meiji ) , a Sra. Kazuko Koizumi , e gostavamos de ensinar juntos. Ela já falecida agora. Após o começo destes ataques aéreos, sempre havia avisos e alarmes, e as coisas estavam ficando um pouco perigosas, então tivemos que parar. Nós nunca tivemos como treinar muito lá .

Editor : Você estava treinando no Ushigome Dojo (atualmente Hombu Dojo ) ?

Sim, isso. Foi o o-sensei que me pediu para ensinar em Asakusa.

Edição: Eu imagino que não havia muitas mulheres entre os deshi naqueles dias.

Havia apenas duas de nós ! A outra mulher era de dois ou três anos mais nova do que eu. Recebia cartões de Ano Novo seus , até poucos anos atrás. Atualmente parece que seu sobrinho está indo para o dojo agora. Mas como você disse, naqueles dias, n~çao iam muitas mulheres treinar . Sempre assim mas, Ueshiba Sensei nunca nos fez sentir diferente, mudando as coisas, “porque você é uma mulher . “

Editor: Quem foi que introduziu-lhe a arte ?

historical-photo-yonekawa_kunigoshi2No meu caso, nunca foi especialmente introduzida por ninguém. Eu fui por minha conta, no meu caminho para a escola de manhã , para a classe de 06:30 . Você por acaso conhece Kenzo Futaki Sensei? Ele era um professor da dieta macrobiótica baseada em arroz integral. Eu costumava ir com ele. Ele já se foi também.

As coisas não eram como são agora, a arte não era tão conhecida. Eu diria que havia cerca de seis ou sete estudantes uchideshi que viviam e dormiam no dojo e, provavelmente, com o mesmo número de pessoas que vinham de casa. Se o uchideshi não estavam acordados ainda não podiamos entrar no dojo e tinhamos que esperar do lado de fora no frio! (risos)

Edição: Quais foram os uchideshi como naqueles dias?

Sr. Yonekawa , o Sr. Shirata , Mr. Funahashi e o falecido Sr. Yukawa . Em seguida, houve uma pessoa que veio de Osaka , cujo nome era Mr. Oku . Talvez fosse o Sr. Yonekawa o mais velho entre nós. No ano passado, ele e eu fizemos uma viagem para a Kasama Inari juntos em nosso participar da cerimônia que foi realizada para marcar o 10 º aniversário da morte de 0- Sensei.

Edição: Cerca de dois anos atrás, ouvimos algumas histórias maravilhosas de Yonekawa Sensei. Lembra- se no momento em que estavam treinando , que o nome ” Aikido ” já estava em uso ?

Acho que naquela época era chamado de Daito Ryu.

Editor: ” Daito- Ryu Aiki- Jujutsu ? “

Acho que foi algo assim porque eu recebi um livro intitulado makimono Daito Ryu. Parece- me que o nome Aikido começou a ser usado um pouco antes da guerra começar . Era quase como se o nome do Aikido fosse pensado para realmente indicar o Daito Ryu. Mais tarde, quando me perguntaram sobre isso, eu sempre respondia que era a tradição da Takeda Sokaku Sensei ( ryu ).

Editor : Durante as sessões de treinamento de Ueshiba Sensei de que forma ele explicava as técnicas de Aikido?

Não importa o que pedíamos a ele, que eu acho que sempre tínhamos a mesma resposta. De qualquer forma, não havia uma alma que não conseguia entender algumas das coisas que ele dizia . Eu acho que ele estava falando sobre assuntos espirituais , mas o significado de suas palavras ia um pouco além de nós. depois, ficávamos por aí e perguntávamos uns aos outros : “Só o que era Sensei estava falando mesmo? ” (Risos).

Editor: Esta é uma cópia do livro intitulado ” Budo Renshu ” . Foi republicado dois ou três anos atrás. Tenho certeza de que você , Kunigoshi Sensei, estão muito familiarizados com ela.

Eu desenhei as imagens para ele. Tinha Mr. Yonekawa ou eu. Tomiki posava para elas. Todos os dias depois do treino eu começava a desenhá-los . Quando alguém estava prestes a sair voando , eu dizia : “Pare! ” E que fazia mais um traço. Em um momento eu dizia: ” Espere só um segundo “, e compreendia mais do que estava acontecendo . Então, mais tarde , na minha casa, eu ia terminando os detalhes. Naturalmente, minha família sempre me perguntou: ” O que diabos você está fazendo? “, enquanto eu estava na frente de um espelho tentando o melhor quanto eu podia. recriar uma certa atitude ou aparência , para minha referência nos desenhos. (risos)

Edição: Sobre quando foi que este livro foi o primeiramente publicado?

budo-renshu-p17Comecei no início de 1933, e foi após cerca de um ano depois que tínhamos o livro, então eu suponho que teria sido em torno de 1934. Estas imagens foram realmente difíceis de fazer ! Eu tinha que fazer tudo duas vezes, você sabe. Mesmo assim eu sempre sentia que havia alguns problemas que ficaram. O segundo livro nunca foi impresso, mas … De qualquer forma , esta versão especial tem os primeiros desenhos.

Edição: Akazawa Sensei teve a gentileza de nos apresentar outro livro chamado ” Budo “, impresso em 1938, que contém fotografias em vez de desenhos .

Eu não estava envolvido nesse trabalho , mas tenho certeza que as fotos são melhores para a maioria das pessoas . Isso foi 1938 ? Vejam como foi o jovem Sr. Kisshomaru ( Ueshiba )!

Editor: Para que razões foi o ” Budo Renshu ” livro impresso em primeiro lugar?

No começo eu comecei a desenhar as imagens assim que eu me conseguia lembrar as técnicas. Embora em determinados dias , por exemplo, podia ter sido ensinado ikkajo e nikajo pelo tempo que eu estava fora do dojo ou eu mal conseguia me lembrar deles, assim eu ia assistir a outras pessoas e esboçar apenas o suficiente para que eu pudesse entender o que estava acontecendo. Então, um dia o dono de uma loja de doces na área de Yotsuya ( do centro de Tóquio ), um homem chamado Mr. Takamatsu, apareceu e disse: “Ei , você está fazendo uma coisa boa com essas ilustrações. Por que não elaborar um pacote delas para mim também? ” Eu respondi que essas imagens só tinham sido elaboradas a partir da memória e não eram algo para que outras pessoas vissem. Pelo que ele disse: ” Bem, então, eu vou encontrar alguém (um parceiro de treino ) e nós vamos posar para você.”

Isso é como tudo foi indo bem no começo . Enquanto estávamos trabalhando neles, Ueshiba Sensei olhou para eles e gentilmente nos deu sua aprovação pessoal. Depois disso, o projeto tornou-se mais e mais de uma tarefa formal e com  Sr. Yonekawa fazendo este ou aquele movimento. “Não é exatamente isso”, o-sensei gritava (risos). Por um tempo, no começo, eu quase não tinha mais que 10 minutos de treinamento em cada hora de aula, porque eu tinha que sentar-me, assistir de perto e tentar captar cada uma das formas em minha memória para uso posterior.

Edição: Você se lembra de quantas exemplares foram impressos?

Bem, essa é uma boa pergunta …. Eu não tinha nada a ver com essa parte. Talvez o Sr. Yonekawa seria o único a se perguntar sobre isso. De qualquer forma, foi dado apenas para aquelas pessoas que já dominavam o básico até um certo ponto. Sensei sempre nos lembrou que ” Se alguém que acaba de entrar no dojo tentar treinar com isto, vai ser ferido, por isso nunca deve mostrar isso para um novato.”

Editor : Quem escreveu as explicações que acompanham suas ilustrações?

Eu acho que um amigo do Mr.Takamatsu escreveu para nós. , em outros casos ( Ueshiba ) Sensei. Eu gostava de sentar-se junto ao Sensei que iria me mostrar se ” a mão direita deve ser assim “, ou dizer: ” Mais como este”, e , desta forma, construímos as ilustrações juntos.

Editor : Há um grande número de técnicas neste livro. Quanto tempo o trabalho tomou?

Eu não acho que ele nos tomu um ano . Houve momentos em que 0 -Sensei de repente dizia: ” Isso é o suficiente por hoje “, e nós simplesmente desistiamos. Nada seria feito se ele não tivesse vontade de trabalhar nele.

Takako Kunigoshi

Takako Kunigoshi Sensei - Abril de 1982
Takako Kunigoshi Sensei – Abril de 1982

Takako Kunigoshi entrou no Kobukan Dojo em 1933, pouco antes de sua formatura da Universidade Feminina de Belas Artes do Japão. Um dos poucos estudantes do sexo feminino no dojo, ela treinou a sério, e ganhou o pleno respeito tanto de Ueshiba Sensei, quanto dos uchideshi. Uma artista habilidosa, Kunigoshi fez as ilustrações técnicas para o livro de 1934,  Budo Renshu, que foi dado a alguns alunos, em vez de uma licença de ensino. Kunigoshi mais tarde treinou no dojo particular do Almirante Isamu Takeshita por vários anos, e ministrou cursos de auto-defesa para vários grupos de mulheres. Depois da guerra, Kunigoshi não retomou seu treinamento no aikido. Após sua aposentadoria na arte, ela ensinou a cerimônia do chá japonesa em sua casa em Ikebukuro, Tokyo, por muitos anos.

Segundo Stanley Pranin, ela era uma senhora encantadora, idosa, mas com um comportamento animado, e muito entusiasmada em recordar os dias de Morihei Ueshiba do Kobukan Dojo. Ela é a única grande figura feminina do aikido pré-guerra, que teve um papel de destaque na história da arte. Kunigoshi Sensei era muito respeitada por seus colegas do sexo masculino no Kobukan Dojo. Ela será para sempre lembrada pelas ilustrações que ela desenhou o Budo Renshu, livro que retrata as técnicas ensinadas no dojo na época, e que revelam uma forte influência do Daito-ryu Aikijujutsu de Sokaku Takeda.

AS MULHERES NO AIKIDO

Por Bete Romanzini*

Abaixo, reproduzimos um texto muito interessante de Bete Romanzini sobre a participação das mulheres no aikido. P texto foi enviado por um amigo a nós e pedimos a ela que pussemos reproduzi-lo. Ela não só nos autorizou esta reprodução como mandou uma atualização deste, que acrescenta uma visão alguns anos depois sobre o assunto, focando nas mudanças que ocorreram ao longo do tempo nos dojos segundo ela pode vivenciar. Agradecemos sua pronta resposta e sua amabilidade. Espero que seja enriquecedor a todos, especialmente nossas alunas, iniciantes, sempai e yudansha.

Alguns anos atrás escrevi um artigo sobre as mulheres no Aikido. Questionava porque poucas mulheres se interessavam por artes marciais. Sendo mulher, sempre pensei que atrairia mulheres para o treino. O que não aconteceu. Isso foi lá em 2002, nos primeiros momentos como instrutora de Aikido. Hoje, mais de 10 anos depois, a situação está muito diferente. Atualmente, o dojo está dividido igualmente entre homens e mulheres. Mudei eu? Mudaram as mulheres? Mudou o mundo? Provavelmente, mudaram todos esses fatores. A verdade é que as mulheres estão sendo maioria em quase todas as áreas, a não ser nas engenharias, me diz alguém. Anos atrás, as mulheres chegavam tímidas, e só as muito determinadas prosseguiam o treino. Agora, elas chegam mais seguras. Sabem o que querem, dominam a timidez, são humildes e educadas, inteligentes e aplicadas. E não tem medo de assumir o compromisso que o treino exige. As mulheres são extremamente confiáveis no tatame. E através dos anos de treino, se tornam mais seguras e eu diria, até mesmo, mais bonitas. Não, Aikido não embrutece nem o corpo nem a mente. Não, Aikido não é uma coreografia. Não, Aikido não é uma dancinha. Não, Aikido não é um exercício para os fracos. Aikido equilibra a energia, a masculina e a feminina, tonifica o corpo, higieniza a mente, cria empatia com os outros, organiza muito saudavelmente as emoções. Aikido desenvolve valores de honestidade e contentamento, que são valores positivos para os humanos. Aikido ensina a confiar em si mesmo e nesses valores, seja homem ou mulher. A origem das artes marciais foi a necessidade de defesa de uma sociedade, um vilarejo, de um grupo ou indivíduo fracos, que precisavam se defender contra os ataques de alguém mais forte, ou de algum invasor. Esse papel de defesa de si mesmo e dos seus, sempre foi dos homens, as mulheres permaneciam na retaguarda, cuidando das crias. Quando conheci o Aikido, um processo muito interessante de liberdade teve início. Tive a grande sorte de encontrar Kawai Sensei. Para ele, não havia diferença entre homem e mulher, ele respeitava a fisiologia de cada um, independente de sexo. Mas Kawai Sensei também não fazia nenhuma diferença de idade, condição social, cor da pele ou qualquer outra condição. Para ele, era possível que todos treinassem. Para entender e superar minha condição cultural de ter nascido no Sul, pois aqui os homens historicamente dominam a cena, foi muito importante viajar e conhecer o Aikido na Europa, por exemplo, onde as relações são mais igualitárias. Conviver em outros dojos, perceber as inúmeras possibilidades, independente de ser homem ou mulher, ajudou muito a estabelecer a confiança necessária para superar meus próprios preconceitos, além do preconceito alheio. Se você é mulher e aikidoista, já deve ter acontecido de, às vezes, treinando em seminários, encontrar má vontade explícita e aquele ar de condescendência do tipo: “agora vou ter de treinar com essa mulher”. São aqueles momentos onde uma técnica bem aplicada e um ataque forte e correto pode mudar um paradigma. Sim, porque ser uma boa praticante de arte marcial, para uma mulher, ainda é quebrar preconceitos do universo masculino. Acontece direto nesse pequeno dojo: homens fortes chegam para treinar, totalmente convictos em suas enraizadas opiniões sobre o que é “apropriado” para um homem e uma mulher, e se surpreendem muito com a pegada firme, a postura disciplinada, a técnica justa e eficiente das mulheres com quem, sinceramente, eles tem A SORTE de treinar. Sim, porque afirmo que é uma sorte encontrar oportunidades para se livrar de idéias preconcebidas e que não tem mais valor. Não estamos mais num mundo em que apenas os homens mandam, é quase certa a possibilidade de ter um chefe, sócio, colega, ou presidente da república, que é mulher. Com quem é preciso se harmonizar. Mais um ponto em que o treinamento do Aikido pode ajudar na vida fora do tatame. Idéia genial, o Aikido. Possível para todos. Homens, mulheres, crianças, fortes e fracos. Ter encontrado essas boas condições: a arte do Aikido, um sensei inteligente e lúcido, e a convivência com outras culturas, me trouxe estabilidade e a compreensão correta para seguir treinando, e eventualmente treinar outras pessoas. E continuo encontrando boas condições no mundo do Aikido. Encontrei sensei Luis Gentil faz alguns anos. Minha empatia com ele foi imediata. Os japoneses chamam isso de Kimoti. É alguém com quem dá vontade de estar e treinar junto. Demorou vários anos para que se estabelecesse a conexão que temos agora. Um pouco como os vinhos, que têm de ter um tempo de maturação, para ficarem realmente bons. E como os verdadeiros grandes senseis, sensei Luis não tem preconceitos de condição social, cultural, sexo, ou idade. Se alguém gosta de treinar Aikido e quer aprender, é bem-vindo junto dele. Boas condições! Acho que teremos de providenciar um vestiário maior no dojo para as mulheres. Que chegam suavemente, humildes, sinceras e firmes. Escrito em 12 de janeiro de 2005 As mulheres no Aikido Porque tão poucas mulheres treinam Aikido? Existe o fator cultural, que observo muito forte aqui na Serra Gaúcha: as mulheres esperam que ALGUÉM sempre vai lhes proteger dos problemas do mundo. Uma síndrome de dona de casa indefesa. Como se elas não precisassem saber se defender, como se não dirigissem à noite sozinhas, ou não tivessem que dar um chega pra lá em algum abusado. Em geral, as mulheres buscam atividades que lhes dê um corpo sarado, esquecendo que a verdadeira beleza é interna e vem da saúde não só física, mas mental. Daí ficam esses corpos malhados, e uma falta de brilho no olhar. Falando especificamente de dojos de Aikido, e de minha experiência em outros dojos, penso que grande parte da responsabilidade é dos próprios participantes do dojo. A maioria é homem. E quando o sensei do dojo tem idéias esquisitas sobre as mulheres, as coisas ficam muito piores. A historia é antiga. Mary Heiny Sensei, americana que treinou no Hombu Dojo com o fundador, nos anos 60, conta que no Japão, os homens não chamavam as mulheres para treinar. Um dia, o fundador entrou no meio de um treino, fez uma longa dissertação sobre a importância e a qualidade do Aikido das mulheres, e incentivou energicamente a todos para treinarem juntos, não importa se homem ou mulher. Todos ouviram, o fundador partiu, e tudo voltou como estava antes: homens treinando com homens e mulheres com mulheres. Não sei como é atualmente. Se o instrutor do dojo tem uma mente clara sobre esse ponto, o acesso das mulheres será facilitado. Vi isso acontecer com Kawai Shihan. Ele não faz nenhuma diferença psicológica entre os sexos. Fisicamente, sim, ele respeita as mulheres. Mas Kawai Shihan respeita as condições físicas de qualquer pessoa, seja homem ou mulher. Uma vez, lhe perguntei, durante um yudansha, se existiam diferenças entre homens e mulheres no Aikido. Ele foi simples e direto: nenhuma. Todos podem aprender e treinar Aikido. Presenciei muitos fatos nos dojos, envolvendo relacionamentos entre homens e mulheres. Aikido envolve contato físico, sentimentos e emoções. Reações são desencadeadas, e às vezes, mal trabalhadas pelos instrutores. O que causa sofrimento inútil para todos, mas principalmente para aquele lado que é o mais suscetível, aquele lado que projeta no instrutor(a) qualidades que ele(a) está longe de ter. Quando uma pessoa, homem ou mulher, inicia seu treinamento no Dojo, está entrando em um universo diferente, e muitas vezes trazendo um forte pedido de ajuda implícito. Vamos combinar que, se tudo vai muito bem na vida, ninguém se dá ao trabalho de procurar uma prática difícil como é o Aikido. Fica em casa, com a família, se divertindo, tomando vinho, etc… Muitos instrutores de Aikido são na maioria jovens, na faixa dos 25 aos 35 anos, homens, cheios de hormônios e com graduação alta, alguns dans. Muitas vezes, os dans não acompanham a maturidade emocional. Esses homens não sabem muito acerca de seus sentimentos, e só podem fazer o que está ao alcance deles. Isso significa olhar para as mulheres não como um instrutor, mas como um homem. E se um instrutor pensa assim, seus alunos pensam assim também. O clima é insustentável para uma mulher que queira simplesmente treinar, e não namorar ou paquerar. O dojo desse instrutor normalmente não vai ser muito limpo, os dogis são mal cheirosos e suados, o Aikido ali praticado é muito macho! Os homens costumam tirar o casaco do Dogi, no tatame mesmo, logo após o treino, e conversar assim, com os peitorais peludos à mostra. Cheira-se testosterona à quilômetros. Várias vezes ouvi, em alguns dojos onde treinei, comentários jocosos entre senseis, instrutores e alunos (homens, é claro), sobre determinada aluna, ou sobre as mulheres em geral. E esses mesmos instrutores freqüentemente reclamam da ausência feminina no dojo(!!!) E nunca formaram uma mulher faixa preta, apesar de ensinarem há muitos anos. Obviamente existe a responsabilidade de uma mulher saber o que quer, quando entra em um dojo. Se ela estiver consciente do que realmente procura, não vai ter maiores problemas do que fazer de conta que não ouve certas insinuações, mas nada que a impeça de treinar. E nada que não aconteça também nas ruas no dia a dia. É possível, sendo mulher, treinar e gostar de Aikido. E mais: é possível ensinar Aikido, sem misturar as coisas, não importa se homem ou mulher. Mas é preciso um trabalho constante de auto conhecimento para perceber as profundas questões éticas envolvidas num relacionamento onde existe uma ascendência de uma das partes. As relações que envolvem muitas projeções, como médico/paciente, aluno/professor, e cuja responsabilidade maior está sobre aquele que tem essa ascendência. Na maior parte das vezes, o que vi nos dojos, foram relacionamentos onde houve muito sofrimento, e geralmente a parte mais sensível aos danos vai embora com machucados psicológicos e mentais, e totalmente desencantada com o Aikido. Conversando sobre esse assunto com um sensei graduado, ele me diz que o instrutor deve cuidar para ter uma situação familiar estável, cercar-se de afetos entre os seus, e ter firmes princípios éticos de não envolvimento emocional desnecessário com alunos ou alunas. E tem o dojo do inesquecível e falecido Peter Bacas Sensei, da Holanda. Neste dojo, muitas mulheres com graduação alta. Enormes mulheres holandesas, esse povo de gigantes. Bonitas, com Aikido muito feminino e suave, e muito, muito forte. Um clima muito bacana de amizade. Sinto, durante os treinos, seja com crianças ou adultos, que quando há mulheres ou meninas no tatame, o clima se distende. Aumenta a cortesia e a educação. Sem prejuízos à marcialidade. Conheci mulheres no tatame mais marciais do que muitos homens, sem deixar de ser totalmente femininas. Porque Aikido equilibra a energia. Suaviza e fortalece ao mesmo tempo. No Brasil, em alguns dojos, existe um clima muito “macho”. Nestes dojos, as mulheres são olhadas com condescendência, podem realizar tarefas como fazer o chá, dobrar os hakamas, colocar florzinhas, organizar as festas e outras coisinhas, e gravitar em torno desses maravilhosos dans e seus super poderes de atração. Obviamente, concordo que, às vezes, acontecem no tatame relações maduras e que podem e devem ser aprofundadas também fora do tatame, mas é preciso saber muito bem o que se está fazendo, para evitar danos irreparáveis ao dojo, ao grupo, e a si mesmo. Quando falta ética, perdemos todos. O Aikido perde alunas e alunos e perde o sentido de um caminho tão bonito tanto para homens e mulheres ou meninos e meninas. E nós todos perdemos futuros(as) colegas com quem teríamos gostado de treinar.

* Bete Romanzini (3º dan), nascida em 1964, Iniciou Aikido em Porto Alegre. Graduou-se faixa preta em 2002, em São Paulo, com Kawai Shihan. Em Caxias do Sul, desde 2004. Graduou-se 2º dan em 2006. Graduação de 3º dan em setembro de 2011. Instrutora do Tensei Dojo.

 
Bete Romanzini Sensei

KAMAE e MAAI

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Kamae demonstrado por Kishomaru Ueshiba

Textos de Kishomaru Ueshiba Tradução: Rubens Caruso Jr.

KAMAE:
O Aikido não possui Kamae, sendo que isso não significa necessariamente que se possa assumir qualquer postura. O que deve ficar claro é que as posturas dentro do Aikido são consideradas naturais, ou seja, que proporcionam uma base direta para qualquer movimento que se queira executar. Esta postura natural é fundamentada, segundo o Falecido Doshu Kisshomaru Ueshiba, no conceito de Sankaku Tai (Forma Triangular).

Devemos lembrar de manter o corpo em uma postura de Hanmi(Meio Corpo). O peso deve estar bem distribuído, e a postura deve proporcionar liberdade para se executar qualquer movimento.

MAAI:

Pode-se relacionar este conceito a melhor distância para a execução de uma técnica específica. Esta distância é basicamente relativa ao espaço existente entre os praticantes, mas o conceito de Ma-ai é muito mais abrangente sendo que envolve tanto o posicionamento físico como o mental. Basicamente existem três formas de Ma-ai:

° Itto Issoku Ma-ai (Ma-ai Grande – Os praticantes estão separados por aproximadamente 33 Cm) Essa medida é aferida tomando-se as mãos mais a frente dos parceiros. Em caso de se estar segurando um Bokken a medida é feita pelas pontas.

° Toi Ma-ai (Ma-ai Médio – Os praticantes chegam a tocar as mãos) Esse Ma-ai é assumido com armas quando a Kissaki(ponta) dos Bokken se tocam.

° Chikama Ma-ai (Ma-ai Curto – Os praticantes chegam a cruzar os braços devido a distância curta entre ambos) Esse Ma-ai é assumido quando os Bokken dos parceiros se cruzam, aproximadamente um terço do Bokken.

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A aplicação correta do maai é de suma importancia para todas as artes marciais. Mormente para o aikido.

“Quando você está de frente para seu oponente e combate a distância, a distância ideal é aquela na qual você pode mover-se livremente. O movimento da mente, o fluxo do Ki, o espaço existente entre os dois oponentes e as direções de seus movimentos, estão intimamente relacionados com o Ma-ai.

Na prática do Aikido, se considera a distância correta quando as mãos dos praticantes chegam a tocar-se. Contudo, o Ma-ai correto variará segundo as posições relativas de ambos. Basicamente, existem duas combinações de posições possíveis. São: AI-HANMI ou Posição Obliqua Mútua, quando os dois estão em pé na mesma posição, seja na posição obliqua direita ou na posição obliqua esquerda, e GYAKU-HANMI, na qual um está de pé com o lado direito à frente e o outro está com o lado esquerdo.

Para se estabelecer um correto Ma-ai, devemos assumir e manter uma relação indiferente frente ao oponente. Aproveite-se do ambiente, tire proveito da luz do sol ou de uma janela, uma marca no solo ou outras circunstâncias, e atraia o adversário para dentro de seu Ma-ai. “

Viagens ao oriente

Texto de Claudia Sarmento, Publicado: 12/07/11 – O Globo.

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Lago no-Parque Midtown em Tóquio. Foto de Claudia Sarmento

O verão em Tóquio não é a época mais agradável do mundo – a umidade maltrata até cariocas mais do que acostumados a altas temperaturas – mas a cidade tem muitos parques que servem como “rota de fuga”, sem ser necessário deixar o centro da capital. Este ano, as áreas arborizadas são ainda mais fundamentais, já que o racionamento de energia obriga os japoneses a economizarem no ar-condicionado. Apesar da fama de selva de pedra, Tóquio tem mais de 70 parques e jardins, a maioria extremamente bem conservada. Os parques Yoyogi e Hibya, por exemplo, são imensos bolsões verdes em regiões movimentadas. O primeiro fica em Harajuku e o segundo,em Marunouchi. Alguns centros comerciais, como o Tokyo Midtown, também têm seus jardins escondidos e relativamente vazios, como o que cerca o lago da foto, e espécies raras de flores. Um item obrigatório no verão: a sombrinha. Pernas de fora e decotes excessivos não são a regra. Os japoneses, pelo contrário, se protegem bastante do sol com mangas compridas ou luvas e leggings pretas (ou meias 7/8 para as moças com menos de 30). Claro que chinelos acabam ganhando destaque no clima de descontração da estação, mas os saltinhos e os brilhos tão típicos de Tóquio resistem mesmo em dia de domingo no parque.  O site www.tokyo-park.or.jp/english tem informações sobre os parques da capital e sua localização.

Mapa do universo paralelo

Otaku é o nome usado no Japão para definir viciado em games, animes, mangás e tudo o que gira em torno desse universo paralelo. A Organização Nacional de Turismo sabe que muita gente vai a Tóquio por causa dessa cultura, que está se espalhando globalmente, e criou um serviço só para os “turistas otakus”. No site do órgão (www.jnto.go.jp) é possível baixar um mapa que lista todos os pontos de interesse, como o subúrbio de Koganei, cujas construções seculares serviram de inspiração para o premiado desenho animado “A viagem de Chihiro” (2001), ganhador de um Oscar e de um Urso de Ouroem Berlim. Entreno site e busque por “Japan anime map” para fazer download da lista de endereços.

Luzes em Hong Kong

Um dos programas mais populares entre os turistas de Hong Kong é a “Sinfonia das luzes”, um show diário de iluminação e som que envolve 44 edifícios da cidade. Todas as noite, às 20h, a paisagem urbana ganha cores novas, como se tivesse sido tomada por uma megaexplosão de fogos de artifício. O melhor lugar para ver o show é de dentro de uma das muitas balsas que cruzam o Victoria Harbour. Mas, quem preferir ficar em terra firme pode dar um passeio noturno pela Avenue of Stars, à beira-mar, para ver os arranha-céus mudarem de cor. A sinfonia é descrita pelo Guinness como o maior show permanente de luzes do mundo.

Luxo no Tibete

O St. Regis Lhasa Resort (www.stregis.com) enterra a ideia de que viagem ao Tibete é coisa só para gente com disposição para aventuras e pouco conforto. O hotel cinco estrelas, a3.600 metrosde altitude, é o primeiro spa da região e se propõe a oferecer luxo máximo sem destruir o clima de magia do “teto do mundo”. São 122 suítes e 28 vilas particulares, que podem chegar a254 metros quadrados. O lugar tem jardim para meditação, estúdio de ioga e pilates e três restaurantes com vista para o Himalaia. O prédio foi inspirado no Monastério de Sera, sagrado para os budistas. Obras de artistas locais e internacionais enfeitam o resort – mais um indício de como a China está investindo em turismo chique.